sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Temos que matar as distâncias que nos separam

Paradoxalmente, neste mundo sem fronteiras o distanciamento é uma das grandes doenças. É incrível como o avanço das tecnologias causou este dano. 

A jornalista Fernanda Galvão escreveu um post no Facebook em que disse estar tão acostumada com o WhatsApp, que quando ligam, ela até estranha. Acho que todos nós temos essa sensação. 

Temos disponibilidade para “teclar” por longo tempo, mas se o telefone toca, não atendemos, pois a conversa pode roubar nossa atenção. Em nossa sociedade, falar  ao telefone denúncia a idade dos interlocutores. É coisa de gente “da antiga”. 

A voz do outro interagindo ao vivo é uma invasão. Alguém poderia dizer que o serviço de áudio nas mensagens substituiu a ligação. De forma alguma isso é verdade.

Respirações, hesitações e pausas que permitiriam uma resposta interruptiva  somem deste tipo de comunicação. O áudio do WhatsApp acabou com aquela réplica instantânea. Você escuta e responde. E nesse tempo criado entre perguntas e respostas, os filtros trabalham e a relação fica menos espontânea. 

Não vou pregar a volta do sinal de fumaça, nem do pombo-correio, mas sim que a gente tenha mais preocupação em ligar para as pessoas, ou para atender o telefone. 

Temos muitas conexões, mas o que nossos tempos ensinam é que elas não são  sinônimos de laços. São no máximo pontas soltas, que sem a firmeza na parte extrema, se perdem. 

Tenho uma prima, a quem chamo de tia, que está com 88 anos. Ela até tem celular, mas não se entende com a traquitana. Com a Tia Nelly pratico o velho de hábito de falar ao telefone. Assumo que deveria fazer isso com mais gente. 

Ando em falta com muitos amigos. O WhatsApp não encurta distâncias, as estabelece. Mas as distâncias podem ser diminuídas por movimentos sutis do universo. 


O Eduardo e a Christiane estão comemorando a chegada da Catarina neste dia 31. A data é especial para a família deles e para minha também. Afinal, a mulher que amo e é minha companheira da vida faz aniversário. As duas com nomes de rainhas russas do século XVIII fecham o mês de agosto e se encontram na felicidade que proporcionam aos que as amam. 

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Bolsonaro gosta de apanhar

Um grande amigo me deu uma definição perfeita para as entrevistas e participações de debate do candidato Jair Bolsonaro. Ele não precisa se sair bem, precisa de algumas poucas respostas mais radicais. Aí os seus apoiadores, robôs ou não, tratam de espalhar as respostas e fabricar a narrativa do vencedor. 

A polêmica envolvendo a diferença salarial entre Renata Vasconcelos e Willian Bonner é típica desta nova realidade fabricada. Bolsonaristas reclamam vitória, porque ele colocou o “dedo na ferida” no fato do homem ganhar mais do que a mulher no telejornal. Os críticos do candidato do PSL dizem que ele tomou um “esculacho” da apresentadora. 

O fato é que os entrevistadores estão caindo na armadilha de Bolsonaro. Ele vai aos encontros para “apanhar”. Ele não tem vergonha de defender suas posições. Questioná-lo sobre suas opiniões homofóbicas, sua defesa da ditadura militar, ou de seu violento projeto para resolver a segurança pública só vai fazer com que ele surfe nos factoides. 

Não há muitas coisas novas que o candidato possa falar. Suas manchetes polêmicas já estampam jornais há mais de 20 anos. O capitão tem um eleitorado consolidado. Quem não quer sua eleição deve perguntar sobre suas propostas concretamente. Se a resposta não convencer, deve insistir. 

Só assim seria evitado que as pessoas ainda indecisas caíssem em seus braços. O discurso da ordem é atraente. O da moralidade também. Tem aderência no Brasil profundo. 

Conheço uma pessoa conservadora, que apoiou o movimento de 64 e é contra comunistas. Essa pessoa me disse com todas as letras: “não voto no Bolsonaro porque ele é um despreparado”. No entanto, a insistência em “bater” no candidato nos “mesmos lugares” mostra que os entrevistadores precisam se reinventar e se preparar. 

No programa Roda Viva, o jornalista Bernardo Mello Franco fez umas dessas perguntas úteis para que o eleitor conheça Jair Bolsonaro, fora da narrativa construída pelos seus apoiadores. Em mais de 20 anos como parlamentar, Bolsonaro apresentou 170 projetos, número considerado irrisório e que mostra um parlamentar mais preocupado em se promover do que em legislar. 

Cair na pilha de Bolsonaro é ruim para o jornalismo, para os eleitores que querem conhecê-lo e para o Brasil. Essa semana vai começar a campanha de rádio e TV. Se permanecer a lógica de outras eleições, a tendência é que o candidato do PSL perca a força. 

No entanto, é muito importante entender o destaque de um candidato com um discurso radical e vazio no cenário brasileiro. Bolsonaro é um sintoma que precisa ser desvendado. 


terça-feira, 28 de agosto de 2018

Crivella, o incrível e inútil prefeito

Prefeito, li no jornal O Dia que o senhor pretende tomar o Museu do Amanhã  da Fundação Roberto Marinho. Não tenho nenhuma procuração para falar em nome da holding, mas enxergo nesta medida um ato mais político do que administrativo. Tendo em vista que o senhor e os empresários de comunicação são inimigos quase declarados. 

