terça-feira, 25 de junho de 2019

Nem motel escapa de Crivella

Marcelo Crivella deve salvar o pescoço político na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. O prefeito precisava do voto de 18 dos 51 vereadores, mas segundo reportagem do Jornal O Globo, deve conseguir metade da casa. 

Quando começou o processo, o prefeito só tinha 14 votos dos 18 necessários. É muito importante descobrir qual foi o espírito cívico que modificou a decisão de pelo menos 10 vereadores. O que o prefeito fez para que eles passassem a apoiá-lo é uma boa pauta investigativa. 

Certamente não foi fazer conservação nas ruas da cidade. Os buracos já viraram crateras. Andar de carro, moto ou bicicleta no Rio virou rali. Em alguns trechos, o condutor precisa escolher entre o buraco maior ou o menor. 

Enquanto o prefeito tenta salvar seu mandato no Palácio Pedro Ernesto, a Avenida Niemeyer permanece fechada. E moradores e comerciantes da região sofrem com a interdição. A vítima da vez foi o Motel Vip’s. 

Encontros românticos com a bênção de um dos visuais mais bonitos do Rio viraram coisa do passado. Os donos não aguentaram os seguidos fechamentos da Avenida Niemeyer. 

Os “órfãos” do Vip’s postaram nas redes sociais “quem foi, foi, quem não foi, nunca mais”. Ainda bem que não usaram o Instagram para postar reminiscências. Aliás, uma boa ideia seria que os donos do motel fizessem um livro de memórias com as festas ocorridas no local. O problema seria manter oculta a identidade dos participantes. Em caso de vazamentos de nomes, talvez a tradicional família carioca não resistisse. 

A incompetência da Prefeitura afetou até os profanos direitos à saliência. A cada rua esburacada, placa caída, canteiro mal conservado, posto de saúde lotado e equipamentos olímpicos abandonados lembramos da falta que faz ter um prefeito. 

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Um churrasco de memórias



Um dia saí pela porta da Escola Municipal Joaquim Nabuco e fui estudar no Colégio-Curso Tamandaré. Saí do ambiente em que me criara da primeira à sétima série. Fui traçar outros destinos. 

Ainda mantive contato com alguns dos amigos da época por um tempo, mas depois nossos caminhos seguiram por várias direções. Eu fui pro Tamandaré,  Cefet e faculdade, enfim, perdi o contato. 

Esporadicamente ainda via um ou outro acidentalmente. Mas eles pareciam rostos na memória. Pessoas muito presentes numa parte importante da minha vida, de quem não tive mais notícias. 

A vida é assim, quando você se distrai deixa a rotina lhe afastar dos amigos. No entanto, a tecnologia, elemento que tenho muitas restrições, permite as reaproximações. O WhatsApp, que separou famílias e que é responsável por espalhar mentiras, tem seu lado bom. Então, pude ao menos saber por onde andavam os meus velhos amigos. 

E aí foi marcado um churrasco. Claro, as 300 mil obrigações eram motivos suficientes para não confirmar presença. Mas dessa vez eu joguei a agenda para cima. Adiei correção de trabalhos e elaboração de artigo acadêmico. Ia encontrar a galera da antiga, os veteranos do Nabuco. 

Quando os deixei nas esquinas da vida, mal tinha barba. Voltei casado, pai de dois filhos e com um stent no peito. Em mais de 30 anos, todos envelheceram. No entanto, os cientistas deveriam encontrar a resposta para a eternidade do brilho no olhar. Os olhares e sorrisos continuam os mesmos. Reconheceria-os em qualquer lugar. 

E foi um mergulho no túnel do tempo. Começamos a lembrar das zoações, travessuras e encrencas. A memória dos apelidos, das passagens constrangedoras  e até daqueles que não chegaram aos nossos dias. 

Pezão, Cadinho, Dudu e Batatinha formavam um time de respeito na década de 1980.  Agora estavam no esquadrão da cerveja e da carne. 

