domingo, 22 de julho de 2018

Os candidatos e o palanque eletrônico

A eleição presidencial deste ano vai ser um teste sobre qual o peso do tempo de TV e Rádio para os candidatos. Nas eleições proporcionais, devido ao tempo pequeno que os candidatos têm, a importância dessa exposição é relativizada. Nas majoritárias, muitas alianças são negociadas por conta do tempo no horário eleitoral gratuito. 

Na eleição para a Prefeitura do Rio, o maior tempo do candidato Pedro Paulo não foi suficiente para que ele garantisse a vaga no segundo do turno. Com 11 segundos por programa, Marcelo Freixo foi para a segunda da etapa do pleito. 

Jair Bolsonaro terá 8 segundo de tempo de televisão. Talvez o candidato tenha entrado numa espécie de inferno astral. Depois da dificuldade para arrumar um vice, terá que se contentar com Janaína Paschoal, advogada paulista que fundamentou o pedido de impeachment de Dilma Rousseff. O capitão é um fenômeno das redes sociais, será que no mundo atual essa força será capaz de suprir seu “sumiço” quando começar o horário eleitoral gratuito? 

Bolsonaro não tem estrutura partidária. Essa falta de capilaridade com diretórios municipais e estaduais representativos pode ser outro problema para que ele transforme em votos seus números nas pesquisas da pré-campanha. 

O jogo está completamente embaralhado, isso não é segredo, mas o candidato do PSDB conseguiu uma arma importantíssima para a corrida presidencial. O Centrão era o dote disputado por Geraldo Alckmin e Ciro Gomes. O ex-governador de São Paulo levou a melhor. Além do tempo de propagandas, Alckmin leva junto a máquina partidária de legendas como PR, PP e DEM.

As previsões sempre têm um grau de leviandade num quadro como este, mas parece que Geraldo Alckmin se credencia como o candidato com maior potencial de crescimento. A encrenca para o tucano é seu desempenho pífio nas pesquisas da pré-campanha. 

Ciro Gomes, do PDT, teve um grande revés ao perder o apoio do Centrão. A possibilidade de decolagem do ex-governador do Ceará depende da presença ou não de Lula na eleição. Sem o petista, Ciro seria o candidato mais viável das esquerdas. Os pedetista tenta atrair o PSB. Muito da decisão dos socialistas depende de São Paulo. O governador Marcio França, candidato à reeleição, é muito ligado a Geraldo Alckmin, de quem foi você governador, e pode representar um empecilho para a adesão completa da legenda à candidatura de Ciro. 

Quanto a Henrique Meirelles, a candidatura é natimorta. A declaração de Renan Calheiros dizendo que não o acha um bom candidato já dá a senha para traição em massa que será organizada pelos líderes do PMDB. 

Marina Silva tem o mesmo problema de Bolsonaro. Números expressivos nas pesquisas enquanto a corrida não começa, mas a falta de estrutura partidária a deixa alijada como candidata competitiva. 

Começaram as convenções, agora teremos os nomes mais definidos. No entanto, a corrida presidencial precisa da definição de uma questão urgente: Lula será candidato ou não. Enquanto essa resposta não vier, qualquer prognóstico é exercício inútil de futurologia. 

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Meu amigo vai morar longe

Nem sempre as despedidas são tristes. Às vezes quem parte vai realizar um sonho e quem fica torce muito. O que pode dar algum arrependimento é que a gente sempre acaba se vendo menos do que poderia. Mas nas despedidas boas, quase sempre existe a possibilidade do reencontro. 

Conheci meu amigo na faculdade. Já expliquei que por vários motivos eu era em média 5 anos mais velho do que as pessoas da minha turma. Amigos, ter 23 anos no meio de uma galera de 18 dá a sensação que você é avô deles. 

Mas ok, acabei sendo bem recebido pelas “crianças”. Hoje, tendo todos mais de 40, a diferença de idade se diluiu. 

Mas voltando aos anos 90, meu amigo dizia: “vou trabalhar de tênis, quero ser repórter esportivo”. Acho que naquela época todos nós queríamos ser repórteres esportivos. 

Num daqueles jornais experimentais que toda faculdade de comunicação tinha, lembro até hoje de um texto que ele fez sobre um gol histórico que deu um título ao time de coração dele. 

Fiquei impressionado, era muita cultura geral, o cara era um monstro. O referido episódio tinha mais de 50 anos! Meu amigo era realmente um cara de múltiplos talentos, culto, CDF, galã e zagueiro de boa técnica. 

Teve uma semifinal “histórica” no campeonato de futebol da faculdade.  A gente empatou um jogo muito difícil com um gol de letra dele, depois de uma jogada individual de raça deste escriba. Pode ter sido mais sorte do que raça da minha parte, mas o gol foi de letra. Bem, passaram-se mais de 20 anos desde aquela tarde, a imprecisão pode vir dai. Ah, perdemos a decisão por pênaltis, e eu desperdicei a cobrança decisiva. A vida não é feita só de vitórias, existem boas histórias até nas derrotas. 