Antes de tomar o Museu e entregá-lo a algum grupo mais simpático, o senhor deveria tomar conta das pessoas. Acabo de empreender uma caminhada de pouco mais de um quilômetro para ir ao médico. 

Como ainda me recupero de um “evento cardíaco”, estou tentando mudar algumas coisas na minha rotina. Desta forma, para lugares perto, tenho deixado o carro na garagem e preferido caminhar. 

Voltando à caminhada pela Rua Voluntários da Pátria, esbarrei com 8 pessoas espalhadas em diferentes pontos da via pedindo esmola. A situação que mais me compadeceu foi a de uma mãe e uma criança de uns 5 anos no máximo. As duas estavam cobertas na calçada, quase na esquina da rua Camuirano. 

Prefeito, a rua a que me refiro deve ficar a uns 200 metros do Palácio da Cidade. Não sei se o senhor sabe onde fica este lugar, mas é uma das sedes da prefeitura para a qual o senhor foi eleito. Dos jardins há uma bela visão para o monumento do Cristo Redentor. Bem, essa vizinhança deve arrepiar suas convicções religiosas. 

O fato é que  200 metros distante da Prefeitura do Rio, uma criança dorme na rua. Ironia das ironias, bem pertinho de um banco. Se alguém quiser uma lição sociológica da desigualdade no Brasil, basta tirar uma foto que enquadre ao mesmo tempo a mãe, a criança e a instituição financeira. 

Uso Botafogo como exemplo, mas poderia citar inúmeras ruas no Rio. Por exemplo, na esquina da Presidente Vargas com Rio Branco, centro financeiro do Rio, contei outro dia 6 pessoas dormindo sob as marquises. 

Caro alcaide,  o senhor é um engodo, uma ressaca e um estelionatário eleitoral. O senhor prometeu cuidar das pessoas e o número de moradores de rua parece multiplicar. Desde a redemocratização e, a consequente eleição direta dos alcaides, Marcelo Crivella é o pior ocupante do cargo.  

E no meio disso tudo, a gente lê que o prefeito quer mudar a administração do Museu do Amanhã. Prefeito, vá justificar o mandato que as urnas lhe deram. Administre a cidade, não a trate como uma extensão da igreja da qual o senhor é bispo. Vá trabalhar!

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Você não sabe quem é Priscila Tossan? Deveria

No fim do século passado (essa é a vantagem de ter mais de 18 anos em 2018, poder dar ares históricos às próprias reminiscências) fiz dança de salão. 

Muito antes do Faustão exibir a Dança dos Famosos, eu já tentava bailar ao som de uma música. O curso básico no Centro de Dança Jayme Arôxa continha lições de bolero, “soltinho” e samba. Como dois estilos são autoexplicativos, vou definir o “soltinho”: nada mais do que o velho e bom twist que você vê os jovens americanos praticando em filmes dos anos 50. 

Dançávamos no Clube Asa, em Botafogo. Curiosamente, um dos dias de Dança coincidia com uma “pelada” jogada por alguns integrantes do Casseta & Planeta. Eu desconfio que sempre que passava pelas aulas, o Bussunda pensava em alguma piada politicamente incorreta. Na verdade, nunca saberemos. 

Nos fins de semana havia os “bailinhos”, onde desfilávamos toda a timidez, falta de ritmo e de perícia. Olhávamos os professores e alunos mais avançados com admiração e inveja, não necessariamente nesta ordem. 

Havia os dançarinos exuberantes, que sabiam todos os passos, não saíam da pista e trocavam de par incessantemente. Um dos que chamavam minha atenção era o Luisinho (mudei o nome de propósito). Era simples, todas as moças com que bailei na época falavam dos dotes hipnóticos do Luisinho ao dançar. Todas diziam “nossa, dançar com o Luisinho é quase como sair do chão”. 

Tentava entender a magia do Luisinho. Ele  era mais baixo do que eu. Não primava pelos cânones do belo, no entanto, causava algo transcendental ao tomar a dama pelas mãos e levá-la ao shagrilá do bailado. 

Intrigado, perguntei a uma das seduzidas pelos “pés de sereio “ de Luisinho o que tanto encantava. Ela me explicou, mas por problemas de cognição meus, tento entender a resposta até hoje: “ele dança a música”. 

Você me dirá que a explicação é óbvia, mas como toda a obviedade guarda uma armadilha, não se entregue fácil. Acho que o que minha encantada interlocutora dizia, era que Luisinho “dançava a melodia das canções e não a marcação rítmica delas. Talvez por não ser musicista, a explicação fique distante para mim. 

Vendo The Voice Brasil, lembrei-me de Luisinho. Tem uma candidata chamada Priscila Tossan que me hipnotizou. Acho que a explicação para tal encanto seja “ela canta a música”. 

No primeiro contato com ela, me assustei, achei a dicção estranha e distante do virtuosismo demonstrado pelos candidatos. Já na quarta frase eu estava chapado, sem entender muito bem o que ela fazia. Sei que gostava. 

Minha implicância com os candidatos do The Voice é que apesar de talentosíssimos, ignoram a escola brasileira de canto. Em vez de performances mais melodiosas, abusam das acrobacias vocais tão em voga na forma de cantar das americanos. 

Priscila Tossan é o avesso disso. O que ela canta é só dela. Faz as coisas de forma tão intuitiva que parece ter ela mesma fundado uma escola de cantar. Ivete Sangalo chegou a defini-la numa onda “meio Simonal”. 