E de vez em quando passava uma criança correndo, a filha do Bisa, por exemplo, é um pouco mais velha do que a idade que nós tínhamos quando nos conhecemos. O mascote era o Bento, filho do Carlos Augusto, que ainda não tem um ano, mas já estava na farra. Susto eu tomei ao conhecer o neto do Giovane. E o Gustavo também já tem neto. Ou seja, os “garotos” já eram avós. 

E como disse o vovô Gustavo, tinha gente que não se encontrava há mais de 20 anos, mas as risadas e a cumplicidade foram tantas, que o tempo parece ter ficado congelado. E a gente concluiu que o tempo afetivo é diferente do tempo cronológico. E o que no calendário marcava anos, em nossos corações foi coisa de dias. 

Mas como o tempo cronológico insiste em se fazer presente, a partir de um determinado momento quem assumiu a churrasqueira foi o filho do Giovane, que serviu carne aos coroas que por uma tarde se faziam crianças. No intervalo da viagem ao passado, cada um lembrava de suas preocupações  que são artrose, pressão alta, calvície e vista cansada. 

Obrigado amigos. 

domingo, 23 de junho de 2019

Os gays mal resolvidos das tramas de Walcyr Carrasco

Walcyr Carrasco vai novamente colocar a homossexualidade como um problema em suas novelas. Desta vez, a orientação sexual do personagem Agno, de Malvino Salvador, pode ser usada contra ele num tribunal. 

O personagem vai se separar de Lyris, interpretada por Déborah Evelyn. E para se munir em um processo litigioso, a mulher contrata um advogado que descobre que Agno sai com garotos de programa. 

Agno leva uma vida dupla e quer dar um golpe na mulher. É o terceiro personagem gay que o autor constrói para que tenha uma função pérfida em suas tramas. Foi assim com Félix, em Amor à Vida, Samuel, em O Outro Lado do Paraíso e agora Agno. Além de pérfidos, os três têm a homossexualidade como questão mal resolvida. 

A Félix e Samuel, o autor ofereceu a redenção por meio do humor. As frases irônicas do personagem de Matheus Solano viraram memes na internet. Eriberto Leão também será conhecido como o tigrão que virou tigresa. 

Agno é um empresário inescrupuloso, que quer armar pra tirar o dinheiro da mulher e vai se aliar à vilã da trama, mas a questão principal será a moralista, o fato de que ele sai com garotos de programa. 

Num momento, digamos, esquisito do país, judicializar a orientação sexual gay de um personagem no programa de maior audiência da TV aberta pode reforçar preconceitos e mandar recados errados. 

Sair ou não com garotos de programa, ser ou não gay é uma questão privada. Deve ser resolvida pelo casal. Óbvio que não serei inocente de dizer que a trama de Agno e Lyris é irreal, obviamente, há casais iguais fora das telas. No entanto, há uma pedagogia social que uma obra como a novela tem que levar em conta. 

João Emanuel Carneiro foi pedagógico aos mostrar a ascensão da classe C em Avenida Brasil. Quando criou Monalisa, de Heloísa Perissé, fez uma empresária forte, que saiu de baixo. Existem pessoas com a mesma origem da personagem que para vencer na vida sonegaram impostos e deram pequenos golpe? Claro, mas para que ressaltar essas características? 

Em A Força do Querer, Gloria Perez construiu para Paola Oliveira a policial e lutadora de MMA Geiza. A autora colocou nela as características sempre reservadas a um personagem masculino. O  objetivo foi mostrar que as mulheres podem exercer esse papel. Esses dois exemplos explicam o que chamei de pedagogia social da novela. 

Quando num dia, cada vez mais distante, a pessoa não for julgada pelo fato de ser heterossexual, homossexual, bissexual, transexual e toda a plêiade de orientações possíveis, não haverá problema em elaborar uma trama como a de Agno. Nos tempos atuais, Walcyr Carrasco está novamente prestando um desserviço social ao associar vilania e orientação sexual. 


sábado, 22 de junho de 2019

A triste coincidência na morte de Thalles

A morte de Thalles neste sábado engrossa uma estatística cruel com jogadores que vestiram a camisa do Vasco: morrer em acidentes de trânsito. Lembro que a primeira morte a me chocar foi a do zagueiro uruguaio Daniel González. Ele fez parte do elenco do Vasco entre 83 e 84. Em 1985, quando voltava de uma festa na casa do atacante Claudio Adão, perdeu o controle do carro e morreu. 

