A Rádio Globo vai ter uma nova programação a partir do dia 1º de julho. A direção vai fazer o anúncio nesta quarta-feira. Sendo assim, o dia 29 de maio entra para a história recente do rádio carioca. Em 2017 estreava o show do Antônio Carlos na Rádio Tupi. Depois de 31 anos na Rádio Globo, o programa líder de audiência no Rio foi parar na principal concorrente.
A “nova” Nova Rádio Globo vai ser uma ilha de esporte cercada por música de todos os lados. Na verdade, mudança de formato é um eufemismo para o que vai acontecer: a eutanásia de uma marca presente na vida dos brasileiros desde 1944.
É uma pena, mas a Radio Globo é um cadáver insepulto. E escrevo essa frase com um sabor muito amargo na boca. Na verdade, a mudança que se implementou em julho de 2017 foi a última tentativa de salvar um navio que se dirigia ao iceberg. No entanto, em vez de mudar a rota do leme, as ações aceleraram o motor e fizeram a embarcação atingir a pedra de gelo mais cedo.
Enquanto Antônio Carlos recebe cumprimentos pelos dois anos de liderança na Tupi, os comandantes da Globo se preparam para informar aos funcionários que o admirável mundo novo se revelou uma acachapante derrota. Emblemático!
Uma coisa que estava na origem do projeto e, que não se sustentou, foi a determinação de não haver notícias ruins na Rádio Globo. A prática e a realidade se impuseram.
A Rádio Globo poderia olhar para dentro e buscar soluções. As novelas mudaram radicalmente em 50 anos, mas não perderam a essência. Por isso, mesmo sem o peso de antes, permanecem como um grande produto de entretenimento e comercial da TV Globo. A Rádio Globo perdeu sua essência.
Provavelmente, a desculpa para a derrocada será a crise econômica do país e/ou o declínio do meio rádio. Não, a culpa é de gestão. São decisões erradas. Um dos erros foi ter mais pessoas em atividades meio, do que na atividade fim. Durante um tempo o departamento de marketing teve mais gente do que a produção. Isso foi pecado de morte.
Para comemorar os 70 anos da rádio, foi feito um lindo painel com os rostos de varias pessoas que construíram a Globo. Uma das primeiras atitudes da nova gestão foi literalmente despedaçar o painel, pois ele não saía inteiro da parede, e pintar o lugar desocupado de preto. Talvez, nenhuma decisão tenha sido tão emblemática quanto essa. Despedaçar a memória da rádio e passar uma tinta que deixasse impossível encontrar qualquer vestígio do que ocorrera ali.
O que faltou à Rádio Globo para dar certo? Mestres cervejeiros para dar sabor ao produto e mestres de obra para levantar as paredes. Não adianta a caixa bonita. Se dentro estiver vazio, o ouvinte abre a caixa, nada vê e joga fora.
A Rádio Globo precisava entender o que era. A emissora deveria ter feito uma substituição paulatina. Rejuvenescer dentro do seu modelo. Propor uma sucessão aos comunicadores que gostaria de substituir, como fez a própria emissora ao trocar Paulo Giovanni por Francisco Barbosa na década de 1980.
O que aconteceu na Rádio Globo foi algo corriqueiro na cabeça dos atuais gestores: “o trabalho que você faz, qualquer um pode fazer, difícil é fazer o meu”. E nesse raciocínio o mercado fica precarizado. Tenho muito pesar por causa das pessoas vocacionadas que foram para casa antes da hora. Antes que digam que estou escrevendo em causa própria, afirmo: não fui para casa. Acabei por me reinventar. No entanto, houve gente que não teve a mesma sorte. Minha solidariedade às pessoas que vão perder seus empregos. Não encarem a saída como um fracasso pessoal. Faça da demissão a oportunidade para trilhar outras estradas.
👏👏👏👏👏 Perfeito
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ExcluirObrigado, Mio
ExcluirLamentável, meu amigo, ver uma marca que se condundia com os principais ícones do Rio de Janeiro, ser manuseada por gente de tamanha incompetência e ignorância do veículo e do meio. Lástima...
ResponderExcluirLamentável, realmente.
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