domingo, 7 de junho de 2020

Amadou Diallo, João Pedro, George Floyd...

Há 20 anos 4 policiais brancos de Nova York foram absolvidos após fuzilar com 41 tiros um jovem negro desarmado de 22 anos. Amadou Diallo saiu da Guiné para os EUA com o objetivo de estudar. Ao chegar na America, não conseguiu se estabelecer. Morava no Bronx, um lugar na periferia da cidade mais icônica do mundo. 

Em fevereiro de 1999 chegava em casa quando foi abordado pelos 4 policiais. Ele se ajoelhou e ao pegar a carteira no bolso, os policiais dispararam 41 tiros contra o jovem indefeso.

Os homens faziam parte de uma equipe da polícia nova-iorquina chamada Divisão de Crimes de Rua. Eles andavam à paisana e com carros descaracterizados. A divisão era uma das iniciativas do prefeito Rudolph Giuliani dentro da politica Tolerância Zero, para diminuir os índices de violência na cidade. 

A mãe de Amadou Diallo foi da Guiné para os EUA buscar o corpo do filho e pedir justiça. Foram 11 meses de espera, manifestações , atos de desobediência civil pressionando Giuliani e a policia. 

Os advogados de defesa dos acusados conseguiram o “desaforamento”, que é a transferência para uma jurisdição diferente de onde aconteceu o crime. 

Dizendo que os moradores do Bronx estavam com o julgamento “contaminado” pela pressão da mídia, a justiça tirou o caso de lá, onde 81% da população eram de pessoas negras e mandou para Albany, onde 89% da populacão eram de pessoas brancas. No novo local o júri de 12 pessoas era composto por 8 brancos e 4 negros. 

Após o julgamento os 4 policiais foram absolvidos numa decisão que chocou a comunidade negra americana. 

Passados 20 anos, os americanos tiveram que voltar às ruas para protestar pela morte de um homem negro desarmado com a participação de 4 policiais brancos.

Um jornalista americano que cobriu o caso Diallo foi ouvido na excelente série documentário Condenados Pela Mídia. Ele disse que “Racismo se trata de medo e o medo do homem negro na esquina continua ate hoje”. 

Há incontáveis Amadous pelas esquinas das periferias do mundo. No Brasil temos muitos casos assim, alguns ganham notoriedade, outros entram nas estatísticas como “auto de resistência”. Os mortos têm em sua maioria a mesma etnia. Fingir que isso não acontece estruturalmente é cinismo, maldade, burrice ou tudo junto.