Em 1994, o brilhante Dener sofreu um acidente na Avenida Borges de Medeiros, bem perto do Clube Piraquê. O camisa 10 vascaíno dormia no banco do carona. O amigo que dirigia seu Mitsubishi perdeu o controle, Dener foi enforcado pelo cinto de segurança que estava na altura do pescoço porque o banco estava reclinado. 

Em 1995 foi a vez de Dirceu, ou Dirceuzinho, craque de três copas. Melhor jogador da Italia na temporada 85-86. Aos 43 anos já havia abandonado a carreira. Teve o carro que dirigia atingido por outro que irresponsavelmente participava de um “racha”. 

Em 2001, o lateral direito Clébson, integrante do time que conquistou de forma heróica a Copa Mercosul de 2000, morreu num acidente de carro no interior da Bahia, na cidade de Serrinha. E como me alertou o amigo Fred Soares, o lateral morreu em 22 de junho, como Thalles. 

E neste sábado a tragédia encontrou Thalles. Um jogador talentoso que não soube administrar sua carreira. Mesmo assim, fez 36 gols pelo time principal. Que o jovem atacante descanse em paz. 

Não há semelhanças na trajetória futebolística de nenhum dos cinco citados, apenas a trágica coincidência de terem atuado pelo Vasco e terem perdido a vida em acidentes de trânsito. Todos colhidos quando poderiam dar muito mais à vida e aos que os amavam. 

O trânsito é perigoso e depende de uma conscientização de todos que dirigem para que a insegurança diminua. Flexibilizar as leis ou afrouxar a fiscalização e o limite de pontos na carteira em nada ajuda nas estatísticas de acidentes fatais. 



sexta-feira, 21 de junho de 2019

Flordelis e os ídolos com pés de barro

Há um desmoronamento do ministério da pastora Flordelis. O assassinato de seu marido, o também pastor Anderson do Carmo, pode levar a uma trama que envolve alguns dos 55 filhos do casal. Flordelis ganhou notoriedade ao se tornar tema de um filme em 2009 que contava sua história. O filme era Flordelis - Basta uma palavra para mudar. Na obra ela contava sua história de luta para resgatar menores que eram recrutados se pelo tráfico. 

Flordelis tem uma igreja e uma carreira de sucesso como cantora gospel, isso alavancou sua campanha na última eleição e ela chegou à Câmara dos Deputados com quase 200 mil votos. 

De fenômeno eleitoral ao assassinato de Anderson do Carmo, a vida de Flordelis virou de cabeça para baixo. As últimas informações são devastadoras. De acordo com um dos filhos, a pastora teria envolvimento na execução do marido. Este filho ouvido pela polícia teria dito que foi teatro a reação entristecida de Flordelis no sepultamento. 

Que a polícia investigue e descubra o que realmente ocorreu para que a pastora não seja condenada injustamente ou se safe de um crime em que se envolveu. Uma coisa porém é certa, não havia harmonia e perfeição na família construída por Flordelis. 

A adoção de 51 filhos me desperta sentimentos conflitantes. Ao mesmo tempo que parece ser uma atitude de bondade, os dividendos políticos e comerciais que trouxeram para a parlamentar sempre me colocaram uma pulga atrás da orelha. 

Ao participar do Manhã Paradiso, com Roberto Canazio, ouvi da Heloisa Paladino a história de um outro casal que adotou vários menores numa iniciativa parecida com a de Flordelis, mas nesse caso, os dois evitaram sempre  a notoriedade. Posso estar enganado, aliás, torço para estar enganado, mas nunca acreditei muito na história de Flordelis. 