Devo a esse meu amigo meu primeiro estágio no jornalismo. Ele passou na prova para o Sportv e abriu uma vaga como estagiário da Band. Fui para lá. Não cheguei nem perto do seu desempenho televisivo, mas pelo menos o estágio me serviu para abrir as portas do jornalismo. 

Ele foi uma das primeiras pessoas a visitar meu filho Pedro na maternidade. Também foi um dos primeiros a me visitar no hospital quando tive o infarto. Nesta última ele constatou: “Você foi um dos primeiros amigos que  fui visitar quando o filho nasceu na maternidade. Agora é o primeiro amigo que visito no hospital depois de um infarto”. Ainda bem que ele conseguiu me visitar...

Amante do Império Serrano, do futebol e de esportes em geral, meu amigo vai para uma aventura do outro lado do mundo. Carlos Gil, vai com tudo. Você sempre deu mostras que poderia seguir pelo caminho que está trilhando. 

O Rio, a praia, o Império vão continuar por aqui. Vai lá ver o sol nascer antes de nós e conta como é. Um beijo pra Anna Olivia, pro Vicente e pra Emília. Que a aventura seja divertida e que você continue a trabalhar de tênis por muito tempo. 


Gol da Rádio SRZD

A Rádio SRZD dá mais um passo em direção ao futuro das transmissões esportivas. Com a narração de Marcelo Gomes, o ouvinte acompanhou Santos X Palmeiras, na estreia do projeto na terra da garoa. Um dos comentaristas é Paulo Massini. Marcelo e Massini faziam parte da excelente equipe de esportes da CBN em São Paulo, montada por Álvaro Oliveira Filho. 

Marcelo Gomes é um monstro, que narra qualquer esporte com maestria. O conheci durante a cobertura do PAN de 2007. Vi Marcelo narrar em um só dia partidas de basquete, vôlei e futebol com a mesma competência. 

Paulo Massini é um comentarista crítico, com tiradas sensacionais. Ou seja, tanto no Rio, quanto em São Paulo, a Rádio SRZD conseguiu reunir grandes  talentos para esse momento em que os desafios do rádio se mostram enormes. 

A disposição para inovar do Sidney Rezende é antiga. Desde a Panorama Brasil, quando ele, Marco Antônio Monteiro, Patrícia Mauricio, entre outros, ousaram fazer uma programa jornalístico em FM, num projeto que precedeu o formato da CBN.

A Rádio SRZD é uma tentativa de abrir o mercado. Como qualquer empreendedor, ele luta com todas as dificuldades de uma país em crise, mesmo assim, insiste. “Estamos inovando, se estamos no caminho certo, o tempo dirá”. 

O caminho para as transmissões esportivas no rádio está nas plataformas digitais. Não há mais mega audiências no dial. O veículo tradicional está passando por transformações. Não é segredo que a internet é um caminho para que o jovem se aproxime do universo radiofônico. Além do que, fazer uma rádio online, pode significar pluralidade nas vozes da sociedade. As concessões, muitas vezes usadas como moedas de troca política, não podem ser a única forma de ter um canal para falar com o público. 

Como a Rádio SRZD, que transmite futebol, carnaval e notícias, há exemplos como a Rádio Arquibancada, especializada na cobertura de carnaval, tocada, entre outros, pelo meu contemporâneo de faculdade Anderson Baltar. Quem gosta dos desfiles das escolas, escolhas de samba enredo e bastidores  tem um amplo cardápio  na web. 

Torço pelos excelentes profissionais que fazem a Rádio SRZD e torço também pela janela de possibilidades aberta para o mercado dos radialistas. “Vamos vencer, ou pelo menos vamos acender uma luz de vela para o caminho que os outros construirão”, disse- me Sidney, confiante e realista. 

Que o exemplo da Rádio SRZD inspire outras iniciativas. Projetos que abram mais postos de trabalho e aumentem o espectro de opiniões disponíveis na sociedade brasileira. Que o rádio mostre poder de renovação e de reinvenção, transmitindo em novas plataformas e em novos formatos. Para saber mais sobre a rádio clique no link: 

quinta-feira, 19 de julho de 2018

ANS ou sindicato das operadoras?

No trânsito somos todos pedestres. A frase não é minha, é de um comercial de seguro de carros. Mas resolvi dar uma adaptada. Na vida, somos todos consumidores, já diria Nestor Garcia Canclini. 

Recorri ao pensador argentino para comentar a declaração do diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar. Ao criticar a decisão da presidente do Supremo que impede os planos de saúde de fixar em até 40% para exames e consultas em planos de coparticipação e franquia, Rodrigo Aguiar afirmou que a agência não é órgão de defesa do consumidor. 

A insensibilidade do burocrata é mais uma prova que as elites  econômica e política são alheias à realidade da população. Canclini explica a nossa condição atual de consumidores e cidadãos. Vou pegar emprestado parte das teorias para explicar que ao defender o consumidor, a ANS defenderia o cidadão e a sociedade. Em nosso mundo, nossa capacidade de consumir influência na nossa cidadania. 

