quinta-feira, 17 de junho de 2021

Os apertos e os botões

O botão vermelho jazia no asfalto. Abandonado ali na rampa da calçada. Bem pequeno, com uma cor que contrastava com o cinza do calçamento. 


Quem o perdera? Parecia um botão de camisa, pois era pequeno. Se fosse maior a situação de quem ficou sem ele poderia ser pior. Poderia ser de uma calça, se grande fosse, e então o desafortunado ou desafortunada teria que se fiar no cinto para não passar aperto.


 Mas pelo tamanho devia ser um botão de camisa. Bem, se for botão de camisa, melhor que seja dos extremos, ou o último de cima, ou ultimo de baixo. Em cima, posa-se de despojado. Se for o de baixo, coloca-se a camisa para dentro da calça e vida que segue. Ruim mesmo é perder o botão que fica perto do umbigo. A perda desses desconjunta a harmonia do abotoar.

 

Quantas histórias poderia haver testemunhadas por aquele botão? O desencontro dele com a casa a que pertencia poderia ser por calor, ou desejo. 


O fato é que agora ele não testemunharia mais nada. Jazia no asfalto e eu só o percebi porque olhei para baixo enquanto o sinal não abria. 


Pensei em quantas coisas nos são invisíveis e só as percebemos enquanto o sinal está fechado. Depois que a locomoção é permitida, a gente segue e o botão fica pra trás. Até ser recolhido por uma pá, chutado por um desaviado e, muito raramente, reaproveitado enquanto botão.