Ouso discordar em parte da jurada mais carismática do The Voice. Talvez o encontro de Priscila com Simonal se dê no planeta originalidade. Ela tem uma onda só dela. 

No país dos sertanejos e aparências, talvez seja difícil que Priscila Tossan ganhe o concurso. Mas uma coisa é certa: ela é de longe a artista mais original a se apresentar nesta edição. Se tivesse acompanhado o programa desde a primeira edição, poderia dizer com mais tranquilidade que ela é a maior revelação do programa. 

Priscila Tossan canta a música dela, num universo dela e para a nossa sorte ela teve a oportunidade de dividir está arte num programa de grande audiência. 

domingo, 26 de agosto de 2018

Ninguém mais ri por último

Este blog anda meio devagar, talvez o motivo seja uma certa “seca” de ideias do escriba. Quem sabe eu esteja precisando ler mais Baudelaire. Assim me inspiraria no jeito das crianças em olhar as coisas como se tudo fosse novidade. Seria uma forma de encontrar mais objetos para os textos. 

Pensei em banalidades para tentar tirar a poeira dos neurônios e ver se é possível chegar a um bom assunto para as crônicas. 

Fui à casa de um amigo e vi uma inovação tecnológica que imaginava apenas nos Jetsons. Ele tem uma máquina que mediante uma programação, aspira a sujeira da casa. Fiquei pensando que não há mais como deixar a sujeira embaixo do tapete. É só programar o aparelhinho mágico e zás, lá se vai a poeira para as calendas gregas, ou melhor, para o filtro do aspirador. A mulher dele se assustou num dia em que acordou e o robô já fazia a limpeza da casa. 

Fiz um exercício e pensei em alguns ditados populares que caíram em desuso diante da tecnologia. Em contrapartida, pensei em outros que se encaixam perfeitamente em nossos tempos. Por exemplo, “as aparências enganam”. Às vezes você vê uma foto no Instagram, depois ao constatar pessoalmente, a imagem não é bem aquela. 

Há outros que podem ser mal interpretados. “A voz do povo é a voz de Deus” é um que não se pode mais levar em conta. Afinal, a voz do povo hoje é selecionada por algoritmos e cada grupo ou página tem seu próprio Deus. Não há uma voz una, na verdade nunca houve, mas agora essa falta de unidade fica mais explícita. 

“Caiu na rede é peixe”. Hoje pode ser nude, ou quem sabe, ciber-bullyng. Peixe é algo analógico e só cai na rede em perfis fitness do Instagram. 

E por falar em perfis fitness, o ditado “de médico e de louco, todo mundo tem um pouco” permanece atual. Afinal, as pessoas têm sempre receitas para clarear dentes, curar frieiras, ou melhorar o funcionamento do intestino. Tudo compartilhado naquele perfil super popular. 

“Devagar se vai ao longe” é um daqueles que nos nossos tempos não pode mais ser dito. Com aquela conexão de baixa velocidade, você não consegue nem baixar aplicativo com joguinho de paciência. Ainda mais “ir” a algum lugar. Esse, definitivamente foi derrubado pelas novas tecnologias. 

Em compensação, “diga-me com quem andas e te direi quem és” está mais atual do que nunca. E descobrir com quem alguém anda está cada vez mais fácil. É só dar aquela “stalkeada” básica para saber quem são os amigos da pessoa. 

“Escreveu, não leu, pau comeu” mudou um pouco de sentido para se adaptar aos nossos dias. Receba uma mensagem da sua namorada pelo WhatsApp e experimente não responder de imediato. O pau vai comer, cantar e todas as outras metáforas que representam conflitos de grandes proporções. 

“Para bom entendedor, meia palavra basta”. Este não vale mais. Por um simples fato: não existem bons entendedores. Existem apenas “entendedores”. São aqueles que sabem de tudo e não aceitam outras opiniões. Os bons entendedores caíram em desuso, tal como a máquina de escrever e o Orkut. 

“Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha”. Esse também não dá mais para usar. As pessoas não falam mais, elas apenas “teclam”. E ao “teclar”, respondem sem ler as perguntas, cegas em suas certezas. Abaixar a orelha é sinal de tolerância. Tolerância é tudo que não temos em nossos tempos. 

“Quem ri por último, ri melhor”. As histórias não acabam. Se elas não acabam, não há possibilidade de rir por último. É um ciclo sem fim. As discussões só terminam em duas ocasiões: quando a bateria de um dos “adversários” acaba, ou quando um deles morre. Pensando bem, hoje em dia, acabar a bateria e morrer são quase a mesma coisa. 

Eu poderia falar outras dezenas de ditados e esse texto não teria fim. Mas acho que um ditado está mais certo do que nunca: “quem semeia vento, colhe tempestade”. Quem quer paz, não pode defender violência. 


segunda-feira, 20 de agosto de 2018

A briga de foice pelo Palácio Guanabara

A eleição para o governo do Rio promete ser uma “briga de foice no escuro”. Romário, 14%, Eduardo Paes, 12%, e Anthony Garotinho, 12%, estão tecnicamente empatados. 

Dos três, o que tem menos máquina partidária é Romário. Paes vai tentar se livrar publicamente de seu período emedebista, mas espera contar com os aliados antigos, nem que seja por debaixo dos panos. Garotinho também tem seus calos. Os provocados por sua figura, digamos, heterodoxa, e pelos seus apoios. 