Ao avaliarmos as informações obtidas até agora do assassinato de Anderson do Carmo, a família amorosa parece “não ser proveito, ser pura fama”, parafraseando Caetano Veloso. Um dos grandes problemas é o gosto amargo que o caso coloca na boca das pessoas de boa-fé que compraram o projeto Flordelis. A mulher batalhadora, vencedora e com o coração enorme. Até que o assassinato seja esclarecido, as pessoas vão ficar com a sombra do engodo a nublar seus julgamentos. 

Ao permitir que as pessoas nos coloquem em pedestais heróicos, tiramos do nosso caminho a possibilidade de falhar. Heróis são humanos alçados ao papel de deuses. No entanto, enquanto humanos, são falíveis. Professar religião A ou B não faz do ser humano um santo. Flordelis parece seguir o caminho para se tornar um ídolo com pés de barro. Até quando continuaremos a acreditar em heróiis?



segunda-feira, 17 de junho de 2019

Alcione, a diva Marrom

Alcione e Nana Caymmi talvez sejam as últimas representantes da era das divas da MPB. Esse clube já contou com Angela Maria, Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso e Maysa. Elis Regina, Maria Betânia e Gal Costa se encaixam em outro estilo. Divas requerem vestidos longos e nada discretos, cabelos armados, originalidade e muita potência vocal. Divas são kitches, não são bregas, favor não confundir. Divas são a tradução musical de um filme de Almodóvar. 

A “Marrom” (ela só se refere a si mesma assim) tem tanto carisma, que ele transborda do palco. Na temporada que terminou neste domingo no confortável Imperator, isso ficou bem explícito. Na verdade, seria mais correto chamar o evento de Talk Show da Alcione. Ela conversou com o público após todas as músicas. Isso mesmo, ela não emendava as canções e o público fiel morria de rir, interagia e urrava de felicidade. 

Aos 71 anos, Alcione mostrava sinais de cansaço. Uma temporada bem sucedida, com ingressos esgotados em todos os dias. E olha, são 750 lugares, não é uma casa pequena. Logo na primeira fila, tinha uma fã mais exaltada que interrompia a cantora. Sem se estressar, a Marrom deu uma descompostura na mulher e a fã sossegou.. Alcione não perdeu a viagem: “quem vai fazer o show, eu ou você”? A moça ficou quieta e Alcione continuou “divando”. 

A cantora levou a apresentação por causa do seu carisma. Um dos recursos usados pela diva foi passar a bola para o público em alguns trechos das canções. Um assistente levou água e café para a cantora algumas vezes para que ela aguentasse o desgaste. 

Só sendo diva, com anos de majestade, para driblar uma rouquidão normal em fim de temporada. Alcione homenageou Jamelão, Clara Nunes e Beth Carvalho. Contou inúmeros “causos”. Chamou a sobrinha para dividir o palco, mas o ponto alto foi quando cantou seus grandes sucessos. O público entoou junto em delírio os versos de Minha Estranha Loucura e Meu Ébano. 




Vou torcer para que Alcione realize um desejo que revelou na apresentação: gravar um disco só com músicas de Benito di Paula. Um aperitivo foi a interpretação da clássica Retalhos de Cetim. 

Alcione é daquelas artistas que já fazem o que querem no palco. Se dá ao luxo de não dar bis e nem por isso ser chamada de arrogante. O que ela faz com o seu público é uma experiência afetiva. Não há o distanciamento de outros grandes nomes da música brasileira. Não é um recital em que a estrela demonstra seu virtuosismo vocal. A Marrom é virtuosa musicalmente, mas o que vale é a interação emocional dela com a plateia. 

