domingo, 1 de setembro de 2019

O caminho é mais do que caminhar

O gol é mais difícil do que a cesta? Resolvi contrariar o bom jornalismo e começar esse texto com a pergunta. Na verdade, no jornalismo, assim como na vida, as perguntas são as grandes propulsoras. No entanto, no texto devem estar as respostas, quando muito, as perguntas que não obtiveram respostas também devem estar presentes. Mas não com uma clássica do interrogação, e sim  com a explicação que elas precisam ser respondidas. 

Mas esse texto não é sobre jornalismo, como você caro leitor, que ultrapassou a torrente confusa de ideias do primeiro parágrafo poderia supor. A questão é: o gol é mais difícil do que a cesta?

A minha resposta é quase cretina. Depende de quem chuta e depende de quem arremessa. Eu, por exemplo, fiz muito mais gols do que cestas na minha “carreira esportiva”. Fui um jogador razoável de peladas  futebolísticas até o fim do século passado. Nos primeiros anos deste século ainda tentei adiar minha “aposentadoria” dos gramados sintéticos, quadras, ou qualquer superfície plana que permitisse uma bola rolar, mas meus joelhos me obrigaram a parar. 

O basquete para mim sempre foi um mistério insondável. Como o arremesso descreve uma parábola perfeita e cai naquela cesta com o diâmetro um pouco maior do que o da bola lançada. Para a imprecisão dos meus movimentos é muito mais difícil anotar um acerto na quadra do que estufar uma rede. 

Do meu ponto de vista fazer gol é mais fácil do que marcar cestas. Minha hipótese leva a outro questionamento: se fazer gol é mais fácil do que conseguir uma cesta, por que os jogos de basquete têm placares mais movimentados do que  os de futebol?

Se esse texto fosse um ensaio acadêmico sobre atividades esportivas, a objetividade responderia essa hipótese secundária saída da principal de forma quase que enfadonha: a quadra é menor, o jogo é com as mãos, o que aumenta a precisão e outras diatribes técnicas que preencheriam laudas e laudas do artigo de algum PHD em ciência desportiva. 

Volto então à resposta nada acadêmica ou prescritivo: depende de quem joga? Resumir nossa vida a dois caminhos, “isso” ou “aquilo” com respostas que não se entrelacem contraria até a “exata” matemática, que na teoria dos conjuntos guarda um espaço para a interseção, que é aquele elemento que está em dois ou mais conjuntos, e que numa transposição para o texto ora escrito pode representar  a resposta “depende”. 

Viver não é fácil porque “depende” do próximo passo. Porque caminhar não é só andar para frente, há lugares de recuo, desvio, paradas e contemplação. Com licença ao meu mestre Giovanni Faria, que incontáveis vezes fez as rotas transcendentais de Santiago de Compostela, me permito fazer uma diferenciação. O caminhar é elemento fundamental do Caminho. No entanto, o Caminho é um conjunto que engloba muito mais ações do que o caminhar. Sentar, fotografar, refletir e se encontrar fazem parte do Caminho (grafado a partir deste parágrafo em maiúscula ao arrepio das regras gramaticais). 

Então, meu Caminho ao gol sempre foi muito mais curto e prazeroso do que meu Caminho à cesta. Desportivamente sempre escolhi estar no jogo de futebol, em vez de me arriscar na partida de basquete. Mas nesse caso, tive a oportunidade de escolher. No entanto, o que fazer quando os passos levam a gente por um Caminho em que não há conforto? Adaptar-se e tolerar, não vejo outra saída.  E num vão pensamento matemático, a soma de adaptação e tolerância pode resultar na capacidade de ter resiliência. 

Então, se você quiser uma partida de futebol, e perceber que por um engano ou pela força do acaso, a vida encurtar os espaços e começar a pegar a pelota com as mãos, adapte-se. Uma hora a bola volta a rolar e você consegue efetivamente participar do jogo. 

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