No entanto, deixemos a teoria de lado para falar de coisas práticas. A cara de pau do diretor da ANS é impressionante. Ao dizer que está colocando limites e não determinando que o percentual seja de até 40% ele está tirando a possibilidade de negociação do cliente. Ou em sua “ingenuidade”, ele acredita que as “bondosas” operadoras praticarão um percentual menor? Vergonha, vergonha, vergonha. 

O diretor da agência que regula o setor defende, em última instância, que as empresas pratiquem um cartel, pois todas cobrarão os 40% de participação. Para variar, o bolso do cidadão vai pagar para o andar de cima lucrar. 

Uma agência que regula um setor agindo de forma parcial em favor dos patrões perde totalmente a razão de ser. É melhor dar o verdadeiro nome a ela: sindicato patronal das operadoras de plano de saúde. 

Infelizmente, nesse país em que a saúde pública sofre cortes frequentes, a classe média recorre aos planos de saúde para tentar ter alguma dignidade no atendimento. No entanto, se a decisão da ministra Carmen Lúcia foi derrubada pelos seus colegas, planos de saúde não serão mais para a classe média, passarão a ser opção para aquele 1% que pode pagar. 

A população brasileira vai depender da sensibilidade do Supremo para que as operadores de Plano de Saúde não promovam uma extorsão em níveis históricas. Pois da ANS, não se pode esperar nada mesmo. 

Quem quiser saber um pouco mais de Nestor Garcia Canclini deve ler o livro Co sumidouros e cidadãos. Aliás, o diretor da ANS poderia dar uma olhada, para colocar alguma teoria em sua prática e não falar besteira. 


terça-feira, 17 de julho de 2018

Crivella será fustigado pela mídia até o fim do mandato

O cerco dos veículos de imprensa a Marcelo Crivella está apertando. Notadamente, o Grupo Globo está com o foco em cima do prefeito. Sem dúvida, os seguidos furos com as condutas pouco republicanas do prefeito são um serviço à população do Rio de Janeiro. Crivella tem um adversário de peso e vai ficar o restante do mandato sendo fustigado. Se não parar de misturar religião com a administração da cidade, vai ter que disfarçar melhor a partir de agora. 

A decisão da justiça do Rio determinando que Crivella não beneficie seu grupo religioso é quase humorística, pois isso é tão óbvio que fica parecendo uma comédia de erros um juiz ter que dar essa ordem. É o tipo de sentença que só será cumprida com o auxílio da fiscalização do povo do Rio e dos veículos de comunicação. Logo, a decisão da justiça tem outra função, é uma bela justificativa que os empresários de comunicação têm para manter o bispo-prefeito sob o escrutínio voraz dos jornalistas. 

Outra encrenca que Crivella terá que enfrentar é a justiça do DF mandando bloquear seus bens por suspeita de improbidade quando ele era ministro da Pesca. Mais munição para que o prefeito seja atacado. Um dos trunfos que ele carregava era não ter o nome envolvido em escândalos de corrupção. Essa “pureza”, Crivella não tem mais. 

Insisto na tecla de que Marcelo Crivella venceu as eleições por causa da entressafra de lideranças políticas da cidade. Crivella é a ressaca pelo fim do “cesarisno” de 92 a 2008 e o “eduardismo” de 2008 a 2016. Os políticos que poderiam herdar esse eleitorado (Carlos Osório, Pedro Paulo e Indio da Costa) se engalfinharam e permitiram a chegada do bispo à Prefeitura. 

O prefeito é um “pileque homérico” (para usar as palavras buarquianas). Se o mandato já era errante com as ligações heterodoxas com seu grupo religioso, a operação para barrar o impeachment fez com que ele vendesse a alma aos vereadores. Ou seja, antes da metade do mandato, Crivella já é refém. Para salvar a pele, terá que ceder aos caprichos dos ocupantes do Palácio Pedro Ernesto. Se ainda não tinha acontecido, agora o prefeito vai ser apresentado a vida dura da política. 

Voltando ao cerco dos grupos de comunicação ao prefeito, são elogiáveis os esforços de reportagem que estão descortinando a pouca ortodoxia das relações de Crivella com a igreja. No entanto, a idade me deixou chato. Espero que os grupos de comunicação tenham a mesma conduta com governantes que chegaram ao poder apoiados por eles. 

Sérgio Cabral faliu o estado com um esquema criminoso em vários níveis da administração, mesmo assim, recebeu uma cobertura simpática até quase o fim de seu segundo mandato. Jornalismo deve ser uma ferramenta que a sociedade tem para controlar os governantes. Se os grupos de mídia usarem a máxima “aos amigos tudo, aos inimigos justiça” serão tão levianos quanto os políticos que atacam e fazem mal à população. 

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Saem do palco os jogadores, entram em campo os candidatos

Agora não tem mais jeito. Passou a Copa e a agenda é de eleições. Esta semana começam as convenções partidárias. Ciro Gomes, pelo PDT, será o primeiro a ser formalmente declarado candidato. 