A campanha vai mostrar o quão explícita vai ser a aliança de Garotinho com o inacreditável prefeito do Rio. Garotinho e Crivella tem penetração na mesma faixa de eleitorado, logo, a união dos dois não seria tão tóxica para o ex-governador, como seria para Romário, por exemplo. 

Mesmo preso, não duvido da força do capo Picciani para apoiar um dos candidatos. É esse mecanismo (com licença Zé Padilha) poderia trabalhar para o ex-prefeito. 

As denúncias sobre bens encobertos podem tirar de Romário a figura do “novo”. Se ele ficar na planície dos políticos comuns, vai ser presa fácil para as máquinas à disposição de Paes e Garotinho. 

Se fosse para fazer uma aposta, cravaria Paes e Garotinho no segundo turno. Mais uma coisa curiosa na candidatura do ex-governador. Ele vai enfrentar a terceira geração de políticos fluminenses. Em 94, perdeu para Marcelo Alencar. Em 98, derrotou Cesar Maia. Agora, vinte anos depois de ter chegado ao Palácio Guanabara, vai enfrentar uma das criaturas de Cesar, Eduardo Paes. 

O impressionante na eleição do Rio é que nenhum dos candidatos está nem próximo dos 20%. Isto demonstra a falta de rumo no estado após 12 anos de Cabral/Pezão. 

Num cenário tão embolado, o eleitor do Rio deverá ser “brindado” com uma campanha de baixo nível e acusações. Ao incauto eleitor fluminense restará votar mais contra alguns candidatos do que a favor de outros. 

Se você achou um horror o cenário na corrida pelo Palácio Guanabara, imagine o que vem por aí na composição da Assembleia Legislativa e dos deputados federais do Rio. Valei-me Nossa Senhora do Bom Voto. Ih, acho melhor não misturar voto e religião. 

domingo, 19 de agosto de 2018

Meus 10 filmes inesquecíveis


Vou retomar minhas listas. Hoje serão 10 filmes que me impactaram. Num jantar com amigos antes da publicação deste texto, substitui três do original. Obviamente houve discordância. Afinal, cada um faz a sua lista, pois as imagens causam reações diferentes nas retinas e nos corações. 

10° Lugar - Super Homem- O Filme – Richard Donner - 1978. 

Tudo é icônico neste filme. Marlon Brando fazendo o papel de Jorel, pai de Kalel, é emblemática. É emocionante a cena em que o menino viaja de Krypton para terra numa cápsula ouvindo os ensinamentos do pai. A frase “Verei o mundo pelos seus olhos” representa o desejo de todo o pai para o momento em que não estiver mais por aqui. E claro, é inesquecível quando o Super Homem muda o rumo da história ao voar no sentido contrário da terra para ressuscitar a amada Lois Lane, passagem eternizada no Brasil por uma bela canção de Gilberto Gil. Há um detalhe especial: este foi o primeiro filme que vi no cinema. 

9º Lugar - Pulp Fiction - Quentin Tarantino  - 1994 

A colagem pop barata de Tarantino conquista chocando e satirizando a violência. O filme ressuscitou John Travolta. A cena em que ele e Uma Thurman dançam entrou na memória de toda uma geração de cinéfilos. Além, claro, do diálogo sobre o nome do Big Mac em Paris. É um filme para pessoas bem humoradas, que não se levam muito a sério.  

8º Lugar - Profissão Repórter - Michelangelo Antonioni - 1975. 

Jack Nicholson faz o papel de um repórter americano que troca de lugar com um homem morto. O filme é melancólico, angustiante e faz uma viagem sobre quem somos e quem gostaríamos de ser. É legal porque traz uma estética diferente para quem está acostumado com o ritmo mais ligeiro do cinema americano. 

7º Lugar - Assim Caminha a Humanidade - George Stevens - 1956. 

O filme é o último da meteórica carreira de James Dean. O mítico ator morreu antes que a obra estivesse concluída. Assim Caminha a Humanidade ainda  tem no elenco Rock Hudson e Elizabeth Taylor. O filme é no estilo “novelão” e trata da disputa entre os personagens de Hudson e Dean pelo poder e, obviamente, pelo coração de Liz Taylor. A obra é considerada também um símbolo na luta contra a intolerância racial. George Stevens ganhou o Oscar de melhor diretor pelo filme. 

6º Lugar - E o vento levou - Victor Fleming - 1939. 

Atravessar 8 décadas com as pessoas sabendo alguns diálogos de cor é para poucas obras. A olhada de Clark Gable em direção a Vivien Leigh dizendo “pouco me importa” é um clássico.  A trilha sonora entrou na playlist mundial. O filme ganhou 8 Oscars, dentre eles, melhor diretor e melhor atriz. Talvez a estatueta tenha sido mais fácil de conquistar do que o papel, afinal Vivien Leigh disputou o papel com 1400 mulheres. Os críticos consideram que E o vento levou mudou a forma como os negros eram tratados no cinema. Hattie McDaniel, inclusive, foi a primeira atriz negra a ganhar um Oscar. Em valores atualizados, o filme é o mais bem sucedido da história. 

5º Lugar - O Sol Por Testemunha - René Clément - 1960. 

Alain Delon faz o papel de Tom Ripley, um homem ambicioso e inescrupuloso que quer viver a vida de um jovem rico. Qualquer outro detalhe seria spoiler, então recomendo assistir. A fotografia é linda. O filme teve uma versão nos anos 1990, com Matt Damon no papel que foi de Delon. O filme americano se chamou O Talentoso Ripley. A versão francesa é mais crua e mais sugestiva do que a posterior

4º Lugar - Casablanca - Michael Curtis - 1942.

