domingo, 30 de setembro de 2018

O primeiro ano do resto da minha vida

Sou uma espécie de rei das efemérides. Adoro guardar datas. Desta forma, consigo ter marcos referenciais dos fatos que aconteceram em minha vida. Aproveito essas datas para me reavaliar, ver o que fiz até ali e como posso deixar o fardo da caminhada menos árduo. 

Neste domingo, 30 de setembro, p blog completa um ano de existência. O sonhador poderia escrever “o primeiro aniversário”, mas o pragmatismo recomendo que eu conte as datas uma a uma, sem projeções. 

Queria ter a confiança da minha tia Nelly. Está pensando em algo especial para os seus 90 anos que ocorrem em 2020. Neste um ano de blog, uma das coisas que aprendi foi a não existência da imortalidade. Não que eu não soubesse, mas é que a “ficha caiu”. 

Esse post, apesar do caráter taciturno do parágrafo anterior, é de comemoração. São 311 textos em 365 dias. Consegui que a publicação fosse diária por mais de seis meses. No entanto, atropelado por um infarto e pela correria da rotina do nosso tempo, diminui a frequência. 

Tenho orgulho do que escrevi por aqui. Espero que meus filhos guardem o endereço do blog, desta forma poderão recorrer a ele quando quiserem saber como eram os tortuosos pensamentos do pai. 

Digo isso porque, deixei partes da minha alma em cada texto publicado. Inseguranças, lapsos de memória, avaliações precipitadas, opiniões contrárias as de alguns amigos. Me pai completaria 107 anos no dia 4 de outubro. Gostaria que ele tivesse um blog. Recorreria a ele como bússola, quando estivesse perdido. Meu pai era “getulista” e “brizolista”, isso explica algumas coisas em mim. Rs. 

Porque escrever só vale se depois houver lágrima, nem que seja de alegria. O choro é como se fosse o molho para fazer a vida escorregar pela garganta e descer mais facilmente. 

Fiz metáforas infelizes, lembrei vitórias e derrotas. Pude emitir minhas opiniões. Assis Chateaubriand disse a um redator certa vez: quer ter opinião, tenha um jornal. Os novos tempos nos libertaram desta frase. Ter um blog é mais barato do que ter um jornal. 

Este blog é o mais transparente que o escudo hipócrita  permite ser. Celebrei chegadas, lamentei partidas, tentei transformar em prosa um rio caudaloso de emoções incertas que varriam minhas artérias. 


Tive medo e galhardia, o ódio mais genuíno e o amor mais profundo. Ri resignadamente das memórias tristes e chorei com as engraçadas. Em um ano, demonstrei em textos o que consegui respirar. Que venham muitos outros anos. Rumo ao milésimo post. Ainda falta muito, acabei de passar do 300°. Eu tenho mesmo é que almejar. Que não me falte amor, inspiração, amigos  e coração. 

sábado, 29 de setembro de 2018

Cosby, Kavanaugh e Bolsonaro

Bill Cosby foi condenado por ter abusado de 60 mulheres em 40 anos. O homem que era um dos ícones da cultura negra americana teve a biografia aniquilada por não ter respeitado as mulheres. Os advogados tentaram usar a mesma estratégia da defesa do OJ Simpson para tentar livrar  Cosby da cadeia. No entanto, tentar desviar para a questão racial o que de fato é crime contra a mulher não funcionou desta vez. 

Ainda nos EUA, o indicado de Donald Trump para a Suprema Corte, Brett Kavanaugh é acusado por Debora Ramirez de ter tido comportamento abusivo com ela. O assédio teria ocorrido em 1980, quando Kavanaugh cursava o primeiro ano de direito em Yale. 

Temos o nosso escândalo por aqui. A ex-mulher do candidato do PSL à presidência acusou-o de tê-la ameaçado de morte por conta de um separação turbulenta, em 2008. Na época, ela afirmara que Bolsonaro era agressivo e que esse fora o motivo da separação. Ana Cristina Vale retirou a queixa contra o deputado e hoje se candidatou com o nome de Cris Bolsonaro. Mesmo assim, a briga do passado deu mais munição contra o líder nas pesquisas presidenciais. 

Antes de se “arrepender” das desavenças, Ana Cristina fez diversas acusações ao capitão. Dentre estas, a de que Bolsonaro escondia bens e que naquele momento tinha rendimentos mensais superiores a R$ 100 mil. Como o salário de capitão da reserva era de cerca R$ 8 mil e o de parlamentar de pouco mais de R$ 26 mil. Há uma diferença de mais de R$ 60 mil para explicar. 

A crônica política brasileira é pródiga em histórias de ex-mulheres que complicam a vida política de seus ex-maridos. Nicéia Pitta, por exemplo, acabou com a carreira do ex, Celso Pitta, ao acusa-lo de corrupção no período que esteve à frente da Prefeitura de São Paulo. 

O escândalo envolvendo a ex-mulher ocorre quando Jair Bolsonaro tenta estancar a possível fuga do eleitorado feminino. De acordo com a pesquisa Ibope de 25 de setembro, o candidato do PSL tem 21% das intenções de votos entre as mulheres. Em 20 de agosto, ele tinha 13%. No entanto, se ele voltar a este patamar, pode ser ultrapassado ainda no primeiro turno por Fernando Haddad. 

No DataFolha desta sexta, Bolsonaro e Fernando Haddad tiveram números idênticos aos do último Ibope (28X22). A diferença é que enquanto o candidato do Bolsonaro se manteve estável na comparação entre o DataFolha da semana passada e o atual, o petista subiu 6 pontos. 

