sábado, 30 de setembro de 2017

Por onde andas

Pensamento dominical


"A falsa modéstia é pior do que a arrogância"

Evangelho de São Ptolomeu


Por onde andas?!



A expressão banho de loja é uma mudança superficial. A pessoa passa por esse processo e ganha uma nova aparência. No entanto, internamente as mudanças são mais difíceis. O banho de loja é simplório, logo, a Rocinha precisa muito mais do que isso. Vamos lá, para resolver décadas de abandono, injustiça social  e exclusão, o prefeito fugidio anunciou tal procedimento reducionista para ajudar a comunidade. Em 2004, na guerra entre Dudu e Lulu pelo domínio da própria Rocinha, algumas pessoas da sociedade civil foram ao local e promoveram o "dia do carinho" na comunidade. Um morador crítico achou ótimo, mas disse que a Rocinha também precisaria de um "dia do emprego", depois do "dia do saneamento básico" e listou vários "dias" que a Rocinha estava precisando.

Além de simplista, o anúncio de Marcelo Crivella foi tardio. Apenas no dia 27 de setembro ele se reuniu com o Gabinete Integrado de Gestão para tratar do tema, ou seja, cinco dias depois do clímax do terror na comunidade na Zona Sul. Diante de tal demora, recorri à agenda do prefeito para ver o que ele fez de tão importante para impedir que entrasse logo no assunto. A consulta mostrou uma agenda cheia. No entanto, os compromissos parecem pouco efetivos para as urgências da cidade.
O buraco é mais em cima. O Rio tem cerca de 1,2 milhão de desempregados segundo números do IBGE no primeiro trimestre de 2017. Em um ano o índice teve um salto de 50%. Espero honestamente que a prefeitura esteja se ocupando com esses números, pois será necessário mais que um banho de loja para resolver o drama das pessoas sem emprego na cidade.

No domingo passado, com o Rio fervendo por causa da mais nova edição da Guerra da Rocinha, Crivella reinaugurou o Parque Radical de Deodoro, por exemplo.  Não vamos ser injustos, no dia 22, pior dia da guerra, o prefeito enviou uma nota em que se solidarizava com os moradores, e lembrava que Segurança Pública é responsabilidade do Governo Estadual. Ok, no entanto, havia escolas municipais fechadas na comunidade e as crianças nada podiam fazer. Teria a Prefeitura um plano de contingência para reposição das aulas? Nada. No dia 27 Crivella se voltou para a comunidade da Zona Sul e prometeu o tal banho de loja. Mas na segunda, primeiro dia útil depois do terror na Rocinha, com as escolas fechadas, o prefeito tratou de outro assunto: acenou com a diminuição de ISS para empresas do setor de TI.

Na quinta-feira reabriu o Piscinão de Deodoro. Atenção, eu não me confundi, no domingo ele reinaugurou o Parque Radical de Deodoro, quatro dias depois ele voltou ao bairro para reabrir o Piscinão. Crivella disse que os moradores da região precisam de opções de lazer. Perfeito, prefeito, mas vou recorrer ao morador da Rocinha para lembrar alguns aspectos. É urgente que as obras na Avenida Brasil terminem, que não seja um suplício chegar ao Centro do Rio e consumir quase duas horas de seu tempo na via. Pois Piscinão e Parque Radical só poderão ser aproveitados se os moradores dessas áreas tiverem tempo para aproveitar. As idas ao bairro de Deodoro, parecem-me benfeitorias para agradar eleitores, já que a região maciçamente votou em Crivella no pleito municipal. No entanto, benfeitorias na lógica "banho de loja".

Na sexta, o prefeito participou da inauguração de uma cooperativa da Zona Portuária com 16 costureiros e costureiras.  Dezesseis!


Bem, prefeito, escolas no Borel, na Mineira e no Morro do Urubu não abriram enquanto o senhor participava de inaugurações nessa semana. Mais de 4 mil crianças ficaram sem aulas. Com todo respeito à cooperativa da Zona Portuária, diante da efervescência da cidade, esse item caberia mais na agenda de um candidato a vereador do que na do mandatário da cidade.


A demora para entrar efetivamente no assunto Rocinha pode gerar especulações. O prefeito não deu a devida urgência por ter sido menos votado na Rocinha? Outra opção é não saber o que dizer ou fazer, o que é muito ruim também.

Em meio à tragédia urbana que o Rio de Janeiro vive, a Prefeitura encontrou tempo de perguntar qual a religião de quem malha nas academias ao ar livre da cidade. Acho que o prefeito ainda não aprendeu que governa para todos os credos, todos os bairros e não pode ser prefeito de um partido, ou de uma religião.


O Rio é Rocinha e Maré, Deodoro e Ipanema. Esquecer essa pluralidade é pecado (por favor, com trocadilho). No Rio tem quem é de amém, quem é de saravá, e quem não é de nada disso. E até primeiro de janeiro de 2021, prefeito, o senhor tem que cuidar de todos eles. Tem até que entregar as chaves da cidade ao Rei Momo no carnaval. Não sabe brincar, não desça pro play, no caso, não queira ser prefeito.

Meter a cara na lama




No dia 28 de outubro completaria 80 anos Almir Pernambuquinho. A foto neste post mostra o momento em que ele arrasta a cara na lama para fazer um gol pelo Flamengo contra o Bangu num jogo no meio do campeonato de 66. Almir ficou na história por passagens pelo Santos, Vasco, Boca Juniores (aliás, no museu do Boca tem uma falha que percebi por acaso, o nome dele está em dois diferentes lugares da galeria de honra). Ficou na história pelo gênio forte, demonstrado ao tentar melar a decisão de 66, promovendo uma briga que acabou em pancadaria generalizada. Gênio que provocou sua morte numa briga de bar. No entanto, gostaria de falar novamente da foto. Num futebol asséptico, de declarações mornas e times que se conformam com resultados ruins, meter a cara na lama para fazer um gol talvez seja a forma de retomar a gana por vencer. A foto mais célebre desse gol é uma do Almir comemorando o gol com a cara suja. O instantâneo percorreu o mundo. Então, meta a cara na lama para fazer um gol, se necessário for. Faça como Almir. Bem, político corrupto entra de corpo inteiro na lama, mas aí é outra história, na verdade é gol contra.



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