No meio do show lembrei do grande Loureiro Neto. Alcione era ouvinte dele e algumas vezes ligava para o estúdio e dava sua opinião sobre o tema que estava no ar. Alcione é uma diva “gente como a gente”. Tão “gente como a gente” que chegou a falar sobre o seu tratamento dentário ao agradecer a equipe que a atendera. Em setembro a cantora volta a se apresentar no Rio. Se você não assistiu, não deixe passar a oportunidade, é imperdível

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Juiz que adianta sentença

Meu velho e bom amigo Cristian Barcelos contou uma história que parece uma piada de mau gosto, mas pode ilustrar um pouco do que vai na alma dos juízes brasileiros. Cristian é defensor público e atua em Nova Friburgo. Para quem não é afeito ao mundo jurídico, ele faz um resumo dos ritos no tribunal:

-O processo criminal começa com uma denúncia. Aí o réu é citado para fazer a defesa dele. Depois dessa defesa o juiz recebe a denúncia, marca uma audiência em que são escutadas as testemunhas de acusação em seguida as testemunhas de defesa, depois o réu. Depois disso, são feitas as alegações finais. O Ministério Público faz o resumo dele do processo, a defesa fala em seguida e depois o juiz dá a sentença. 

Em algumas oportunidades o juiz leva o processo para o gabinete e delibera, em outras, ele elabora o veredicto na própria sala de audiência. Cristian explicou que numa oportunidade o procedimento foi diferente: 

-Já tínhamos ouvido todo mundo, o MP fez as alegações dele e eu estava fazendo as minhas. Quando eu estava na metade, percebi que o juiz não prestava atenção no que eu falava. E mais do que isso, ele estava digitando alguma coisa. Como o que eu estava falando não ia ser tomado por termo (não iria constar no registro da audiência) perguntei: "Excelência, o que o senhor está fazendo”? Ele respondeu: “estou adiantando a sentença “. E continuei “o senhor está dando a sentença antes de eu terminar de fazer minhas alegações”. Aí ele ficou muito sem graça, justificou dizendo que era um juiz novo e que tinha que fazer um relatório muito elaborado, mas que ele não estava dando a decisão ali na hora. Infelizmente, não vou dizer a maioria, mas grande parte dos juízes da área criminal, quando o processo começa, faz uma busca por provas e documentos que justifiquem a decisão que ele já tomou. 

Nova Friburgo é uma cidade na Região Serrana do Rio de Janeiro. Distante 136 km da capital, é terra de Benito di Paula e do meu grande amigo Giovanni Faria. A história ocorrida no município pode ilustrar o que ocorre por algumas varas no país. 

Viajando-se 945 km, chega-se a Curitiba, capital paranaense, mas acima de tudo, capital da Lava-Jato. A República de Curitiba foi abalada nesta semana pelas revelações contidas na reportagem do site The Intercept. As conversas pouco republicanas de Sergio Moro com os procuradores explicitam a atuação político-partidária do grupo. 

Mais que juiz, Sérgio Moro se assemelhou a um maestro, reclamando até do ritmo que as investigações seguiam. A reportagem, no mínimo, levanta a suspeita de que a partir do momento que sentou na sala de audiências da Justiça Federal do Paraná, Lula estava condenado. Juiz e procuradores queriam retirá-lo da disputa presidencial. E mais, não era necessário só prendê-lo, era preciso calá-lo. Os procuradores tinham medo que uma entrevista do ex-presidente antes da votação elegesse Haddad. 

Especialistas dizem que as mensagens de Moro com os procuradores não podem ser usadas juridicamente. No entanto, o ministro da Justiça vai ficando sem condições políticas de permanecer no cargo. Conhecendo  o fim da história, Bolsonaro eleito e Moro no Ministério dele, só fica mais antiética a participação do ex-juiz na Lava-Jato. Sérgio Moro pedala em cima da inteligência da população. A permanência dele no primeiro escalão faz parte do cinismo típico dos novos tempos em Brasília. 

domingo, 9 de junho de 2019

Errei e é necessário falar sobre isso

Eu sempre uso a mesma história quando quero falar sobre a importância de lidar com os erros. Em outra vida, quando trabalhei como produtor musical, ouvi uma frase da cantora Nana Caymmi. Toda cantora desafina, mas é necessário desafinar com classe. 

Esse texto é para falar de uma desafinada. Na verdade, foi um erro referente ao último texto que escrevi. Eu defendi Mauro Naves no episódio de seu afastamento após o caso Neymar. No entanto, lendo o Blog do Juca, do jornalista Juca Kfouri, uma das minhas referências jornalísticas, vi que estava errado. 