O filme tem como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial. A ação se passa na cidade marroquina de Casablanca. Humphey Bogart é Rick. Na verdade, Humphrey Bogart é Humphrey Bogart em qualquer filme. Ele é dono de um bar. Um dia a ex-amante Ilsa, uma Ingrid Bergman de tirar o fôlego, entra no Café de Rick e a narrativa se desenrola. O personagem de Bogart vive o conflito entre ajudar o Ilsa e o marido a escaparem do Marrocos e continuarem a luta contra o nazismo, ou não se comprometer e ficar com o caminho livre para reconquistar a amada. Apesar de a história ser conhecida, não direi o final. Há fragmentos clássicos como o de Rick conversando com Ilsa e dizendo: “sempre teremos Paris”. Há também uma frase que nunca foi dita na obra, mas se celebrizou como se tivesse sido: “Toque de novo, Sam”. Para completar o relicário cult do filme, a trilha sonora trás a mítica As Time Goes By. O filme recebeu três Oscars em 1943, Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro adaptado. 

3º Lugar - Butch Cassidy e Sundance Kid - George Roy Hill - 1969

Paul Newman e Robert Redford interpretam os personagens que dão nome ao filme. A narrativa se passa no Velho Oeste, com Newman e Redford interpretando dois bandoleiros. Enquanto praticam assaltos e fazem crescer a fama de maus e a raiva das autoridades, fazem piadas rápidas e esbanjam carisma. Adoro a cena final (que não contarei) e a parte em que Paul Newman anda de bicicleta com Katharine Moss. Para eternizar esse ícone pop, o passeio tem como trilha sonora Raindrops  Keep Folling on My Head. 

2º Lugar - Janela Indiscreta - Alfred Hitchcock - 1954. 

James Stewart interpreta um fotógrafo que sofre um acidente e fica confinado em seu apartamento com a perna quebrada. De sua janela, acompanha o cotidiano de seus vizinhos. Stewart acompanha tudo como se fosse numa tela de cinema, uma primorosa metalinguagem de Hitchcock sobre o papel do observador. O fotógrafo flagra o que seria um crime e com a ajuda da namorada, interpretada simplesmente por Grace Kelly, tenta interferir. O filme é mais um daqueles que explicam porque Hitchcock é chamado de “Mestre do Suspense”. Ah, se você acha o máximo Stan Lee fazendo aparições nos filmes da Marvel, o velho Hitchcock já fazia isso há muito tempo. 

1º Lugar - O Poderoso Chefão parte I - Francis Ford Copolla - 1972. 

Tudo é grandioso no filme. A interpretação de Marlon Brando para Dom Vito Corleone é soberba. Os algodões nas bochechas para compor a forma de falar do personagem e caracterização para parecer um septuagenário, mesmo antes de chegar aos 50, lhe valeram o Oscar. Só Brando já garantiria o filme na minha lista. Para reiterar a escolha, tem ainda a cruel frieza de Michael, interpretado por Al Pacino;  Diane Keaton, bela, se mostrando uma mulher forte, mas com medo do marido; James Caan, sensacional como um mercurial Sonny Corleone, isto apenas para citar alguns. O filme mostra as relações nada ortodoxas da máfia com a polícia, a justiça, os jornais e o show business. Uma obra demolidora. As composições visuais de Copolla são impecáveis. No entanto, o que mais me prende são os ensinamentos de Dom Vito. Um exemplo deles é quando ao conversa com Michael, diz: “quem propuser o acordo com você será o traidor”. O Poderoso Chefão tem frases e padrões de comportamento que podem fazer você interpretar a vida. É curioso pensar que Brando não era a primeira opção para o papel e que Al Pacino foi a quarta escolha.

Essa é a minha lista. Enquanto finalizo o texto já me vieram três filmes para colocar, mas vou guardar, quem sabe faço um post do tipo “meus outros 10 filmes inesquecíveis”. Esses textos me ajudam a pensar na verdade irrefutável: escolher é perder. 


sábado, 18 de agosto de 2018

Caminhar olhando pra cima pode fazer tropeçar

As caminhadas na esteira da clínica de reabilitação cardíaca me colocam em contato com meu pensamento. Na impossibilidade de explorar novas fronteiras geográficas, pois se anda sem sair do lugar, sobra viajar para dentro de mim. 

Fone no ouvido, por dica de uma das profissionais que atendem lá, vou escutando musicas que me remetem à adolescência e ao início da idade adulta. Talvez as outras pessoas achem estranho o meu abrir e fechar de lábios, cantando sem emitir som. 

No meio de uma das sessões, fiquei olhando para o teto da academia, uma das luminárias me chamou atenção. Não havia nada especial, era só o olhar perdido enquanto ouvia música. Eis que de repente pensei numa metáfora. Perdão, ela vai ser barata e vã, mas acho necessária em nossos dias. 

Um dos motes das religiões que querem se misturar com a política é a venda de indulgências, ou seja, você conseguirá a vida eterna se seguir os preceitos delas por aqui e mirar o céu. 

Ao mirar o céu, empina-se o nariz e perde-se o foco na estrada. Você vai olhando pra cima sem perceber onde coloca os pés. Tal atitude reserva armadilhas, por exemplo, na esteira em que eu fazia exercícios, quase pus um dos pés na parte fixa enquanto olhava a luminária. Seria queda na certa. 

