sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Jornalismo é para os fortes de espírito

A tragédia do Hospital Badim é um daqueles eventos em que o jornalista se ocupa da mais nobre das funções: prestar serviço à população. As emissoras de rádio se mobilizaram para levar informações sobre o incêndio, mas também do trânsito na região próxima e a identificação de feridos e mortos. 

Nessa hora, o rádio se destaca pela agilidade e por derrubar a programação de forma menos traumática do que a televisão. As emissoras passam a transmitir o fato imediatamente e todos os esforços são direcionados para atualização das informações. 

Nesta sexta-feira conversei com meu querido aluno Bruno Ourique, estagiário da Rádio Tupi.  Ele  fez questão de me contar que a chefia o destacou para ir a um dos hospitais que os pacientes estavam sendo transferidos. Na porta do Quinta D’ Or, Bruno encontrou a neta de uma das vítimas e conseguiu um material exclusivo com pessoas que estavam dentro da unidade. 

O que mais me chamou atenção é que os olhos dele brilhavam. Ele contava empolgado a aventura de ter que entrar no ar a todo momento e alimentar as redes sociais da emissora. Ele gostava do fato de não ficar cansado. Na verdade, ele me disse uma frase que revela seu estado de espírito: “quem está numa cobertura dessa e fica de saco cheio, querendo ir embora, não sabe o que é ser jornalista”. O tempo às vezes faz a gente perder essa disposição. Mas é muito importante a gente resgatar essa razão para a escolha da profissão. 

Tive muito orgulho de ouvir essa frase de um aluno. Jornalismo é um ofício que exige de quem a exerce devoção. Nem mais, nem menos do que isso. O brilho no olhar do Bruno ao contar a história me lembrou a minha empolgação quando há 22 anos comecei a fazer esse tipo de reportagem, na própria Tupi. 

O jornalista precisa aproveitar as oportunidades para se mostrar imprescindível, tanto para o público, quanto para os patrões, que muitas vezes cortam postos na atividade fim. Rádio deve ter radialistas e jornalistas ocupando a maioria das funções. O jornalismo feito pela Tupi nesta quinta-feira foi imprescindível. 

E agora é o momento do jornalismo se mostrar mais imprescindível ainda. Pois as razões do incêndio precisam ser investigadas. É necessário cobrar das autoridades se há outras unidades expostas a esse tipo de tragédia. 

Acostumamo-nos a pensar que todas as mazelas do setor estão na saúde pública. Em depoimento aos jornalistas, o filho de uma das pessoas mortas disse que os funcionários do Badim pareciam bater cabeça enquanto o incêndio aumentava. 

A tragédia tem que jogar luz para algumas questões. Por exemplo, os laudos para funcionamento do hospital estavam em dia?  As equipes são treinadas para medidas anti-incêndio? O hospital tinha uma brigada de incêndio? Outros hospitais particulares têm risco de viver algo semelhante?

Com a palavra as autoridades, a função de conseguir traduzir e divulgar as respostas desses questionamentos é dos jornalistas. Cobrar dos responsáveis medidas para que a população do Rio não seja testemunha daquela cena de colchões de plástico sendo arremessados pelas janelas, macas carregando pacientes com soro pelo meio da rua, pânico, correria e desinformação. 

E no meio disso tudo está o brilho no olhar de quem começa na profissão. Que durante o caos, o estresse e a tristeza mantém-se firme para cumprir sua missão. Jornalismo é solidário, jornalismo é para fortes de espírito, jornalismo é para os jovens de espírito e para quem entende a dimensão do trabalho que executa.  

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