sábado, 18 de maio de 2019

O que você diria ao você do seu passado?

A página em branco abre tantas possibilidades que às vezes a gente se perde por causa das infinitas opções. A página em branco agora propõe uma viagem ao tempo. Essa máquina do tempo é um espelho. Com um daqueles encantos que só as páginas em branco permitem, a imagem refletida é a sua, mas não a imagem de agora, e sim a de 30, 35 anos atrás. 

O espelho além do reflexo invertido se separa numa linha temporal. E nessa janela interdimensional é permitida uma conversa entre o você de agora e o você do passado. A proposta é que você conte a ele (você) coisas que no presente dele ajudarão ao seu presente. 

Não vale dizer os resultados da Mega-Sena da virada, nem nenhuma traspassa na sorte. Só vale dizer coisas que ajudem os dois, sem atrapalhar a vida de ninguém. Então, o que você diria?

A primeira coisa que eu diria era para que o cara do passado comesse melhor. Não havia a menor necessidade de comer dois “Big Macs” cada vez que ia ao McDonalds. Explicaria para ele que esse negócio de metabolismo é uma coisa muito séria e que quanto mais velho você fica, mais difícil é manter a forma. 

Acho que tiraria a camisa e mostraria a diferença entre nós. Se isso não fosse um choque de realidade, não sei mais o que poderia ser. Conhecendo bem meu interlocutor, não contaria a ele o que aconteceu com Cazuza, Renato Russo e Ayrton Senna. A surpresa nas perdas de ídolos costuma ser pedagógica emocionalmente falando. 

Diria para ele cuidar dos joelhos e andar de bicicleta o máximo possível. Assim, quando o trânsito da cidade desse um nó, não haveria sofrimento. Alertaria a ele que alguns anos mais tarde, quando Michael Jackson fizesse um show no Brasil, não perdesse de jeito nenhum, pois não teria outra chance de ver. 

Aconselharia ao meu “eu” adolescente a falar mais baixo. brigar apenas pelo que fosse inevitável. Explicaria a ele que nunca perdesse a oportunidade de dizer que amava alguém. Ao mesmo tempo, que avaliasse e, se possível, evitasse dizer que não gostava de uma pessoa. 

Ensinaria que pela vida a gente entende que  não há problema de sorrir com muitas pessoas, mas que para chorar ao lado, só com aqueles que são especiais e que você confia como se fosse um irmão. 

Mostraria que a vida se divide entre as pessoas que você pode entrar numa sala e ficar seguro que não será apunhalado e outras em que sempre é bom se encostar na parede. E mesmo assim, não evitar a convivência com estes, pois o mundo é uma mistura danada e que por isso, não adianta entrar numa bolha. 

Diria, por fim, que o caminho nunca acaba. Que  ele (eu) não pense na chegada, pense no percurso. Pediria que ele bebesse muita água e que usasse sapatos que prevenissem problemas nas articulações das pernas em 30 anos. 

Ah, mais uma coisinha, sei que já escrevi “por fim”, mas realmente preciso acrescentar algo. Eu mostraria o celular e a foto da família que ele teria. E que apesar das minhas observações, ele tinha feito um bom trabalho. Imperfeito, como tudo na vida.






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