segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Rema, remador


Duas pessoas remam na Lagoa. O caos da cidade parece não atingi-los. É primavera no Rio, está sol. Mesmo assim é um sol menos inclemente do que o de janeiro. Só tive a experiência de remar na Lagoa uma vez, há uns 30 anos e de fato, não me lembro da sensação. 

Em 2016, graças ao meu amigo-irmão Márcio Santos, tive uma experiência de 4 meses remando canoa havaiana. Foi sensacional. Existe uma paz indescritível no meio do mar, a cidade parece estar escondida no horizonte. Uma das coisas boas de remar é o campo visual. Você se insere na paisagem que todos normalmente estão vendo. Logo, ao remar você vira paisagem na melhor acepção do termo. 

Fora o culto narcísico, remar também ensina a importância da sincronicidade. Todos devem remar no mesmo ritmo, as pás devem cravar na água simultaneamente. Se o mais forte remar mais rápido, ele trava a canoa. Ou seja, a precisão vem antes da força. Entender o ritmo do outro é mais importante que embarcar numa viagem individual. 

Remar acaba sendo um grande exercício de empatia e compreensão. É a tradução fundamental do termo “estamos no mesmo barco”.  Outro aspecto fundamental é a divisão de tarefas.  Tem os que dão o ritmo, tem os que são o motor e aquele que dá a direção, que faz o leme da canoa. 

O leme fica atrás, então todos que estão remando devem confiar em alguém que eles não estão vendo, mas que os guiará de volta à terra. Empatia, cooperação e confiança é o que remar me ensinou. 

Logo os dois dessa foto, que estão no meio da Lagoa vão reproduzindo todas as etapas que descrevi acima. Perdi o contato visual com eles enquanto escrevia esse texto. Talvez essa seja a prova de uma remada eficiente que possibilita a volta ao cais. 

É bom pensar que na vida a gente tem que exercer todas as funções da remada, mesmo que você se sinta confortável fazendo força e sendo motor, haverá situações que você vai determinar o ritmo, ou seguir, conduzir ou ser conduzido. Importante é não deixar a canoa virar. Pois como diz a marchinha, “se a canoa não virar, eu chego lá”. Enquanto a gente não chega, que a aventura de navegar seja a mais afetiva possível.