Os 28% que Bolsonaro mantém são números para levá-lo com segurança ao segundo turno. No entanto, as pesquisas ainda não captaram se as acusações contra O capitão vão provocar algum estrago. Se tiver seus números atingidos pelas denúncias cias pode começar a desidratação do candidato do PSL. Além de ser mais uma querela com as mulheres, as acusações de omissão de patrimônio podem acertar Bolsonaro em um de seus pontos mais fortes: não ser suspeito de corrupção. 

As consequências desta desidratação seriam colocar Geraldo Alckmin novamente no páreo. Neste momento, faltando pouco mais de uma semana para a eleição, a meta do tucano ainda é muito distante. Neste momento 18 pontos percentuais. No entanto, essa é a última cartada de Geraldo Alckmin para salvar o “Titanic” que é sua campanha. Com muito mais tempo do que os rivais, Alckmin parece que não chegará ao Porto, no caso, o segundo turno. Para alcançar a segunda etapa, p tucano precisará da queda de Bolsonaro, além disso, terá que convencer o leitor anti-petista que venceria Fernando Haddad. O DataFolha mostrou um empate numérico entre os dois (39X39). 

O voto feminino pode ser decisivo nas pretenções de Bolsonaro de chegar ao Planalto. As manifestações deste sábado podem ser o golpe que falta para que Bolsonaro comece a cair. 

Cosby, Kavanaugh e Bolsonaro estão unidos na mesma encrenca. O comediante foi condenado. Os outros dois por causa de um comportamento abusivo contra as mulheres, podem ver escapa a grande oportunidade de suas vidas. Para chegar ao Planalto, o capitão vão ter que convencer as eleitoras que não é o que seus atos e declarações insistem em mostrar. 




sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A jabo(u)ticaba e o coturno

A jaboticaba, ou jabuticaba é fruto da jaboticabeira ou jabuticabeira , árvore nativa da mata atlântica brasileira da família das miráceas. Houve uma recente mudança na nomenclatura botânica e por esse motivo há divergência se ela pertence a espécie Myrciaria clauriflora, Plinia trincoflora, ou Plinia clauriflora. 

Se não conseguirmos definir a grafia certa da fruta, nem mesmo a sua espécie como podemos definir os rumos que a nossa política vai tomar. O general Mourão chamou o décimo terceiro salário de jabo(u)ticaba, que atrapalha os empresários brasileiros.

O general canta a música das sereias para os empresários, mas como tem a sutileza de um coturno nos pés de uma bailarina, ignora que esse tipo de declaração acaba sendo um tiro no pé em época eleitoral. O capitão que não entende de economia, mas entende de voto, se apressou para tentar corrigir o erro de mira do vice para não acabar abatido antes de 7 de outubro. 

O brigadeiro Eduardo Gomes, candidato em 1945, fez um discurso dizendo que não precisava dos votos da “malta ”. Jornalista, este bicho chato, pesquisou no dicionário e descobriu que um dos significados de malta era o “conjunto de trabalhadores que percorrem ferrovias levando marmitas”. Resultado, um jornal estampou que o brigadeiro não queria voto dos marmiteiros. Gomes perdeu a eleição. 

A possibilidade de chegar ao poder parece ter deixado o general Mourão  no “ouriço” (expressão da minha adolescência para definir alguém como excitado). E na jabo(u)ticaba da política brasileira podemos ter um quadro em que um capitão vai chefiar um general. Opa! O general já avisou que um general não recebe ordens de um capitão. 

Bolsonaro se meteu numa encrenca que no mundo corporativo os gestores evitam. Determina uma regra silenciosa nas empresas: não contrate alguém que você não pode demitir. A incontinência verbal do general Mourão mostra que no caso de uma vitória bolsonarista, o Palácio do Planalto e o Palácio do Jaburu serão dois bunkers em que os ocupantes viverão em conflito. 

E como na indefinição da espécie a qual pertence a jabo(u)ticaba, temos no general Mourão uma certa indefinição. Faz uma exortação ao regime militar, mas tem uma visão privatista, algo impensável na ditadura. Mourão é também uma jabo(u)ticaba, seria um vice com arroubos ditatoriais, em que um “auto-golpe” não está descartado para combater a anarquia, mas um liberal, que quer diminuir os benefícios dos trabalhadores em favor da “mão invisível do mercado”. 


E coitada da jabo(u)ticaba. De fruta preferida de Pedrinho e Narizinho no Sitio do Pica-Pau Amarelo, foi cair na boca de um general. Em vez do sabor doce da fruta genuína virou símbolo de algo ruim. Mourão mostrou que tem pouca identificação com o que é o povo. Primeiro falou da “indolência” de índios e negros, depois da incompetência de mães e avós para levar uma família sem homens, agora ataca o décimo terceiro. Eu prefiro a jabo(u)ticaba. Espero que o senhor vá para casa, general. 

troca de treinador no Flamengo é mais um erro dessa diretoria incompetente

A saída de Mauricio Barbieri é mais uma ação tresloucada desta diretoria incompetente que está instalado na Gávea. Eduardo Bandeira de Melo, que agora se inventou político, está vivendo situação análoga à de Luiz Fernando Pezão no Palácio Guanabara. Encerra seu mandato de forma melancólica. 

Faltam 12 jogos para o fim do campeonato brasileiro. Mauricio Barbieri fazia um trabalho apenas razoável, muito aquém do que se espera de um técnico do Flamengo. No entanto, desempenho aquém é algo em voga na agenda rubro-negra. 

Os desempenhos de Diego, Vitinho, Paquetá, Dourado, Marlos e Uribe poderiam ser definidos como? Esse time é mal formado. Nenhum dos jogadores acima foi escolhido no mercado por sugestão de Barbieri. 

