segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Eu e meus sete irmãos

Meus irmãos e irmãs cantam todos bem. Não é ato de “corujice,  é constatação. Os 7, em algum momento da vida, fizeram parte de um coral. Dois deles, David e Daniel, se apresentaram profissionalmente  Apesar dos nomes que são um convite à formação de um dupla sertaneja, não atuaram juntos. Os estilos são completamente diferentes. O David é mais velho, com ele aprendi a gostar de Chico Buarque, João Nogueira, Zé Ramalho e esses grandes nomes. Até hoje, nas reuniões de família, me emociono quando o David pega o violão e ataca de “Espelho”, do João Nogueira. 

Daniel é mais novo do que o David. Ele me ensinou a gostar de Caetano, Djavan, Milton Nascimento, Beatles, The Police e Supertramp. Sempre teve uma pegada mais pop e no anos 80, quando essa cidade era outra, se apresentou em muito lugares legais como o Gig Saladas, em Ipanema, e o Beco da Pimenta em Botafogo. 

A Lau ensinou o Daniel a tocar violão. Nunca foi cantora profissional, mas tem um soprano muito delicado. Nas festas de família, olha elas aí de novo, seu “hit” é “De volta ao aconchego”. A Lau me ensinou a cantar as músicas do Roberto Carlos da Jovem Guarda. 

A Edith também cantava o dia inteiro e tal como a Lau tinha um soprano delicado. Também adorava o Roberto Carlos e me lembro dela ter sido a pessoa que me contou que o Elvis Presley tinha morrido. Era agosto de 1977, eu tinha seis anos, só depois vim a entender quem era o Elvis. 

Minha irmãs Judith, Quitéria e Helena, ou já eram casadas quando eu nasci ou casaram quando eu era muito novo. Mas as três cantavam em coral e tinham a voz muito bonita. A Quitéria, no caso, não canta mais por aqui. Em 2013 virou passarinho e foi voar perto de nossa mãe. 

Eu, o caçula temporão, também tenho meu hit de família. “Meu bem querer” do Djavam. O Daniel me acompanha e faz segunda-voz. Nunca tive sérias pretensões de ser artista. Não tive coragem para me aventurar. Cantei em saraus, tive bandas que não deram certo, compus duas músicas com o Roger Ling e cheguei a dar uma canja com o Tony Garrido num bar chamado Das Shoppen em Botafogo, quando ele ainda era da Banda Bel, nas sua carreira pré-Cidade Negra. 

Por eu e meus irmãos termos frequentado igrejas protestantes, nos Estados Unidos talvez formássemos um coro familiar “alguma coisa brothers”. O acaso nos jogou nessa terra.  Não reclamo deste fato, mas reclamo de não termos tido oportunidade de tentar formar este grupo. Dos 8 filhos da Dona Alzira, sete ainda estão por aqui. Somos adultos com idades entre 48 e 73 anos. Ainda sou o Júnior, caçula a quem eles olham um pouco como criança. Aliás, até mesmo eu, pertinho dos 50,  ao escrever este texto ainda me sinto criança ao pensar neles. Temos apenas um foto juntos. Tirada quando fiz 40 anos. Como escrevi, a Quitéria partiu em 2013, ainda bem que tiramos essa foto.

2 comentários:

  1. Belo texto.
    Temos que registrar todos os momentos. Não sabemos quem ou por quanto tempo se estará junto de quem amamos.
    Procuro fazer esses registros com primos, tios, amigos, mãe, filha, genro, sogra, cunhados, marido, avó (sim ainda tenho vó, está com 93 anos).
    Mais uma vez um belíssimo texto e homenagem.

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    1. Muito obrigado, Sheila. Fotos ajudam a capturar momentos da alma

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