Na esteira, como na vida, o olhar fixo para o céu priva você de entender as particularidades do caminho. Essas dificuldades podem ser um buraco, uma poça ou a parte fixa da esteira de exercícios. 

A Bíblia, livro mais em voga do que a Constituição nessas eleições, nos explica que o céu é um bom lugar, mas até chegar lá, tem muita coisa para se fazer por aqui. Aliás, na Bíblia há outras passagens importantes, que os candidatos que a usam poderiam ler. Jesus não permitiu que uma prostituta fosse apedrejada, expulsou vendilhões do templo e repartiu pães e peixes. 

Jesus manda a oferecer a outra face e não que os cidadãos andem armados para se proteger. E olha, que no tempo dele um rei mandou matar as crianças que tivessem menos de dois anos. 

Uma aluna querida me disse uma frase debochada, que me fez rir e refletir: “Jesus é um cara legal, o problema é o fã clube”. A julgar pelo que temos visto, com a Bíblia sendo levada até para debate presidencial, a piada se mostra perfeita e cruel. 

sábado, 11 de agosto de 2018

Existe um dia ensolarado para quem sabe voar

A realidade dos novos meios de comunicação se impôs de forma avassaladora ultimamente. Os chamados meios tradicionais vão tentando se adaptar como podem, mas não será fácil. 

Neste sentido, duas notícias chamaram minha atenção particularmente nos últimos dias. A primeira foi o  encerramento das atividades dos canais de AM das emissoras do Sistema Globo de Rádio. A outra foi o fechamento de 10 títulos da Editora Abril. 

Os dois fatos estão intrinsecamente  ligados. As novas tecnologias fazem uma espécie de “seleção natural” econômica. Ou as empresas se adaptam à nova realidade ou vão passar aos livros de história assim como os dinossauros. 

O custo de operação de canais de AM do SGR era milionário. E para agravar a crise, a audiência é cada vez menor. Para se ter uma ideia, vou dar números de junho de 2016. As quatro emissoras mais bem colocadas do Rio operavam em FM. Cada uma delas tinha isoladamente mais ouvintes do que todo o conjunto de rádios AM do Rio. 

Por exemplo, a Rádio Tupi tinha cerca 15% de sua audiência em AM. O AM comercialmente é um doente terminal. Um dos grandes problemas é a recepção sofrível nos carros, importantíssima hoje em dia. Operação cara e verbas comerciais à míngua formam a equação para esta agonizante realidade. 

As previsões mais otimistas dizem que a migração para o FM deve chegar ao Rio num prazo de 5 anos, logo, uma operação deficitária por tanto tempo não seria viável. A saída para o rádio não está no dial, está nas plataformas digitais. Qualquer projeto de médio prazo que não encare a solução desta forma está fadada ao fracasso. 

O problema é que o fechamento dos canais de AM significa o fim de veículos que deveriam prestar serviço à população. Se economicamente  é explicável, enquanto política de comunicação é um decisão ruim. Os canais de AM deveriam de alguma forma ser cedidos à entidades que se dispusessem a operar nessas frequências. 

O fechamento dos títulos da Editora Abril é um tiro no pé do jornalismo. Meu amigo Bruno Zolotar matou a charada. Se você não quer que as revistas acabem, leia revistas. A falta de público e de receitas fez com que as revistas acabassem. 

Uma vez ouvi do meu amigo Gilmar Ferreira que em japonês o ideograma que representa crise é o mesmo que representa oportunidade. Logo, quem sai das faculdades de jornalismo tem essa “oportunidade” de montar projetos e propostas para suprir de conteúdo o mercado. 

O momento é paradoxal. Ao mesmo tempo que as grandes empresas de comunicação diminuem as ofertas de trabalho, nunca foi tão necessário o conteúdo, nunca foi tão grande a busca por informação. 

A falta de visão e de ousadia dos empresários jogaram as empresas  nesta fase de “desinvestimentos”. E aqui incluo a decisão da Turner de fechar os canais do Esporte Interativo. As novas gerações vão ter como missão continuar levando informação e prestação de serviço à população. O problema é que terão que inventar novas formas para fazer isso. 


Apesar da neblina que muitas vezes atrapalha a decolagem, ao passar pela espessa nuvem, tem um dia ensolarada lá em cima, mas só para quem quer e sabe voar. 

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Cabo, capitão e os memes

Via a entrevista do capitão na Globo News, quando em determinado momento, ele vaticinou: a presidência é uma missão de Deus. Minha filha, aos 12 anos, pulou do sofá e gritou: pai, esse cara é louco, coitado de Deus. Depois ela voltou para o universo de alguma série do Netflix. 

Lembrei do caso ao ver as imagens do Cabo Daciolo abrindo a Bíblia no debate da Rede Bandeirantes. Uma das tragédias do mundo é a mistura de política e religião. E ontem Bolsonaro, Marina e Alckmin apelaram para a graça de Deus para ter êxito na corrida presidencial. 

Por favor, não sou contra Deus. Aliás, acredito nele. Mas é desalentador o uso indevido para angariar votos. O Rio de Janeiro está vivendo os efeitos desta mistura palanque/púlpito. 