Ao tirarem o técnico, EBM e Ricardo Lomba deveriam sair e entregar o clube a um presidente interino, como acabam de fazer com o time ao demitir Barbieri de forma demagógica e politiqueira. 

O time enfraqueceu no pós-Copa. Vinicius Jr não tem substituto, assim como. Éverton. Paquetá está com a cabeça na independência financeira que a transferência para a Europa trará. Diego não é o 10 que se espera. Aplicado, líder, porém frio e conformado. Diego, apesar do talento, traduz o espírito deste time. Um elenco de mauricinhos. 

A diretoria deixou Barbieri exposto. Se insistiriam na demissão errada, deveriam fazê-lo logo, não permitir que o treinador fosse para o trabalho no dia seguinte, acarretando numa perda de tempo para ele e para o clube. 

Se Barbieri ficou por falta de opção em abril, imagine agora nas portas de outubro, a 12 jogos do fim da temporada? O treinado que assumir será um cara de tiro curto. Numa boa, contrata o Joel Santana para esse freelancer. Vai que ele emplaca 9 vitórias em 12 jogos? Com esse resultado, o Flamengo pode até ser campeão brasileiro. 

Sim, esse clube atabalhoado está a 3 pontos do líder. O Flamengo está em 4º lugar, com partidas contra o líder e o vice líder. Se essa diretoria, que majestosamente parece ter inventado o Flamengo, entendesse de planejamento esportivo faria essa conta. 

Pegava a tabela e analisava. Desde que o campeonato é disputado com 20 clubes, nenhum clube que fez 76 pontos deixou de ser campeão. O Flamengo pode atingir esse número “mágico” com 9 vitórias e um empate. 

Se os “jênios” que administram o futebol analisassem a tabela, veriam que o Flamengo tem 5 jogos em casa e dois clássicos. Ou seja, é um caminho tortuoso, improvável, mas possível. 

Agora, com a saída de treinador, mesmo essa luz no fim do túnel se apagou. Pois até chegar, conhecer os jogadores, colocar seu estilo, vão se passar dois meses. Olha que coincidência, é o fim da temporada. 


Que os sócios do Flamengo que decidem as eleições no clube pensem bem no que está acontecendo agora. Tem que escolher um grupo que mantenha as conquistas financeiras, mas que seja menos amador e incompetente no futebol. Troca de treinador no Flamengo 

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Agora é com elas


A eleição está nas mãos das mulheres. Essa frase não é esotérica, sexista ou fruto de demagogia, é matemática. E a afirmação está calcada na última pesquisa Ibope quando fatiada por segmentos. O calcanhar de Aquiles de Jair Bolsonaro está no eleitorado feminino. Se entre os homens ele consegue abrir 13 pontos percentuais em cima de Fernando Haddad, marcando 35 a 22, entre as mulheres o placar está em 21 a 21. 

A mobilização das mulheres nas redes sociais e a campanha do PSDB, em que é mostrada a maneira hostil com que o capitão trata a deputada Maria do Rosário e a uma jornalista podem fazer com que o líder das pesquisas sofra uma queda nos números. É importante ressaltar que nas 5 pesquisas realizadas pelo Ibope desde o dia 20 de agosto, o candidato do PSL vem subindo entre as mulheres. Ele tinha 13% das intenções e agora está com 21%. Fernando Haddad saiu de 3% para 21% no mesmo período. Ou seja, no período pesquisado, o candidato petista cresceu o dobro do que Bolsonaro entre as mulheres.

No eleitorado masculino, Bolsonaro tem uma confortável vantagem de 13 pontos. Bolsonaro cresceu mais fortemente entre os homens depois da facada. Entre as mulheres a subida não foi tão poderosa. A hashtag ELENÃO pode estar fazendo um estrago maior do que a campanha de Bolsonaro poderia supor. A mobilização do dia 29/09, a uma semana da eleição, pode ser decisiva para a situação do líder das pesquisas. A diferença do movimento das mulheres é que ele pode ser mais orgânico do que um Fla-Flu entre bolsonaristas e petistas. Quando maltrata eleitoras, ele está maltratando mulheres independentemente da ideologia partidária.

Vendo os números, a campanha tucana deve intensificar a artilharia no lado machista de Bolsonaro. A pouco mais de 10 dias para a eleição, reside neste ataque a esperança de Geraldo Alckmin. O fato de Haddad vencer com alguma folga na simulação de segundo turno contra Bolsonaro é outro fator que pode beneficiar a campanha tucana. No entanto, para ser o fiel depositário do voto anti-petista, Alckmin precisa provar que pode vencer Haddad no segundo turno.

No mais, a pesquisa do Ibope por idade, escolaridade, sexo e renda, pode ilustrar perfeitamente o momento da corrida eleitoral. Por exemplo, na faixa das pessoas que ganham até um salário mínimo, Haddad vence por 30 a 16. No recorte de renda, essa é a única em que Bolsonaro não é líder. A grande vitória do capitão se dá na faixa de quem ganha mais de 5 salários mínimos. Neste cenário, o candidato do PSL vence por acachapantes 42 a 15. 

A diferença de perfil dos os eleitores pode ser medida também no nível de escolaridade. Haddad vence por 28 a 19 entre os que estudaram até a quarta série. De quinta a oitava, o petista crava 26 a 20. No entanto, dentre os com maior escolaridade, Bolsonaro fica bem à frente. Na preferência de quem completou o ensino médio, o capitão faz 31 a 12. Já para os que têm o ensino superior, Bolsonaro alcança 33 a 16. No recorte de idade, o candidato do PSL lidera em todas as faixas. 

