quarta-feira, 15 de maio de 2019

Adeus aos campos de pelada

Amigos, agora é oficial: não me chamem para a próxima pelada. Ok, sei que não jogo uma pelada séria há uns 15 anos. O motivo é um que não surpreenderá àqueles que me acompanham há mais de 30 anos: meus joelhos. Isso mesmo, não é apenas um, são os dois. 

Meu ortopedista olhou uma ressonância magnética e foi lúgubre e direto: “seus joelhos têm uns 65 anos, piores do que os meus que tenho essa idade”. Olhei para ele e não tive a tempo a ideia de pedir um atestado com essa declaração. De posse do documento, pleitearia algumas gratuidades por aí. 

O fato é que qualquer ilusão de que um dia voltaria a jogar uma pelada foi sepultada. Preciso confessar certa inveja do meu primo Paulo Cesar. Ele acaba de completar 71 anos, há pouco ficou alguns dias internado por causa de uma pneumonia e um refluxo. Já voltou às corridas na Lagoa e em breve voltará a correr atrás de uma bola com seus companheiros de pelada no Piraque. 

Guardo histórias gloriosas do tempo de peladeiro. Fui produto de uma insistência insana. Quando tinha uns 6, 7 anos comecei a jogar bola sozinho nas calçadas da rua Dona Mariana, em Botafogo. Jogava e narrava meus gols. Um dia meu amigo Luís Paulo Assis, dois anos mais velho do que eu, resolveu jogar bola comigo. Depois foi chegando mais gente. De 1978 a 1989, posso contar minha vida em peladas.  Com  o pessoal da Dona Mariana, com a galera do Joaquim Nabuco, com a turma de Botafogo e com os amigos da igreja presbiteriana. Foi muito suor, resenha e claro, desentendimentos. 

Em 1989, dois dias antes da eleição de Fernando Collor torci meu joelho direito. Aos 18 anos comecei meu “drama “de torcer o joelho de quando em vez. Uma lesão nos ligamentos cruzados que nunca operei se agrava desde então. 

Mas a juventude e a era da imortalidade fizeram com que tivesse momentos memoráveis correndo atrás da bola, mesmo com um dos joelhos em frangalhos. O gol de falta no campeonato da faculdade, os 10 gols em um jogo no clube Germânia, as peladas na casa do Kelvin... a perda do pênalti na semifinal do campeonato da ECO. A vida é feita de vitórias e derrotas. 

Em 1995 veio a torção no joelho direito. Daí em diante minha carreira como peladeiro entrou em declínio. Nunca mais tive a mesma eficiência. Depois disso ainda tentei jogar, mas era difícil, fui engordando e os joelhos cobrando o preço do peso em cima deles. 

Quando meu filho mais velho quase que compulsoriamente começou a jogar futebol, ainda ensaiei bater uma bola com ele, mas sem a eficiência de antes. Não fui o rei da quadra em meu auge, mas guardo com orgulho uma vez que jogávamos na casa do Kelvin e o primo dele, Rodrigo, fez um comentário. A gente estava jogando com uma bola de futebol de campo na quadra do prédio. Quando alguém chegou com a bola de futsal, o Rodrigo falou: “agora a pelada vai perder a graça, com a bola de futsal o Creso vai acabar com o jogo”. Ele exagerou, minha memória pode ter exagerado agora, mas gosto de me lembrar que foi assim. 

O fato é que do garoto que jogava sozinho as peladas na Dona Mariana, imaginando-se o Zico e com o Maracanã aos seus pés, ao quase cinquentão com joelho desgastado, muitas coisas se passaram. Bem, continuo imaginando gols, dribles e lances. A diferença é que não os narro mais. Pegaria mal um adulto falando sozinho emulando narradores e gritando gols que só existem na sua imaginação. Pensando bem, será que pegaria tão mal assim?

2 comentários:

  1. E o futebol no Cefet? 🤔
    Pode esperar pelos protestos da galera...

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  2. Melhor seguir com o jogo só na imaginação do que não jogar mais😉

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