Juca reproduziu este texto https://blogdopaulinho.com.br/2019/06/09/mauro-naves-e-socio-de-advogado-que-traiu-suposta-vitima-de-neymar/e pediu desculpas por ter defendido o jornalista da Globo antes de conhecer todos os fatos referentes ao episódio. 

A matéria mostra que o primeiro advogado da modelo que acusa Neymar de estupro é sócio de Neymar num restaurante. O próprio Mauro seria sócio da mesma franquia. 

Essa informação coincide com a informação que começava a circular que Mauro Naves agiria para abafar o caso.Se o primeiros advogado da modelo seria sócio de Neymar não precisaria da intermediação de Naves para conseguir um telefone. Ainda acho que a TV Globo deveria ter sido mais discreta ao afastar o jornalista, mas agiu corretamente ao puni-lo. 

É importante que o caso de Mauro Naves sirva de exemplo dos perigos entre as relações próximas de fontes e jornalistas. O fato é que a atitude do veterano repórter não foi profissional. Tentou impedir a divulgação de um caso grave por ter relações pouco ortodoxas com o entorno de Neymar. 

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Afastamento de repórter por causa do caso Neymar parece linchamento público


Mauro Naves não é bandido. Mauro Naves não extorquiu dinheiro de ninguém. Mauro Naves passou o telefone de uma fonte a uma pessoa querendo garantir a exclusividade de uma história jornalisticamente relevante. Com os dados que se tem até o momento, o veterano jornalista não deveria ter sido tratado como foi pela empresa a qual durante anos prestou serviços. Naves foi mais uma vítima nessa encrenca danada em que se meteu Neymar após as denúncias de uma modelo de que o jogador a teria estuprado. Por uma questão de escolha, não registrarei o nome da suposta vítima. Quem quiser saber procure outra fonte, se bem que depois que Neymar Pai (com maiúsculo de propósito) revelou o nome dela, dificilmente quem está lendo esse texto não saiba a identidade.  

Voltando ao repórter afastado pela TV Globo; a nota do JN lida pelo âncora de maior credibilidade da casa se assemelhou a uma sentença sumária de culpa. Ao jogar sobre os ombros de Mauro Naves uma conduta duvidosa, a TV Globo abriu possibilidade para que o repórter sofra um linchamento público. A empresa lavou roupa suja em rede nacional. A justificativa oficial é uma satisfação à opinião pública, mas na verdade, parece uma satisfação ao staff de Neymar. É bom lembrar que na Copa do Mundo de 2014, a emissora e a problemática estrela tinham um contrato que garantia exclusividade em entrevistas. Essa, sim, parece ser uma atitude eticamente questionável do ponto de vista jornalístico.
Qual foi o grande pecado de Mauro Naves? Talvez não ter explicado aos chefes que estava tentando uma reportagem exclusiva e explosiva. A punição ao repórter pode ter passado por uma lei do mundo corporativo: “chefes odeiam surpresas”. Mas a dúvida que sempre vai pairar no ar é aquela: se não fosse Neymar o personagem principal, Naves seria afastado? E como a partícula condicional da frase nunca será retirada, a resposta não será conhecida.

A verdade é que as aventuras sexuais de Neymar na França produziram vários estragos. Para o jogador, para Mauro Naves e principalmente para a modelo que diz ter sido estuprada. A mulher deu uma entrevista ao jornalista Roberto Cabrini e de forma altiva e serena explicou que queria fazer sexo com Neymar, que foi a Paris para isso. Em alguns momentos Cabrini  parecia um advogado de acusação, no entanto, a modelo não perdeu a calma nem quando o repórter do SBT a interpelou com o montante de suas dívidas. A história da suposta vítima é plausível. Ela foi até Paris e ao encontrar o jogador exaltado, violento e sem preservativo não quis prosseguir.