Quando um texto tem muito número, assusta o leitor. Na verdade, o que essas estatísticas mostram é que a eleição vai passar pela forma como as eleitoras vão se comportar. Com o eleitorado masculino  dando uma ampla margem para Bolsonaro, o esvaziamento ou não de seus números no eleitorado feminino pode decidir o primeiro turno. O Brasil está rachado entre os mais ricos e os mais pobres. Para definir,  a voz feminina será mais necessária do que nunca.


domingo, 23 de setembro de 2018

Não será por falta de aviso

Entramos nas duas últimas semanas de campanha com Geraldo Alckmin batendo desesperadamente em Jair Bolsonaro. A estratégia tucana seria essa durante o primeiro turno, no entanto, o atentado ao candidato do PSL fez com que os ataques parassem. 

Apesar de não ter recebido alta, Bolsonaro voltou à campanha do jeito que deu. Gravou vídeos, fez bravatas e tentou mobilizar seus seguidores. Até o momento deu certo. O capitão só tem subido nas pesquisas. 

No entanto, a campanha de Alckmin vai virar todas as baterias para desconstruir o líder das pesquisas. Além disso, as declarações fortes do vice, o general Mourão, podem espantar eleitores de centro que começavam a colocar o dedo no nariz e se alinhar ao lado bolsonarista. 

É bom lembrar que em 2014, tucanos e petistas bateram tanto em Marina Silva que a derrubaram e fizeram o segundo turno. Então, essa é a esperança da campanha de Alckmin. 

A carta de Fernando Henrique Cardoso pedindo a união dos candidatos contra o radicalismo de Bolsonaro e Haddad teve um efeito de “fogo amigo”. Fazer o texto e não citar explicitamente Geraldo Alckmin pegou mal. Mandar um Twitter posterior dizendo que o tucano era a pessoa para a qual deveriam convergir os que não querem radicalismo foi o típico caso de “a emenda saiu pior do que o soneto”. 

O apoio de Fernando Henrique a Alckmin é protocolar. Já ouvi de um tucano ligado ao ex-presidente que ele gostaria de Marina Silva na chapa. Diante dessa informação e de toda a hesitação para participar da campanha de Alckmin, não é difícil imaginar que a omissão na carta da “conciliação” foi proposital. Os dois pertencem a PSDB’s diferentes. 

Por enquanto, essa campanha já registra uma mudança significativa. O tempo na propaganda de Alckmin de nada adiantou para seu desempenho nas pesquisas. Fez o arco de alianças com o “saco de gatos” chamado Centrão. Fez todo tipo de acordo para garantir os apoios e a exposição no horário eleitoral. O problema é que os números não subiram e as traições têm tudo para começar. 

E o PSDB está cada vez mais próximo de ter perdido o discurso de ser o anti-PT. E para o lugar foi escalado Jair Bolsonaro. Você eleitor que pretende colocar a “mão no nariz” e votar no capitão, deveria dar uma olhada na coluna de Mônica de Boille, na Época desta semana. Ela é diretora de Estudos Latino-Americanos na John Hopkins University. 

Monica fez uma compilação útil de frases bolsonaristas. Sempre é bom ter contato com o conteúdo do que é dito por ele. O que vier depois da eventual eleição do candidato do PSL terá a digital dos eleitores dele. 

Em 1998: “Pinochet deveria ter matado mais gente”
Em 1999: “Você só vai mudar, infelizmente, quando nos partirmos para uma guerra civil aqui dentro. É fazer um trabalho que o regime militar não fez. Matando 30 mil, a começar pelo FHC”. 

Neste momento os “relativistas” diriam: mas são declarações de duas décadas atrás. Então, vamos atualizar o status das configurações de ódio do candidato:

Em 2016: “O erro da ditadura foi torturar e não matar”. 
Em 2017: “Sou capitão do Exército, minha especialidade é matar”. 

Ao votar em Bolsonaro, você será cúmplice do que vier a acontecer. Como escreveu Bernardo Mello Franco n’O Globo, Haddad e Bolsonaro não são duas faces da mesma moeda, são moedas muito diferentes. 

A campanha começa a se definir agora. Prenda a respiração, o final do filme interessa 210 milhões de pessoas. 


sábado, 22 de setembro de 2018

Anitta e #ELENÃO


Vamos pensar que Anitta é antes de tudo um produto. Ela constrói uma marca há anos. Quem pensava que ela seria uma “funkeira” de um sucesso solitário e carreira meteórica, enganou-se redondamente. Nesse tempo, Anitta já cantou na abertura dos Jogos Olímpicos, no Rock’n Rio Lisboa e participou da versão mexicana do The Voice. 

Anitta não se posicionar politicamente faz parte desta estratégica. Pode decepcionar os fãs na comunidade LGBTQ, mas ela mira públicos mais ecléticos. Um exemplo disso foi sua participação num dos episódios do The Voice Brasil. A cantora interpretou um sucesso internacional, a melosa “Take Look at Me Now”, de Phil Collins. 

Na ocasião da morte de Marielle, Anitta já havia demorado a se manifestar diante da justa comoção provocada nas redes. A exemplo do que aconteceu agora, só falou alguma coisa depois de pressionada. 

Podemos trazer para a discussão outro personagem: Roberto Carlos. Ele também não se posiciona. Em alguns momentos dá pistas de que lado está. No governo Sarney gravou uma inacreditável canção chamada “Verde Amarelo” que deixaria Don e Ravel de “Eu te amo meu Brasil” com inveja. 