O pedetista tenta uma aliança com o Centrão. Na verdade a vitória passa pela costura política com PP, PSD, DEM e outros partidos de menor expressão que integram a corrente. Ciro está de olho no PSB. Mas nessa disputa tem a concorrência com o PT, que também quer a aliança com os socialistas. Digamos que Ciro tenta se habilitar como o candidato de centro-esquerda. 

Pela Centro-Direita correm Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles.  Mesmo com a força em São Paulo e a máquina partidária, Alckmin não decola de jeito algum na pré-corrida. A esperança dos tucanos é que com as pedras no tabuleiro, Alckmin consiga alavancar a candidatura. 

A situação de Henrique Meirelles é parecida com a de Ulysses Guimarães em 1989: é o candidato da situação de um presidente fraco. Além disso, o espírito “traidor” do PMDB vai pulsar forte nas eleições. José Sarney, Renan Calheiros e Jader Barbalho já estão vendo em que canoa vão embarcar e com certeza não será na do ex-ministro da Fazenda. 

Marina Silva não tem força partidária. Quando começar a campanha, provavelmente seus bons números nessa fase de aquecimento vão se dissolver. 

Se Lula não for candidato, o que é mais do que provável, e não aparecer o nome de conciliação nacional, as eleições de outubro se encaminham para um enfrentamento de Ciro Gomes e Jair Bolsonaro. 

O deputado tenta fazer movimentos mais ao centro para ampliar seu espectro de eleitores. O irascível parlamentar tenta emplacar uma versão “Bolsonarinho paz e amor” para conseguir conquistar setores ainda descrentes de sua capacidade de conduzir o país. 

Na verdade por mais que se tente construir uma imagem, “os personagens se revelam após o aplauso final”, cantaria mestre Lulu Santos. Basta dar uma olhada no noticiário sobre as práticas do prefeito do Rio. Marcelo Crivella se elegeu dizendo que não misturaria política e religião e foi a primeira coisa que fez. 

Podemos ir mais longe. Apregoou-se uma imagem da Rússia alegre e simpática. Pois bem, na hora do pódio desabou um aguaceiro daqueles. Havia muitas autoridades na cerimônia, como o presidente da FIFA, o presidente da França e a presidente da Croácia. No entanto, a primeira pessoa a ser protegida da chuva foi Vladimir Putin,  atitude que mandou a fidalguia para a Sibéria. As máscaras sempre caem. Quem brada em favor de um torturador, jamais será um democrata. 





quinta-feira, 12 de julho de 2018

O jogo pesado para salvar Crivella

Cresci com a teoria da conspiração da propaganda subliminar. Ela funcionaria assim, a marca que queria fazer a tal propaganda, projetava imagens rapidamente. Essas imagens não eram capturadas pelos olhos e iriam diretamente para o subconsciente. Na verdade a propaganda subliminar nunca foi cientificamente comprovada. Além do mais, hoje a propaganda está massivamente em tudo, agindo explicitamente, logo, a propaganda subliminar foi para o mesmo cemitério onde sepultaram as ombreiras. 

Mas pegarei emprestado o conceito da propaganda subreptícia para voltar a falar de Marcello Crivella. Estarrecedor o que o MP investiga em duas escolas da rede municipal do Rio. Matéria publicada no jornal O Globo informa. que pastores da Igreja Universal usaram as instalações do Ciep Ministro Gustavo Capanema, na Maré, e da escola Joaquim Abilio Borges, no Humaita, para fazer ações sociais, como cortar cabelo, fazer massagem e atendimento odontológico. As pessoas que prestavam os serviços usavam uniformes com o logotipo da igreja. Havia ainda um atendimento espiritual e distribuição de panfletos. 

Essa página de misturar educação pública e religião estava virada. O ex-prefeito Eduardo Paes determinou que os católicos não fizessem mais evangelização nas escolas. Paes fez cumprir uma coisa óbvia: instituições públicas são laicas. A escolha por uma educação religiosa não pode ser compulsória numa escola municipal. 

A expansão das igrejas pentecostais tem muito a ver com a capacidade de evangelização. Elas cresceram nas áreas periféricas de todo o país, num vácuo deixado pelos católicos. O conforto espiritual, antes dado exclusivamente por padres, passou a ser dado por pastores e obreiros. 

A chegada de Crivella à prefeitura pode representar o aparelhamento das escolas no sentido de ganhar novos adeptos ou reforçar adesões. A sabedoria popular já aponta a estratégia: “é de pequenino que se torce o pepino”. Não podendo ser explícito e determinar que as escolas municipais tenham ensino religioso evangélico, o prefeito permite que a igreja da qual é bispo faça proselitismo disfarçado de ação social. Ou seja, o prefeito elevou a sofisticação da “propaganda subliminar”. Clientelismo é outra palavra para definir o que Marcelo Crivella faz na Prefeitura do Rio. 

Há outra i formação preocupante nos jornais. A coluna Informe do Dia traz a notícia que a cúpula da Universal vai jogar pesado contra os vereadores que votarem a favor da abertura do processo de Impeachment do prefeito na Câmara dos Vereadores. A ordem é fazer dossiês e publicar nos órgãos de comunicação evangélicos. O nome disso é coação. A simples possibilidade de despertar a ira dos pastores vai provocar o recuo de muitos vereadores. 

