sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Quem diz não ter lado, já escolheu um deles

Estou sem escrever no blog há algum tempo. O motivo é que estou correndo na tentativa de cumprir o prazo pra entregar minha dissertação de mestrado. Outro dia vi uma reportagem em que a Heloisa Buarque de Holanda afirmava que  tinha escrito 3 livros em 6 meses. Confesso que me senti intelectualmente humilhado. Outra confissão: tive inveja. Sabe Deus o que tenho passado para escrever minha modesta dissertação em times new roman 12, com espaçamento 1,5. 

Um dos livros que tenho lido é Descobrindo a Notícia, do americano Michael Schudson. Sim, escrevi “tenho lido” em vez de “li”. Enquanto se produz uma dissertação, os livros são lidos continuamente, não é como quando você se entrega a uma obra pelo prazer da leitura. Digamos que é uma atividade em fluxo contínuo. 

O livro de Schudson pretende contar uma história social do jornalismo norte-americano.  Lá pela página 160, o autor começa explicar os embates entre a objetividade e a subjetividade jornalística. Na década de 1960, o então novo jornalismo americano começou a questionar a pretensa objetividade jornalística. Estes novos profissionais afirmavam que a objetividade é utópica e que ao querer ser objetivo, você já está tomando um lado. 

O atual inquilino do Planalto voltou a mostrar as garras. Elogiou um criminoso e quis chamá-lo de herói nacional. Na verdade, o herói dele cometeu crimes contra a humanidade, deveria ter sido preso. Morreu antes de pagar pelas barbaridades cometidas . Os parentes das vítimas de sua sanha desumana só podem esperar que haja justiça divina, pois a dos homens foi morosa ou leniente. 

A respeito de ter elegido um ser ignominio para o lugar mais importante do país, usei as redes sociais para expressar minha opinião. Disse que os “isentões” são os culpados pela vitória deste ser. Fui rebatido por algumas pessoas queridas que disseram que não votaram a favor dele, votaram contra o PT.  Outos me disseram que votaram nulo pois achavam tudo a mesma coisa. 

Então volto a Schudson. O que se colocou no segundo do turno foram 4 opções. Votar no candidato do PT, votar no homem que elogia um criminoso desumano, votar em branco ou não ir. Não votar no candidato petista, era tomar uma posição. As três últimas davam na mesma. Então, achar que não se está tomando posição já é tomar posição. 

Eu discutia isso outro dia. O Brasil é 1/3 para um lado, 1/3 para o outro é 1/3 que flutua. Este terço foi para o lado obscuro em 2018. Em 2014 ele estava praticamente dividido.  Não se vence sem o terço que flutua. 

Então, você que seguiu algum dos três caminhos que não fosse votar no candidato petista no segundo turno, você é responsável quando ameaça-se a Amazônia com autorização de garimpo, se vier a  perder a multa de 40% nas demissões sem justa causa, quando se caracterizar o nepotismo de colocar o filho brincando de embaixador nos EUA, quando a pesquisa acadêmica morrer, ou ainda quando crimes contra a humanidade são exaltados. 

“Ah, mas tiranos o PT”. Perdão, mas acho que você não entendeu o caminho que se apresentava. Você não entendeu que “dentro do porta-luva tem a luva, tem a luva, que alguém de unhas negras e tão afiadas esqueceu de pôr”, como cantou Gilberto Gil. 

A última declaração mostra as unhas afiadas de quem é perverso. Alguém eleito para governar que fala uma atrocidade atrás da outra. Que detesta a verdade, que no mais alto cargo da república é medíocre e mesquinho. Faz política para os parentes, tem relação com as milícias, não respeita a democracia e já virou piada internacional. E você, isentão, essa culpa é muito sua. O problema é que a sua decisão pode ter jogado o país no abismo. A economia não cresce, o desemprego permanece, a política não se modificou e ainda temos que ser humilhados com a tentativa cruel de reescrever o passado matando novamente os mortos e exaltando a assassinos. 

E nesse túnel do tempo, 1964 é aqui e agora. Tomara que a noite só demore 4 anos, e não 21. 

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