Meus ídolos se manifestam. Chico Buarque e Caetano Veloso nunca deixam de se posicionar. Essa é a forma de atuação deles. Na formação de suas personalidades artísticas junto ao público, nos anos 1960, não se posicionar os teria condenado ao limbo. No entanto, naquela época, o inimigo era bem definido. 

Hoje em dia, a identidade do inimigo depende do lado que você está. Tudo é polarizado. A julgar pelas simulações de segundo turno, o Brasil tem uma linha divisória. Se para a comunidade LGBTQ, Bolsonaro é um inimigo, há quem ache que o petismo é tão ruim quanto. 

Em virtude dessas pessoas, o produto chamado Anitta, assim como o produto chamado Roberto Carlos vão evitar se pronunciar. Eles querem números e cada vez mais fãs. Roberto. Carlos no começo dos anos 1970 começou o movimento para deixar de ser o Rei do iê-iê-iê e se tornar o Rei da Música Popular. Assim conseguiu vendas expressivas e se transformou no o que é hoje no imaginário brasileiro. 

O pink money (outro nome para as receitas do mercado LGBTQ) é importante , mas para se tornar uma marca internacional e duradoura, Anitta terá  quer expandir seu público. Então, o máximo que os fãs vão conseguir é a declaração genérica “não voto em machista e homofóbico”. Mais, ela não dirá. Ao acabar a corrida eleitoral, ela vai querer  democraticamente que eleitores de Haddad, Bolsonaro, Ciro ou Guilherme Boulos continuem a clicar nos seus vídeos e a comprar ingressos para seus shows. 

Talvez esteja na hora de uma reflexão sobre se é possível diferenciar a obra do artista e sua atuação enquanto integrante da sociedade. Toda generalização é perigosa. Das diversas questões sem resposta que minha alma carrega, essa é uma delas. Tem gente que eu admiro, que vota diferente de mim e eu relevo. Há outros que eu não gosto e que o fato de ter um candidato diferente do meu só reforça a antipatia. 

Acho que Anitta tem direito de não se manifestar. Também acho que ela pagará um preço por essa atitude. Todos nós pagamos algo por nossas escolhas. Como não sou artista e nem tenho pretensões à unanimidade, me posiciono: Bolsonaro é o fim. Homofóbico e espalhador da cultura do ódio, o capitão representa uma ameaça séria demais à democracia. Seu vice é ainda mais nocivo, quando tem ideias preconceituosas a respeito de negros, índios ou mulheres, por exemplo. No entanto, se eu quiser a pena de morte para quem pensa diferente de mim, estarei me igualando a tudo de ruim que penso de bolsonaristas e que tais. Espero que o obscurantismo e os arroubos totalitários saiam derrotados das urnas, pois o voto deveria ser o instrumento de decisão, não os tanques. 



terça-feira, 18 de setembro de 2018

Tenho medo do guarda da esquina


O assassinato de um jovem trabalhador no morro do Chapéu Mangueira é um triste retrato do que muitos consideram como a ação bem sucedida da polícia. O homem carregava um guarda-chuva, mas a polícia confundiu com um fuzil! A sacola canguru em que levava seu filho foi confundida com um colete à prova de balas. 

O que fez a polícia? Atirou. A estatística é simples, a morte de um inocente é irreversível, é inaceitável e mostra a falência do estado. Na sexta-feira, o Instituto de Segurança Pública divulgou os índices da criminalidade em agosto. Houve queda em diversos indicadores, na comparação com o mesmo mês de 2017. Mas um aumentou substancialmente: o número dos autos de resistência, mortes em confrontos com a polícia.

Houve comemoração, afinal, o crime diminuiu e as mortes de bandido aumentaram. O assassinato de Rodrigo Serrano mostra que para morrer em confrontos com a polícia ser “bandido” não é condição irrefutável. Basta ser pobre, negro e estar numa área esquecida pelo estado. 

A carteira de trabalho ensanguentada de Rodrigo guarda semelhanças com a roupa manchada de sangue do estudante Edson Luiz, morto pela repressão em 1968. 

Essa política de segurança em que se atira antes e se pergunta depois é preconizada pelos defensores da “ordem”. Como canta Milton Nascimento na música Menino: “quem cala sobre seu corpo consente em sua morte, talhada a ferro e fogo, nas profundezas do corte, que a bala riscou no peito”. 

Desses autos de resistência registraria pelo Insp, quantos casos terão sido parecidos com o de Rodrigo Serrano? O depoimento da mulher dele foi de que a polícia atirou para matar. Um caso como este mostra que as forças do estado não podem ter mandados de prisão aleatórios, pois tendo que dar satisfação já matam inocentes, imagina se tiverem licença para matar. 

Durante uma aula discutíamos a intervenção federal no Rio e a política de segurança baseada na imposição da ordem sem a necessária inclusão social. Uma aluna moradora de comunidade foi taxativa: a polícia entra na minha casa sem mandado, revista as minhas coisas porque eu moro na favela. 

No conforto de nossos lares de classe média, impressionados pelas notícias de assaltos e assassinatos, defendemos que a polícia seja repressiva e acabe com o crime. No entanto, ela não bate em nossa porta sem ordem judicial, não atira em nossa direção pelo simples fatos de estarmos passando numa hora em que não deveríamos passar. Não temos toque de recolher em nossos endereços de classe média. 

O político paraense Jarbas Passarinho contava uma historia que pode servir perfeitamente aos nossos tempos. Ele disse que no dia da decretação do AI-5 assistiu a uma discussão entre o ministro da Justiça do governo Costa e Silva, Gama e Silva, e o vice-presidente, Pedro Aleixo. O ministro defendia o ato e perguntava ao vice  se ele não confiava em Costa e Silva. Aleixo, que relutava em apoiar a medida, declarou: “no presidente, eu confio, eu não confio é no guarda da esquina”. 

