sábado, 9 de novembro de 2019

Lula livre, mas só isso não basta

No dia 4 de abril de 2018 o Supremo Tribunal Federal rasgou a Constituição e determinou que o réu condenado em 2ª instância fosse preso. Um ano e meio depois o próprio STF teve um entendimento diferente e resolveu que o condenado fosse preso apenas após esgotados todos os recursos e a sentença transitasse em julgado. Os mesmo detratores da suprema corte a partir da decisão da última quinta-feira são os que comemoraram a decisão de 2018. Logo, queremos a justiça que atenda às nossas torcidas e não a que trate da “letra dura da lei”. 

A condenação veloz de Lula atendeu aos interesses de quem não queria o petista na disputa presidencial do ano passado. Aliás, da próxima também, por causa da lei da ficha limpa. No entanto, após um 2019 em que os derrotados por Bolsonaro ficaram atônitos, a decisão do STF tira da jaula o animal político mais relevante do Brasil nos últimos 40 anos. Você pode não gostar de Lula, mas jamais ficará indiferente a ele. 

Lula vai galvanizar a oposição. E a cúpula do governo já sentiu que terá adversários externos, enfim. Tanto é que o vice-presidente, Hamilton Mourão, foi um dos tantos que lamentaram a decisão do STF. Mourão passou por um “raio moderador” e passou a ser a voz mais sensata do governo, mas numa declaração fora do tom ao respeito que deve haver entre os poderes da República, criticou o STF. 

Lula é um político profissional e vai comandar a oposição, percorrendo o Brasil e fazendo barulho. Vai chamar Bolsonaro “pra briga”. É bom de bravatas, metáforas. O presidente, outro bravateiro de primeira, vai ter um adversário que lhe ultrapassa em tempo no poder e em reconhecimento internacional. 

Lula será o catalisador desses sentimentos, mas não poderá concorrer em 2022, a menos que haja alguma reviravolta jurídica, logo a oposição terá que arrumar um nome, abençoado também por Lula, para as próximas eleições presidenciais. Esse nome não pode passar a impressão de ser um “poste” do petista. O culto à personalidade é uma das pragas da prática política, à esquerda e à direita. Desde os “getulistas” passando pelos “lacerditas”, “malufistas” e “brizolistas”. Agora temos os “lulistas” e os “bolsonaristas”, que têm uma versão mais radical e raivosa, os “bolsominions”. 

Lula não está mais preso, ouviram Cid e Ciro Gomes, mas é preciso construir pontes, formar alianças e ter um projeto que seja mais do que um “lulismo”. O Brasil precisa de ideias, que se pense num país mais justo. Esse projeto que acaba com leis trabalhistas, em que o magnata da economia culpa os pobres por não conseguirem poupar, já está mostrando quem vai pagar pelo desequilíbrio das contas públicas: o trabalhador. 

Lula está livre, mas será necessário mais do que isso se a oposição à nova ordem quiser se tornar relevante e ter alguma perspectiva de vitória nas próximas eleições presidenciais. 

3 comentários:

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  2. Lula está SOLTO, livre não. Continua com duas condenações e ainda tem 6 processos em julgamento. E pra piorar, a Lei da Ficha Limpa que ele assinou o impede de ser candidato. E então ele olha pro lado e vê Haddad, Lindbergh e Daisy Hoffman (Dirceu e Palloci também não poderão ser a "sua Dilma"), então é só barulho e uma certeza: Ele voltará a ser preso, se não morrer antes.

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  3. Brilhante, como sempre. Lula livre reacende a esperança de que alguém vai finalmente tirar lona desse circo que foi montado em outubro/2018.

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