Não sejamos inocentes. É claro que as matérias dos veículos do Grupo Globo contra Crivella tem como pano de fundo a disputa com a Record. No entanto, isso não invalida a gravidade do “Cataratagate”. 

Crivella é o pior prefeito do Rio desde que a população voltou a escolher os alcaides, em 1985. E olha que neste caminho já tivemos até a falência do município, menos pela incompetência do gestor e mais por um boicote político. 

Continuo a não acreditar que a Câmara aprovará o Impeachment de Crivella. Mesmo assim, espero honestamente que o combate a essa política funesta e clientelista permaneça sem tréguas e que o bispo não consiga se reeleger. 

Não há santos na política, mas alguns parecem estar mais perto do Inferno do que outros. 

  

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Nego do Borel, James Brown e as tomadas de posição

Provocado por meu amigo e ex-aluno Alexandre Costa, fui ver o último clipe de Nego do Borel. O primeiro desafio é ouvir Me Solta e não ficar repetindo o refrão pelas próximas três horas. Logo, escrevo esse texto sem que a batida e as palavras tenham saído da minha cabeça. 

Minha grande dúvida é se o cantor entendeu o que estava fazendo. Um artista saído de áreas periféricas já é um grande vencedor ao furar o bloqueio armado por sua origem. Nego do Borel é um sucesso. 

No entanto, a cena do beijo entre Nego e um modelo pareceu ter mais o intuito de chamar atenção do que de defender uma questão da causa LGBT. A ex-namorada usou uma rede social para criticar o artista e dizer que a personagem do clipe era antiga. Ele já fazia em gravações velhas no celular. 

Alguém teria que falar com o cantor que hoje em dia nada pode ser gratuito. Se ele se veste de mulher e protagoniza uma cena gay, é necessário que haja uma mensagem, uma causa.  Seria diferente se houvesse uma narrativa mais clara. 

A música Deixa a Menina, de Chico Buarque, tem um arco dramático parecido com o funk de Nego do Borel. Transporte o baile funk para uma gafieira, e troque “me solta, porra” para “deixa a menina sambar em paz”. 

Na canção de Chico, existe a narrativa mais clara, à qual me referi. A de Me solta deixa muitas pontas soltas. E como os diretores não conseguiram resolver as inconsistências, sobrou para Nego do Borel o rótulo de oportunista. Talvez se a produção tivesse usado varias situações em que alguém fosse cerceado de participar do baile, o enredo seria mais rico. Uma mulher, mais velha, um casal hétero, um casal gay, uma pessoa transgênero, todos encenando situações em que coubesse o refrão “me solta, porra”. Aí sim, haveria alguma mensagem. 

A inconsistência do clipe, transborda seus enquadramentos quando Nego do Borel faz uma selfie com Jair Bolsonaro. Aí é que a narrativa fica mais frágil. Hoje em dia, mais do que nunca, a pessoa pública tem que espelhar em seus fazeres profissionais suas atitudes pessoais. Fazer um clipe em que se veste de mulher e beija um homem perde toda força ao se deixar fotografar ao lado de uma pessoa que é declaradamente contra a causa LGBT, como Jair Bolsonaro. 

A situação de Nego do Borel me lembrou a de um outro cantor.  Vi um documentário sobre James Brown exibido no canal Curta!, nele é remontada a trajetória do Rei do Funk, ídolo entre outros, de Michael Jackson. Por favor, James Brown e Nego do Borel pertencem a planetas diferentes em relevância no mundo da música, eu sei. 

Pois bem, na década de 1960, Brown construiu um império. Tinha estações de rádio, rede de restaurantes e até um jatinho. No contexto da valorização do papel do negro na sociedade americana e da luta pelos direitos civis, James Brown era um exemplo para a comunidade. 

No entanto, a carreira começou a ruir quando ele pediu votos para Richard Nixon, candidato republicano à presidência. Aquele apoio “inusitado” fez com que seu público passasse a rechaçar suas iniciativas. A situação foi tão dramática, que James Brown perdeu tudo. O cantor chegou a ser preso e “cumprir uma etapa” na cadeia, para usar um jargão de Tim Maia. 

Nego do Borel parece estar exposto a uma combinação tóxica. O vídeo inconsistente e o retrato heterodoxo com o candidato-capitão podem render mais críticas do que elogios  ao cantor. Nego deveria conversar mais com a amiga Anitta para entender como passar mensagens em clipes. 

terça-feira, 10 de julho de 2018

Os meninos da Tailândia e as nossas esperanças

Bilhões de pessoas voltaram seus olhos para a Tailândia. Claro que nada surpreende quando se trata de comportamento humano, no entanto, é impossível ter ficado indiferente ao drama do professor e dos 12 alunos presos na caverna. 

Meu primeiro pesadelo foi o meio egotista. Coloquei-me não lugar deles. Lembrei de uma vez que não consegui entrar numa mina desativada em Ouro Preto. Andei poucos metros e tive que recuar. Quando isso aconteceu eu tinha mais de 40 anos. Chego à conclusão que nunca terei a coragem destes 13 sobreviventes. Logo, se estivesse lá, não conseguiria sair, fato. 