O excesso de autoridade, o mau preparo e a filosofia da violência produzem casos como esse. Enquanto irresponsavelmente prega-se nos gabinetes e palanques a cultura do ódio, os guardas da esquina incorporam a mensagem e seguem fazendo suas vítimas. 


segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Um balanço dos meus dias

Ando com urgência para deixar minhas digitais nas coisas. Estou envolvido em vários projetos ao mesmo tempo. Corro de um lado para o outro sem respirar. Minha tia Nelly me diz que eu devo desacelerar. Logo ela, que aos 88 anos está escrevendo dois livros ao mesmo tempo. 

Acho que “meu evento cardíaco” de maio incutiu em mim essa urgência. Vai ter gente dizendo que deveria ser o contrário, que eu deveria parar um pouco. Não acho possível. Manter o coração trabalhando talvez seja a melhor maneira de mantê-lo por muito tempo. 

Entre achismos, provocações e filosofia barata, vou tentando dizer ao mundo como sou, na esperança de que se lembrem de mim por mais tempo do que 15 minutos. 

Ando vendo filmes clássicos, lendo textos do início do século passado, que espalham atualidade na minha rotina. Como foi possível ficar tanto tempo sem ler Walter Benjamin, Baudelaire e Focault?

Estou numa fase de revisitar obras que deixei pra lá na época do lançamento. Por exemplo, o acústico MTV da Cassia Eller. Eu me emociono toda vez que ouço Luz dos Olhos. Numa admiração tardia, devo reconhecer que o Nando Reis é um dos meus compositores preferidos. E entendo perfeitamente os versos de All Star: “o tom que faço minhas musicas pra sua voz parece exato”. Cassia Eller tem o tom exato para Nando Reis e para todo mundo. 

Para alguns quero ser uma boa lembrança. Para os meus, quero deixar uma grande lição: não há grandes lições. As que me servem e serviram não são necessariamente adaptáveis aos que me escutam compartilhá-las. 

Tenho alguns gurus, mas não tenho estofo para me tornar um. Tenho dúvidas inconfessáveis quando vou escrever. Há palavras que tenho que recorrer ao dicionário para grafar corretamente. 

Nessa tentativa de deixar digitais, erramos. Somos dúbios, não queremos ser gurus, mas almejamos um legado. O meu talvez seja: aquele cara às vezes legal, outras tantas mesquinho. De saber pretensioso que se embaralha no uso da crase. Um cara que anda  trôpego pela ponte, mas que para os que estão longe, pretende passar a imagem que flutua. O corajoso mais medroso que desafiou moinhos. Se sonha Quixote, mas tem preguiça de sair da cama.  


“Onde estarás em 10 anos?”, pergunta-me um ansioso. Espero que no coração de quem amo, respondo resignado. 

domingo, 16 de setembro de 2018

Vão começar as semifinais da campanha eleitoral


Sempre que quero entender mais do que os meus olhos leem, procuro alguns "gurus". É a velha máxima de aprender com os professores que a vida vai oferecendo em doses generosas, quando se quer aprender. Se o assunto é política, sempre procuro saber o que vai pela cabeça do cientista político Cesar Romero. Autor do livro "A Geografia do voto nas eleições presidenciais no Brasil: 1989 – 2006", Cesar abriu minha perspectiva para o que pode acontecer nas eleições de 7 de outubro.

Há uma luz no fim do túnel para a candidatura de Geraldo Alckmin. Ela atende pelo nome de voto útil. O ex-governador de São Paulo pode lucrar com a subida de Fernando Haddad. Essa opinião vai além do que uma análise mais superficial dos números pode sugerir. Segundo Cesar, a subida de Haddad vai tirar votos de Ciro Gomes e Marina Silva. Com a queda dos dois, Geraldo Alckmin se isolaria em terceiro lugar. "Haddad subiu 1 ponto percentual por dia na semana de 10 a 14/9, o que indica a eficácia da estratégia petista de transferência dos votos. Ele deve subir ainda mais. Desde 1989, a esquerda tem cerca de 30% dos votos. Foi assim em 1989 quando Lula e Brizola somados chegaram a isso, se repetindo em 1994 e 1998".

Essa configuração das pesquisas pode dar ao candidato do PSDB o discurso do voto útil para quem não quer votar nem no candidato petista, nem em Jair Bolsonaro. Para conseguir a arrancada, o cientista político explica as contas que o tucano deve fazer: conquistar os 3% de João Amoedo, os 3% de Alvaro Dias, os 3% de Henrique Meirelles. Se forem somados esses votos, aos que tem e o que eventualmente conseguir  tirar de Bolsonaro, Geraldo Alckmin garantiria vaga no segundo turno. 

Se as hipóteses acima se realizarem, será reeditada a disputa que ocorre desde 2002. PT e PSDB disputando a preferência do eleitor no segundo do turno a se realizar no dia 28 de outubro. Cesar explica que essa polarização indica que no Brasil não há a chamada terceira via. "Não há nada em comum entre Ciro Gomes, 2002, Heloisa Helena, 2006, e Marina Silva, 2010 e 2014".  

Jair Bolsonaro não seria a encarnação desta terceira via. No momento ele representa o anti-petismo, que desde 2002 era o papel do PSDB. Cesar Romero vê na Lava-Jato parte importante para a desvantagem tucana em 2018. "Quando estavam pegando apenas os petistas, tudo bem. Depois pegaram o Temer, tudo bem. Começaram a pegar integrantes do PSDB e a estratégia deu errado. Os tucanos esperavam se aproveitar dos problemas encontrados pelo PT, mas eles também foram pegos e ficaram sem discurso".

