segunda-feira, 13 de maio de 2019

Força, Sidão

A escolha do craque da jogo pelo público nos jogos transmitidos pela  Rede Globo faz parte de uma estratégia para aumentar a interatividade nas transmissões. No entanto, é uma interatividade vazia. Na tentativa de terceirizar uma escolha que deveria ser feita tecnicamente pelos analistas pagos pela emissora, adota-se uma ação demagógica para que o público participe. E o público pode ser solidário ou perverso. E na interatividade vazia que foi proposta, parece que não havia “plano B” para o caso da audiência preferir a perversidade ao mérito. 

Rodrygo, craque tipo exportação que já vai para o Real Madrid, fez uma grande partida. No entanto, os internautas decidiram pelo bullying virtual contra Sidão no jogo entre Santos e Vasco. Insensivelmente, a emissora decidiu corroborar a agressão virtual ao goleiro. 

De acordo com o site UOL, Luiz Roberto, Casagrande e Roger foram contra a entrega. Não esperava outra atitude dos três, pessoas que vivem o futebol, diferentemente dos executivos que bolam essas coisas “jeniais”, mas desconhecem a realidade da bola. 

Sidão teve uma passagem boa pelo Botafogo, mas não tem uma carreira de grande destaque. Teve um dia terrível tecnicamente contra o Santos. Isso acontece, qualquer um de nós em nossos campos profissionais pode ter um dia ruim. Nossa autocrítica já nos condena. Imaginem agora, milhões de pessoas promovendo esse massacre virtual. Para piorar, o goleiro teve uma depressão e pensou em suicídio por ocasião da morte da mãe. Diante desse histórico, é fácil imaginar o turbilhão em que se encontrava a cabeça do jogador na saída de campo. A TV Globo, ao dar o prêmio, foi desumana. 

Diante da péssima repercussão nas redes após a partida, a TV usou o quadro Gols do Fantástico para se desculpar. A emenda ficou tão ruim quanto o soneto. A matéria sobre o jogo fez varias brincadeiras com Sidão. No quadro, quando o goleiro faz alguma defesa improvável o apresentador usa a expressão “como um gato”. A reportagem brincou com as boas defesas de Sidão e com as falhas. A piada só é boa se todo mundo acha graça. Logo, a edição foi uma péssima piada. No fim, a Globo se explicou e admitiu mudanças na mecânica da escolha do craque do jogo. Para piorar mais um pouco a situação, a emissora usou o cavalinho do Vasco para lembrar a Tadeu Schimidt que ainda faltava pedir desculpas ao Vasco, ao Sidão e à torcida. 

A emissora tentou imprimir uma leveza ao episódio que não havia. Foi um desrespeito a uma pessoa em rede nacional. A internet é uma massa disforme e incontrolável. Episódios como o do goleiro Sidão só mostram o quão despreparados ainda estão os grandes veículos de comunicação sobre o uso da web. A Rede Globo cada vez mais trata o futebol como entretenimento e menos como jornalismo. Na hora da escolha do craque e dos pedidos de desculpa usou mais entretenimento, quando na verdade, deveria ter apelado ao DNA da empresa, o jornalismo. Às vezes dizer erramos e pedir desculpas é mais simples e eficaz. 

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