Depois veio a agonia de pensar em meus filhos em tal situação. Se até agora louvei a coragem dos presos, me confraternizo com os pais. Meus filhos têm idades próximas dos garotos. Não parava de pensar na sensação de impotência que os pais deles viveram nas últimas semanas. 

Alguns com muita fé diriam que havia um décimo quarto ente naquela caverna. Um ente que manteve elevada a moral dos meninos e do professor. Uns vão dizer que foi Deus, outros que foram as boas energias. Eu acho que pode ser um pouco de tudo, mas o engenho humano tanto pode ser perverso, quanto maravilhoso, como foi no resgate. 

Os responsáveis pela operação calcularam o risco, encontraram literalmente uma saída, em meio às rochas, lama e toda a dificuldade. 

Esses meninos viveram a aventura de suas vidas. Só sendo adolescente, com a certeza da imortalidade viva no peito, para encarar um mergulho rumo ao desconhecido com a incerteza que vai voltar a ver a luz do dia. 

Nos mobilizamos emocionalmente com esta história porque havia um pouco de nossos filhos, representados pelos meninos, havia um pouco de nossos pais, na figura do professor. 

Mergulhadores voluntários, a marinha da Tailândia e a resiliência das pessoas dentro da caverna foram fundamentais pra que as lágrimas fossem de alegria ao fim da jornada. 

Uma experiência de solidariedade tão poderosa que até o grande vilão da sociedade ocidental, Donald Trump, aplaudiu o desenlace. 

Às vezes estamos em cavernas profundas e sem expectativa. O final feliz da história dos meninos e do professor na Tailândia mostra que pode haver uma saída e um final feliz para nossos dramas. 

Eles se salvaram da tragédia, mas podem também ter salvado um pouco da nossa esperança. O meteoro não precisa vir destruir o planeta, como alguns brincam, ainda temos boas experiências para compartilhar. Um mais um é sempre mais que dois, como diz a canção. Neste caso, 90 mergulhadores foram instrumentos de bilhões de pessoas para que os meninos e o professor voltassem ao convívio de suas famílias. 


segunda-feira, 9 de julho de 2018

Impeachment de Crivella? Conte outra

Marcelo Crivella está sofrendo mais uma exposição negativa depois do “cataratagate”, encontro com pastores para oferecer facilidades. No entanto, esperar que a nossa Câmara de Vereadores aprove a abertura de um processo de Impeachment contra o Bispo é a mesma coisa que esperar a abertura da Baía de Guanabara para uma corrida entre Copacabana e Icaraí. Não vai rolar.

Vamos aproveitar para tirar lições da trapalhada histórica que o eleitor do Rio fez quando colocou  Crivella no Palácio da Cidade. A primeira coisa, ao colocar alho e cebola no liquidificador, o produto depois de processado não será vitamina de abacate. Marcelo Crivella não está fazendo nada de diferente do que dele se esperava. Se você acreditou naquele papinho de não misturar política em religião, está atrasado para pedir ao coelhinho ovos de Páscoa, mas ainda dá tempo de escrever cartinhas para Papai Noel. 

Nas próximas eleições, vai ter gente mudando o visual, tentando ficar mais palatável com objetivo de conseguir seu voto. Não se engane, ele vai continuar tendo ataques de ódio e incentivando as divisões, sem acreditar em diálogo. 

Não espera que ao combinar coturno, revólver e ódio resulte em ordem. Vai no máximo dar em pancada, amordaçamento e fim da liberdade. É bom refletir. Mesmo com todo marketing, maquiagem e assessores, as pessoas se revelam. É a nossa sorte. A gente só cai na esparrela se quiser. 

A população carioca caiu na esparrela. Gente muita mais gabaritada do que eu já explicou, que o eleitorado de centro se diluiu, não chegou ao segundo do turno e permitiu essa excrescência política que ocorre hoje na cidade. 

Crivella tem uma estratégia política bem definida, a implantação de uma cidade conservadora e totalitária.  Uma espécie de símbolo religioso, em que as heranças católicas e africanas sejam colocadas de lado. A “crivelização” da administração da cidade passa por censo religioso dos funcionários municipais,  mudança de nomes de rua e por privilégios ao grupo do prefeito. 

No que depender do nosso alcaide, trocaríamos a festa momesca por um grande fim de semana de evangelização. O batuque e o batidão seriam convertidos em cânticos de louvor e os rituais que ele considera pagãos seriam abolidos. 

O monumento da Praça da Apoteose seria redesenhado para parecer uma cruz, a imagem do Cristo Redentor seria derrubada, afinal, como pode uma cidade evangélica ter um símbolo católico no cartão postal?