Outro aspecto me chamou atenção na noite desta quinta-feira.  Li em algum lugar que enquanto o debate batia recordes  no Twitter, atingia apenas 5 pontos de audiência na TV. Nas redes sociais, proliferavam memes e hashtags do encontro dos postulantes à presidência, na TV aberto a maioria das pessoas acompanhava a busca pela nova voz do Brasil. 

Como já foi dito, essa eleição vai ser a prova de quanto os meios de comunicação tradicionais ainda vão ser decisivos no pleito. A disparidade de números entre a relevância da Band na web em comparação ao alcance na audiência da TV aberta deixa a dúvida mais latente. 

A internet é um campo heterodoxo. A maior repercussão do debate nas redes foi do inexpressivo Cabo Daciolo. Que conseguiu descobrir 400 bilhões de sonegadores no Brasil, número que só seria possível se a gente encampasse o território de alguns planetas, pois a população mundial só representa 5% do total de sonegadores que o político diz ter só no Brasil. Além disso, o meme dele segurando a Bíblia é um campeão de audiência. 

Um amigo esperto deu uma opinião que sou obrigado a refletir. No último post eu questionei o motivo da candidatura de Henrique Meirelles.  Meu amigo me chamou atenção do fato que queria dividir com você. Meirelles pode ter entrado na eleição para ser “boi de piranha” de Geraldo Alckmin. Desta forma, Temer poderia usar a máquina para fazer campanha para o tucano, sem se mostrar.  O presidente mais impopular da história não atrapalharia com sua imagem tóxica seu verdadeiro candidato. 


Achei essa hipótese muito interessante. O que levaria Meirelles por ter sido colocado na arena para perder. O Ministério da Fazenda? A presidência de um dos bancos do governo? O tempo poderá responder. 

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Na corrida maluca presidencial, o que não falta é Dick Vigarista


O roteiro está sendo escrito conforme o autor pensou em Curitiba. Fernando Haddad foi anunciado como vice na chapa do PT. Como Lula deverá ser impedido de disputar presidência, o ex-prefeito de São Paulo herdará a candidatura. 

A pergunta que a eleição vai responder é a capacidade de Lula, mesmo preso, transferir sua intenção de votos para Haddad. Obviamente, esta eleição é a mais imprevisível desde a redemocratização. Os três candidatos mais bem colocados nas pesquisas tem problemas. 

Lula é virtualmente inelegível. Jair Bolsonaro e Marina Silva não têm dinheiro e nem tempo de TV. Por causa disso, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin ficam cada vez mais competitivos. Se a lógica de outras eleições permanecer, Marina e Bolsonaro vão cair nas pesquisas gradualmente até que aconteça a ultrapassagem dos candidatos mais ricos e com mais máquina partidária. Para Marina esse “esvaziamento” dos números não é novidade. Em 2014, após um empate técnico com Dilma Rousseff na liderança, sucumbiu aos ataques tucanos e petistas e ficou fora do segundo turno.

Haddad pode embaralhar a mesa. Assim que sair a decisão judicial impedindo a candidatura de Lula, deve começar a jogada. Haddad iria para a cabeça da chapa e Manuela D’Ávila seria a candidata à vice. O ex-prefeito da maior cidade do país conseguiu escapar sem muitos arranhões pelas investigações da Lava-Jato. No entanto, tem contra ele uma derrota no primeiro turno para João Dória quando tentava a reeleição. Fernando Haddad já recebeu palavras elogiosas até de Fernando Henrique Cardoso e tem um estilo menos beligerante do que a presidente do partido, Gleisi Hoffman. O provável cabeça de chapa do PT terá um dilema: será assumidamente um “poste” ou mostrará independência em relação ao criador.

É curiosa a realidade do PT atualmente, como escreveu um dia desses meu amigo João Carlos Viegas. Numa carta ao jornal O Globo, Viegas aponta que os petistas recorrem a um expediente que criticaram muito no PDT de Leonel Brizola, o culto a uma personalidade. O julgamento de Lula foi político, mas ao esticar a corda por sua candidatura, o partido pode ver a esquerda fora do segundo turno.    


Geraldo Alckmin está aliado com a nata do conservadorismo e do pragmatismo político. A questão que se impõe é como se comportará a trinca de ferro do Norte-Nordeste (Sarney, Barbalho e Calheiros). Apesar dos três pertencerem ao MDB, nem Henrique Meireles apostaria um dólar  no apoio deles. A família Sarney aposta as fichas em Rosena para recuperar a hegemonia. O PT vai apoiar Flávio Dino, do PCdo B. No Maranhão, o PT vai com candidato próprio, Flávio Rocha. O clã Barbalho vai de Helder, logo, não é uma aliança fácil no primeiro turno. Em Alagoas, o PT apoia o MDB de Renan Filho. 

Enquanto o TSE não decidir a situação de Lula, o jogo está emperrado. Com Lula na jogada, a trinca de coronéis pode até embarcar na campanha do petista. Claro, como reza a cartilha deles, será um apoio de forma velada, afinal, o MDB tem candidato. Também não é hipótese descartável que entrem na canoa de Geraldo Alckmin. Tudo vai depender da maré. 

Faltando dois meses para a eleição, o bom senso manda não fazer apostas. Mas como posso me dar ao luxo de ter opinião neste espaço, farei algumas. 