Os cenários previstos para o segundo turno vão ser decisivos para as estratégias de Ciro Gomes e Geraldo Alckmin. "Nas últimas três semanas de campanha, Ciro tentará unir a esquerda com o discurso de que derrotaria Jair Bolsonaro com mais facilidade, pois o candidato do PSL está tecnicamente empatado com Fernando Haddad. Já, a campanha de Alckmin vai adotar um discurso parecido, mas olhando para outra face da moeda. Vai dizer que é capaz de derrotar Haddad mais facilmente do que Bolsonaro faria". 

Cesar Romero entende que as tarefas de Ciro e Alckmin são de difícil execução. A tendência é que Haddad continue a crescer. Por outro lado, se o atentado contra Jair Bolsonaro o retirou efetivamente da campanha, seus números ainda não começaram a cair. "Marina e Ciro já começaram a bater em Haddad, para tentar impedir o crescimento". O cientista político reitera que as projeções do segundo turno fazem com que Haddad prefira enfrentar Bolsonaro, e que o capitão também quer o petista como adversário. 

No Brasil gosta-se muito de metáforas futebolísticas. Por isso, pode-se  dizer que as últimas três semanas de campanha guardam duas semifinais para as vagas na finalíssima, no caso, o segundo turno. Do lado esquerdo da campanha, Ciro contra Haddad. Na “chave” da direita se enfrentam  Alckmin e Bolsonaro. Marina Silva mais uma vez perdeu a força no meio da corrida. A candidata da Rede vai voltar para a hibernação quadrienal. Quem sabe em 2022 ela esteja de volta. 

Muita bola vai rolar até o dia 7 de outubro. Um jogo em que os participantes dão carrinho por trás, agarram pela camisa, xingam pai e mãe na busca pelo gol, no caso, a preferência do eleitor.



sábado, 15 de setembro de 2018

Liberdade X Segurança - o Fla-Flu do momento no mundo


Na guerra entre a liberdade e a segurança, a  preferência pela segunda vem ganhando de goleada na sociedade. Talvez seja esse o sintoma representado pela candidatura de  Jair Bolsonaro. Esse fenômeno não é exclusividade do Brasil. Um modelo que traduz essa realidade é o da Rússia de Vladimir Putin, um governo forte, que mantém a economia ajustada e a sociedade controlada. 

Nesta sexta-feira, o Instituto de Segurança Pública divulgou os índices de criminalidade no Rio. Na comparação entre agosto de 2018 e agosto de 2017 houve quedas importantes em vários tipos de crime. O roubo de carga, por exemplo, registrou diminuição de 20%. Os roubos de carro e a transeuntes também caíram bastante. 

Em contrapartida, o número de autos de resistência aumentou 150% em agosto deste ano em relação ao mesmo mês do ano passado. Para quem não liga o nome à pessoa, auto de resistência é morte em confrontos com a polícia. 

Diante da onda conservadora que varre o mundo, o aumento no número das mortes em confrontos com a polícia será comemorado por muita gente. É a ideologia do “bandido bom é bandido morto” ganhando cada vez mais força. 

É importante ressaltar que para quem acredita nesta forma de agir, a intervenção federal do Exército na área de segurança do Rio é um sucesso, afinal, diminuir os índices de violência e aumentar o número de mortes de suspeitos é tudo que este Brasil do medo e do ódio acredita ser a equação ideal. 

A leva de refugiadas, o crescimento da desigualdade social e do abismo entre despossuídos e quem tem só aumentam  a valorização da segurança em relação ao conceito de liberdade. 

A liberdade era o ideário da população mundial após a Segunda Grande Guerra. Tanto é que no confronto que se seguiu, a Guerra Fria, os presidentes dos EUA se denominavam “lideres do mundo livre”. Nos anos 1960, a juventude  pregava o “amor livre”. 

No Brasil os opositores da ditadura queriam liberdade. Era a época do “é proibido proibir”. No entanto, meio século depois, a sociedade não dá mais o mesmo valor para este bem. Por isso, o discurso da ordem é tão sedutor, mesmo que para a obtenção desta ordem, a sociedade abdique da liberdade.  

Fazendo um recorte para o Brasil, talvez o confronto não se restrinja em direita e esquerda. Para entender o que acontece por aqui, devemos  colocar em perspectiva que a disputa é entre os que defendem a primazia da liberdade e os que acreditam que o primordial para a sociedade seja a ordem e a segurança. 

Isso explica a onda saudosista de alguns setores pela ditadura militar. Para essas pessoas, a censura aos meios de comunicação, o fim do habeas corpus e as torturas nos porões eram efeitos colaterais, pois o princípio da ordem era mantido. 

No entanto, essa ordem toda não era exatamente “ordenada”. Uma leitura nos livros de história nos mostra que Costa e Silva desferiu dois golpes. O primeiro ao emparedar Castelo Branco e praticamente obrigá-lo a interromper seu governo. O outro aconteceu ao decretar o AI-5. Mais tarde, em 1977, o ministro Silvio Frota tentou fazer com Geisel o que Costa e Silva fizera com Castelo. Não conseguiu. A bomba no Riocentro e no atentado da OAB mostram que no interior do regime havia desordem. 

Então em nome da ordem, vamos condenar o aborto e as pesquisas com células-tronco. Pela ordem vamos diminuir a maioridade penal, permitir a compra de armas e matar os bandidos, afinal “direitos humanos são para humanos direitos”. E por fim, vamos louvar a deusa meritocracia.