Mas a solução para que o Rio não vire a “crivelândia” está em nossas mãos. É só não permitir que ele se reeleja e leve seu projeto excludente e fundamentalista adiante. Impeachment de Crivella? Não conte com isso. 

domingo, 8 de julho de 2018

O retrato de Machado de Assis, os ataques a Fernandinho e o racismo no Brasil

A última foto pública de Machado de Assis me emocionou. Fotografias têm esse dom, transportam para lugares distantes e provocam reflexões. O homem de casaca e barba grisalha tinha 68 anos, mas parecia muito mais velho do que meu sogro, que está com 81. Ou seja, além de aumentar a expectativa de vida, os novos tempos deram mais jovialidade às pessoas da terceira idade.  

Estou numa fase de releitura de Machado de Assis. Perdão a todos os escritores, mas acho que nenhum brasileiro conseguiu escrever nada melhor nos últimos 110 anos. A respeito da foto, um dos dos alunos que tive orgulho de cruzar pelo caminho, Thiago Coelho, fez uma observação. Como passado tanto tempo, a questão da negritude de Machado continua a ser ignorada. 

Comecei a pensar em como essa situação permanece atual. Certa vez ouvi uma crítica de Paulo Cesar Caju sobre o fato de Pelé  nunca ter assumido posições políticas na defesa da igualdade. Em 2014, quando o goleiro Aranha sofreu injúria racial em Porto Alegre, o Rei chegou a criticar o jogador por ter dado publicidade ao fato. 

Perguntado sobre o racismo, em 2005, Ronaldo Fenômeno se classificou como branco. Em 2010, aos 18 anos, Neymar também negou a negritude. De fato, não sei se depois de tantos anos na Europa e com o amadurecimento provocado pela ação do tempo, ele continua a pensar assim. 

O fato é que nos séculos XX e XXI, com todas as conquistas e políticas afirmativas, figuras públicas brasileiras se sentem ou se sentiam desconfortáveis com a etnia a que pertencem. É possível pensar como era mais intensa essa negação por parte de Machado de Assis. 

É emblemático como Machado parecia se colocar fora da questão. Em Memorial de Aires, último livro do escritor, Machado se expressa pela boca do personagem sobre a assinatura da Lei Áurea: “Enfim, lei. Nunca fui, nem o cargo me consentia ser, propagandista da abolição”. Parece absurdo que um negro, que ocupava lugar de destaque na sociedade, se calasse publicamente sobre a indignidade da escravidão. 

Passados 110 anos da morte de Machado de Assis, os negros têm muito a conquistar quando o assunto é representatividade. A questão se mostra tão evidente, que todas as noites o Brasil é apresentado a esse problema. A novela das 21h da TV Globo mostra uma Salvador branca, com os personagens negros sendo apenas periféricos. 

Mas voltemos ao futebol. Continuo achando que o volante Fernandinho teve uma atuação muito ruim na eliminação do Brasil na Copa. No entanto, a fatura da derrota não pode ser debitada apenas de sua conta. Aliás, é impreciso individualizar derrotas em esportes coletivos. 

Fernandinho, bom jogador em dia infeliz, foi crucificado e sofreu ataques racistas nas redes sociais. Situação absurda que mostra que a sociedade brasileira precisa erradicar a prática hedionda do racismo. Barbosa, goleiro da Copa de 50, morreu frustrado por todos os ataques que recebeu nos 50 anos seguintes após a derrota para o Uruguai. Dentre os ataques havia o que negros não deveriam ser goleiros. Depois de Barbosa, só houve um goleiro negro titular em mundiais, Dida, em 2006. Ou seja, quatorze Copas depois. 

Pelé, Ronaldo e Neymar se colocaram fora da questão, tal qual fez Machado de Assis no século XIX. Essa negação da negritude de Machado de Assis tem a mesma matriz dos ataques a Fernandinho, das acusações a Barbosa e da pouca representatividade dos negros na mídia. O Brasil não acertou suas contas com o racismo. Pode até ganhar torneios como a Copa do Mundo, mas vai continuar levando goleadas enquanto país. 





sábado, 7 de julho de 2018

Marcelo Crivella é o pior prefeito do Rio no século XXI

O prefeito Marcelo Crivella é uma vergonha como líder religioso. Falo isso como alguém que passou dos 6 aos 13 anos frequentando uma igreja pentecostal. Minha mãe era da Assembleia de Deus, como já contei em algum post deste blog. Lá, havia pessoas do bem, que se negariam a atos desonestos. No entanto, o exemplo tem que vir dos líderes  A atitude de reunir 250 pastores para ensinar atalhos pouco éticos na solução de problemas é péssimo exemplo. Foi uma lição pratica do que é tráfico de influência. A ação foi despudorada. 

Crivella agiu  tal qual um fariseu. Como um vendilhão do templo. Em vez de dinheiro, ele busca votos. Quem dera Jesus estivesse em carne e osso entre nós para expulsar o prefeito do templo, no caso, o Palácio da Cidade. 

Não é legítimo usar uma espaço público para fazer política privada. Crivella deveria respeitar a casa do povo, ele é apenas inquilino. A população do Rio é a proprietária. E a população do Rio é heterogênea, não é um gueto, uma seita, ou um clube. 