Até que surja algo novo, será sempre a palavra dela contra a palavra dele. E, honestamente, Neymar pode inclusive achar que nada fez. Mas faz parte da chamada “cultura do estupro” a falta do direito da mulher de se recusar a fazer sexo mesmo estando despida. Enquanto patrocinadores estudam medidas para evitar um contato com o garoto-propaganda que se mostra tóxico no momento, o presidente do Brasil foi ao hospital e se solidarizou com o jogador. Depois das homenagens ao MC Reaça, que se matou após bater numa mulher grávida, o primeiro mandatário deixa mais evidente seu lado nessas bolas divididas.

E por falar em bola, que aliás deveria ser o principal assunto na vida de Neymar, seu corpo acabou aprontando um jeito dele ficar fora da Copa América e se concentrar no que é vital para sua carreira no momento: salvar sua reputação, nem que para isso, a reputação de outras pessoas escorra ralo abaixo.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Pela “desNeymarização” do mundo

Ouvi uma frase de uma pessoa por quem tenho profundo respeito. O craque Zinho afirmou que o que interessa ao Brasil é o que Neymar produz em campo. A pergunta que se impõe é: no mundo de hoje é possível separar o que Neymar faz em campo das encrencas fora das quatro linhas?

Neymar é uma persona que extrapolou o campo de jogo. A inundação de campanhas publicitárias com o rosto do camisa 10 da seleção é a prova incontestável de que as fronteiras entre o jogador e o digital influencer já estão borradas há muito tempo. Logo, não interessa apenas o que Neymar faz dentro de campo. 

O jogador é ídolo de milhões de pessoas no Brasil e no mundo, ou seja, é uma estrela global. As hashtags presentes nas suas redes sociais impulsionam a indústria  do consumo e dos costumes da Ásia aos lugares remotos da Amazônia. Lembrando Ben Parker, tio do ícone pop Homem Aranha, grandes poderes requerem grandes responsabilidades. E a fama de Neymar é um grande poder. 

Nas infindáveis mesas redondas que tratam o assunto da grave acusação de estupro que pesa sobre Neymar, um jornalista se referiu a ele como “o moleque”. Neymar é um homem biliardário, de 27 anos, com um filho. O “menino Ney” só tem um efeito nocivo para o cidadão. Chega de infantilizar o camisa 10. Mimá-lo só faz mal a ele e ao time da CBF. 

Não há pré-julgamento algum no que vou escrever. Há uma acusação seríssima a respeito de um crime de estupro, além dessa, Neymar confessadamente cometeu um crime ao vazar imagens íntimas da mulher que o acusou. O mínimo que a CBF deveria fazer era afastar o jogador. 

Todos são inocentes até que se prove o contrário, mas ao reagir a acusação comentendo um crime cibernético, o jogador já agiu de forma suficientemente canalha e merecia ser afastado. Mas é impossível esperar uma atitude dessa de uma entidade comprometida até a raiz em tenebrosas transações. 

A imprensa esportiva está cheia de dedos para tratar o tema. Afinal, Neymar representa muitos pontos de audiência, cliques nos sites e engajamento nas plataformas digitais. Em suma, Neymar vale muito dinheiro. 

Da mesma forma que estão “esperando” a apuração para emitir opiniões, os defensores de Neymar não podem culpar a moça que o acusa. A sociedade repete a velha prática de desacreditar a mulher no papel mais frágil. Os que defendem o jogador em seu crime cibernético atualizam uma ideia lançada há mais de 40 anos, quando ocorreu a morte da socialite Angela Diniz. Neymar vazou as imagens em “legítima defesa da honra”. 

Neymar não matou a mulher como fez Doca Street na década de 1970, mas ao vazar as imagens incitou seu exército de fãs a persegui-la. Ele pode com a atitude ter colocado a vida da acusadora em risco. 

Como diz meu dileto amigo Bruno Pacheco, precisamos de uma campanha pela “”desNeymarização” do mundo. Ele errou demais no episódio. Neymar é a prova do que um mundo com caprichos e tapetes vermelhos estendidos pode provocar no ser humano. Neymar até joga bem, mas fora de campo está muito longe de ser um craque.