O discurso da ordem acima de tudo é o discurso do medo. A liberdade representa a esperança. E enquanto clamamos pela ordem, comemoramos a diminuição nos números de crime e o aumento da quantidade de mortes em confrontos com a polícia, os assassinatos de Marielle e Anderson completam seis meses sem esclarecimentos. Mas Marielle talvez representasse desordem demais. Negra, lésbica, pobre e mulher. Ainda por cima, resolveu se insurgir contra o papel que lhe fora destinado. Então, o crime contra ela não precisa de solução. Será seguro saber quem matou?


sexta-feira, 14 de setembro de 2018

O dia em que caí do palanque

O texto desta sexta-feira fecha uma conta redonda. Desde o dia 30 de setembro de 2017 até esta data foram 300 posts do blog do Creso. No meio do caminho houve o ingresso no mestrado, criação de podcasts e um infarto. 

Guardei a história de hoje para uma efeméride. Como estamos em ano eleitoral e no meio de uma campanha encarniçada, resolvi compartilhar um “clássico” da minha “antologia”. Quem já teve aula comigo conhece a história. Mas mesmo assim, gosto de rememorá-la. 

Dia primeiro de agosto de 2002. Por volta das 12h30m, recebo um telefonema da minha querida amiga Carolina Morand, aniversariante do dia: “Creso, gostaria de saber se você poderia trocar de horário comigo amanhã. Quero tomar um chopp, só que tem comício do Garotinho na Cinelândia”. Respondi a Carol que não haveria problema algum na troca. Ela aproveitou e me chamou para a comemoração. 

Então, na sexta-feira 2 de agosto, pude acordar mais tarde. Entraria para cobrir o comício de Garotinho e Rosinha no Centro do Rio. Ele concorria à presidência. A mulher disputava o Palácio Guanabara. 

Como diz meu amigo Luciano Garrido, missa se espera na igreja. O evento estava marcado para 17h, no entanto, fui por volta das 15h para a Cinelândia. Queria sentir o clima, contar os ônibus e tentar apurar o que os militantes tinham recebido para se deslocar de cidades distantes. 

Por volta das 17h, fomos liberados para subir no palanque. Neste momento, a primeira encrenca: alguém da organização tirou o. guarda-corpo da escada que dava acesso ao tablado. A decisão quase provoca um acidente antes de começar o evento. 

É preciso entender o contexto em que aquele comício acontecia. Anthony Garotinho saíra do Palácio Guanabara com uma popularidade por volta dos 70%. Lançou a mulher candidata e no final daquela campanha a elegeu no primeiro turno. 

O palanque de Garotinho era fortíssimo no estado do Rio de Janeiro. A chapa que elegeu Rosinha trazia, por exemplo, Sérgio Cabral como candidato ao Senado. Logo, o palanque estava muito cheio. 

Eu e a repórter Simone Lamin estávamos escalados pela CBN. Eu cuidaria de Antony Garotinho, e ela, de Rosinha. Como já disse, o palanque estava super povoado. Todos querendo sair em fotos ao lado do candidato do PSB. 

Depois de ouvir varios discursos me preparava para consolidar a matéria. Garotinho tinha feito declarações fortes sobre o presidente Fernando Henrique. Honestamente, não era nada novo, mas já valeria a reportagem. 

O palanque estava lotado de cabos eleitorais, papagaios de piratas, puxa-sacos e políticos (se for possível fazer uma distinção entre essas figuras). Em determinado momento, a repórter Luciana Nunes Leal, do Estado de São Paulo, dirigiu-se a mim e falou: “Esse palanque está muito cheio, já pensou se cai”? Seu temor se transformou em realidade poucos segundos depois...

Um forte barulho, seguido pela queda típica de um daqueles brinquedos de parque de diversões. Só que no momento não foi nada divertido. Uma cena rápida, que no entanto pelo inusitado, não sai da minha cabeça 16 anos depois. 

Cai embaixo da parte não desabada do palanque. Levantei correndo e liguei para a rádio ainda das escadas do Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara de Vereadores. Esbaforido, com poucas informações entrei no ar. Lembro exatamente da hora. Eram 20h02m, pois esperei acabar A Voz do Brasil. No meio do flash, Rosinha passou desmaiada, carregada por assessores, o que só aumentava a angústia. 

Logo depois de entrar no ar, encontrei a Lamin. Ela me deu um abraço e estava assustada. Perguntei se também caíra, ela me disse que não. Antes de me encontrar, Simone ficou nervosa. Ligou para o nosso chefe Mauro Silveira preocupada. Disse que eu tinha caído e que estava com medo que eu tivesse me machucado. Ele a tranquilizou, explicando que eu já tinha até entrado no ar. 

Vítima da queda, minha querida Fernanda Galvão machucou o braço. Eu fiquei com inchaço no joelho por alguns dias. Naquela confusão, uma das reações mais inusitadas foi a do ex-prefeito Luíz Paulo Conde. Ele era candidato a vice na chapa de Rosinha. Rindo, Conde disse que aquele poderia ser o comício da virada na campanha de Garotinho à presidência   

Passado tanto tempo, o episódio serve para dar boas risadas e fazer chantagem emocional com a Carolina Morand. Serviu também para eu fazer um exame de imagem e descobrir uma lesão entre a sacra e a lombar, que eventualmente ainda me incomoda. Caí do palanque, mas a consequência mais grave para a coluna veio dois anos depois. Dei um espirro e travei por duas semanas. 

Ah, sabe quem estava do meu lado na redação quando eu travei a coluna? A Simone Lamim... .