quinta-feira, 2 de maio de 2019

O ciclista-mergulhador

Vou compartilhar uma história. Não é minha, mas diante do inusitado dela, resolvi escrever. Ela tem algum tempo, mais precisamente, aconteceu no fim do ano passado, mas é atemporal. É a história do ciclista-mergulhador. 

Claro, a segunda parte da alcunha não foi intencional. Ninguém são sai de casa para pedalar pensando no mergulho de bike e tudo. Ok, a sanidade anda em desuso em nossos dias, mesmo assim reitero que ele não queria se tornar um mergulhador. 

O ciclista mora no Humaitá. Jovem, em plena faixa etária em que a imortalidade faz parte dos seus ideais, ele foi dar um rolê de bike (estou tentando usar expressões mais modernas). No horário pouco usual e aconselhável das 3h da manhã, ele deixou a casa de um amigo em Ipanema e se dirigiu para a dele, como já foi mencionado, no Humaitá. 

Sagaz e imortal resolveu fazer o trajeto pela ciclovia da Lagoa Rodrigo de Freitas. O caminho não deve ter mais do que 4km. Em Amsterdã, talvez ele não tivesse problemas, mas por aqui, infelizmente, pedalar às 3h da manhã pode trazer alguns riscos. 

Logo após passar o clube de remo do Botafogo, ele percebeu que alguns assaltantes colocaram uma bicicleta atravessada na pista para impedir a passagem e levar a bike dele. No entanto, os bandidos agiram como se fossem integrantes da defesa do Flamengo e deixaram uma brecha para que nosso herói escapasse. 

Ele viu naquele pequeno espaço a chance de salvar sua velha amiga bicicleta. Ao ver que eles deixaram um pedaço da ciclovia livre ele pensou: “é por ali que eu vou”. Quando jogou a bicicleta no espaço vazio perdeu o equilíbrio e mergulhou na Lagoa. Um salto no escuro, sem que essa fosse a intenção, foi conhecer a “delicia” de um mergulho às 3h da manhã em águas fétidas e poluídas. O mergulho do ciclista assustou os bandidos que exclamaram em desespero: “o playboy morreu, vamos sair fora”. 

Molhado, com um machucado no joelho e a dignidade nas profundezas da Lagoa, o ciclista mergulhador colocou a bicicleta na ciclovia e tentou pegar uma carona. No entanto, ninguém parou para ajudar. Como ele tinha uma parente que morava por perto, foi até lá e ligou para a mãe, que o resgatou. 

O ciclista-mergulhador saiu praticamente ileso de sua aventura molhada. Ao ouvir a história me solidarizei com o susto da mãe que recebeu a ligação às três da manhã para resgatar o ciclista, que além de mergulhador, virou náufrago. 

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