No entanto, Crivella não foi eleito apenas com o voto dos evangélicos. O centro e a direita se bandearam para o bispo na eleição, com medo de Marcelo Freixo. Agora, choram tal qual crianças arrependidas após fazer malcriação e ficar de castigo. 

Crivella adota uma estratégia de dividir a cidade. Nas áreas eleitorais em que obteve sucesso, as zonas Norte e Oeste, o prefeito segue fazendo seu proselitismo político. Uma praça aqui, um posto de saúde acolá, uma rua asfaltada em meio a quilômetros de ruas sem calçamento. Promessas superficiais que vão apenas engambelar os eleitores. Quem mora nas áreas mais abastadas está à míngua. O bispo sabe que não repetirá a vitória nesses locais, então investe para se garantir onde pode ter  mais voto. 

E o povo tão abandonado e desassistido encara a migalha como banquete. Como se o prefeito fosse um Robin Hood. Quem cultivou a desigualdade e o desequilíbrio de atenções é responsável pelo surgimento de Crivella e que tais. Provavelmente essa parte da cidade, que recebe agora uma falsa atenção da Prefeitura, ajudará Crivella a permanecer por mais um mandato. Você que votou no obscurantismo, parabéns. Agora não adianta, o bispo só sai do palácio quando quiser. Talvez em 2022, pois na aridez da política no Rio, provavelmente se reelegerá em 2020. Daqui a quatro anos, deverá abandonar um eventual segundo mandato na prefeitura para poder tentar voltar ao Senado, ou conseguir o Palácio Guanabara. 

E na visão obscurantista de Crivella, a Pedra do Sal não precisa ser conservada. Símbolos que lembram as heranças africanas da cidade, como as religiões, também não. A “crivelandia” pode ser um lugar hostil para o  pensamento, a cultura e a livre profissão de fé. Talvez o prefeito tenha um sonho, transformar a Marques de Sapucaí num grande “cultódromo”. Assim, a festa pagã não acontecerá numa “terra do Senhor”

Nesse momento o cidadão do Rio tem uma galeria de mortos-vivos nos poderes executivos. Um prefeito desaparecido que faz viagens mentirosas e tem agendas secretas e um governador “oco”, com cargo e sem poder. Nada mais propício num país que é governado por um fantasma político. 

Quase ao fim da segunda década do milênio chegamos seguramente a uma conclusão. Crivella é o pior prefeito do Rio no século XXI. O bispo é um dos piores efeitos da ressaca pós-Rio 2016. 

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Em 2022 tem outra, mas perder sempre é duro

Eu sempre brinco como meu filho Pedro que o próximo título do Brasil será em 2026, quando ele tiver 23 anos. A brincadeira é porque ele nasceu um ano depois do Penta, situação similar à minha, que nasci um ano depois do Tri e só vi o primeiro título em 94. 

Não vimos o jogo juntos, mas logo depois eu quis saber se ele estava muito triste. Maduramente, me respondeu: “não, apenas decepcionado. Nossa sina continua”. 

Acompanho Copas conscientemente desde 1982, são 10 mundiais, nos quais o Brasil foi a três finais e ganhou duas. Logo, é mais normal perder do que ganhar. Mesmo assim, sempre é duro. 

Achei que esse ano, por diversos  motivos, encararia com mais tranquilidade um fracasso na Copa. Nada. Apelei para todas as mandingas, estendi bandeira, coloquei camisa da sorte, fiz a necessária variação dos narradores, tudo que estava ao meu alcance. 

Não foi possível, a Bélgica cumpriu o que se determinou a fazer. Esperar o Brasil e matar o jogo no contra-ataque. Meu amigo Claudio Henrique, me disse que faltou ao Tite a sensibilidade de escalar jogadores com espírito de Copa. Minha mulher, também reclamou: “se Fernandinho não tinha condições de continuar em campo depois da falha, o Tite tinha que ter feito algo”. 

Na verdade, vencer esse mundial seria um acidente. O que acontece com os cartolas da CBF é absurdo. Obviamente, isso entraria em campo alguma forma. A CBF não tem representatividade. Se tivesse, poderia ter sido marcado um pênalti num lance duvidoso em cima de Neymar. 

Honestamente, passada a emoção, fico muito dividido. Essa corja imunda que comanda a CBF há mais de 30 anos não merecia ter o trabalho coroado com um título. Tite fez um milagre, armou um bom time. Mas não é Deus, como o banco patrocinador dele quer fazer crer. Erra. Insistiu com Jesus e Fernandinho mais do que devia. Coutinho apagou-se no momento decisivo. Neymar, a estrela da companhia, não fez o que se esperava, mas não se escondeu. Não pode ter toda a conta do fracasso em seu nome. Minha mulher, que está se saindo uma grande comentarista, me disse também que Neymar não tem estofo para carregar a seleção. O que me fez pensar que Neymar, apesar do imenso talento, não é o que se classifica na NBA como “jogador da franquia”.

Minha filha Clara repetiu o ritual, viu o jogo com o avô. Ao fim, disse que estava muito triste e chateada. Eu respondi “em 2022 tem outra Copa”. Falei como se quisesse me ouvir e me conformar.