  • Sem Lula na parada, Alckmin deve conseguir chegar ao segundo turno. Não sei se em primeiro ou segundo lugar. A máquina partidária por trás do tucano é muito forte. A adesão do Centrão é decisiva para a minha aposta. 
  • Os votos de Marina deverão bater asas rumo a Ciro Gomes e Fernando Haddad, dependendo da tendência que o “voto útil” apontar. Quem estiver na frente leva o quinhão da candidata da Rede para tirar o capitão da disputa.
  • Bolsonaro deve ficar em terceiro lugar no primeiro turno. Claro que nessa corrida maluca, tudo pode acontecer, mas a experiência de eleições anteriores mostra que dificilmente sem máquina partidária, sem dinheiro e sem tempo de rádio e TV ele seja um candidato competitivo até o final. 

A lógica de outras eleições apontaria para as hipóteses acima. A questão é o tamanho da mobilização nas plataformas sociais, principalmente do candidato Jair Bolsonaro. Se um candidato com tempo de televisão pífio conseguir chegar ao segundo do turno, estará inaugurada uma no a era eleitoral no país. Pragmaticamente, aí da acredito que máquina partidária e exposição nos meios tradicionais ainda fazem muita diferença. Outro fator interessante para ser observado na corrida maluca. 

Tenho um oráculo com quem sempre falo sobre eleições. Ele me disse, com todo bom senso que norteia suas opiniões, que não é sensato ter ideias absolutas diante do quadro que se apresenta. Então minhas apostas de cima podem todas cair por terra.

Uma dúvida me atormenta em relação a essas eleições: realmente não entendo as razões que levaram Henrique Meirelles a se lançar candidato. A economia não está essa Coca-Cola toda. Outra coisa, ele será o fiel depositário de todo o ódio que se tem pelo presidente mais impopular da história. Além disso, O MDB já traiu Ulisses Guimarães e Orestes Quércia, raposas muito mais felpudas do que ele. Será que o ex-ministro da Fazenda acredita em unidade da legenda? Inocência? Vaidade? Talvez fosse bom gastar um tempo lendo matérias de arquivos de outras eleições.

A princípio, as pesquisas de agora são só ensaio. O rock’n roll vai começar depois do horário eleitoral de rádio e TV e dos debates. 

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

O presidente "pé quente" e os esquecimentos que não devemos ter


Estava no meio de um exercício na clínica de reabilitação cardíaca, quando comecei a ouvir um diálogo. Sim, sou daqueles que recolhem fragmentos das conversas alheias. Como já expliquei, vivo em busca de histórias, das mais vulgares às especiais. 

Voltando ao diálogo, ouço uma mulher perguntar a dois homens que conversavam: “O Médici que ganhou a Copa do Mundo, não foi? Pé quente aquele cara”. 

Os dois homens falavam sobre reminiscências do período militar. Como estamos em época eleitoral, estava especulando, entre um exercício e outro, em quem eles votariam. Não consegui nada explícito, mas como quase sempre os encontro, não será uma informação difícil de ser recolhida no futuro. 

No entanto, a expressão “pé quente” para se referir ao Médici me chamou atenção. De fato, numa leitura superficial, o terceiro general-presidente tinha sorte. Além do tricampeonato, houve o “milagre econômico“ com taxa de crescimento superior a 8% ao ano, índice chinês de aumento da atividade econômica. Não falam muito, mas posteriormente a taxa foi recalculada para baixo e a ressaca do “milagre” foi uma hiperinflação. 

Fiquei pensando se as famílias dos presos torturados e das pessoas dizimadas no Araguaia também consideram Médici “pé quente”. Quarenta e cinco anos depois o que ocorreu na guerrilha precisa ser explicado à população. É importante conhecer o passado para que os erros não sejam cometidos no futuro. 

A frase da mulher na academia me fez pensar que cada um guarda na memória o que convém. Já havia ouvido várias descrições sobre o governo Médici, mas essa de “pé quente” foi bastante original. 

O que me faz crer que a pessoa em questão tem uma certa nostalgia pelo que aquele governo representou. Será que era sua adolescência, ou a entrada na fase adulta? São heterodoxos os caminhos da memória. 

O fato é que a classe média brasileira desembarcou do regime militar depois do governo Médici. As metáforas de “Brasil Grande”, de “Ame-o ou deixe-o” eram a expressão do que pensava a elite. 

A supressão de liberdades como a censura aos meios de comunicação, as torturas e o fim dos habeas corpus eram vistos como efeitos colaterais para que o país entrasse em ordem. 

No entanto, dores quando ocorridas há muito tempo, tendem a ser esquecidas. Além do que, uma parcela significativa da sociedade tem “saudade de tudo que ainda não viu”. Esse saudosismo tem uma perfeita encarnação, a chapa Bolsonaro-Mourão. 

Se for para  pensar em termos esportivos, JK, Jango, Itamar e FHC também foram “pés quentes”. E explorando mais um pouco o raciocínio da senhora que exaltou a sorte do ex-presidente Médici, constata-se que o Brasil tem mais títulos durante períodos democráticos do que em regimes de exceção. Durante o Regime Militar a seleção brasileira amargou eliminações em 66, 74, 78 e 82. 

Pensando bem, antes de exaltar a sorte esportiva de Médici, é melhor exaltar um time que conseguiu reunir Pelé, Tostão, Gerson, Jairzinho, Rivelino, Carlos Alberto e PC Caju. 

Então, respondendo a pergunta, não foi o Médici que ganhou a Copa. Foi esse esquadrão armado por João Saldanha e Zagallo. Presidentes não entram em campo, não fazem gol. Aliás, suas atitudes podem até atrapalhar que realmente impedir e atrapalhar as vitórias esportivas.