domingo, 8 de dezembro de 2019

Alma de velocista, joelhos de ancião

Sempre desconfiei que era rápido. No entanto, a certeza só veio aos 12 anos. A escola municipal Joaquim Nabuco organizou uma série de competições. Eu ganhei a medalha de ouro na corrida. Talvez fosse uma corrida de 50 metros pelo pátio, mas eu venci o Luiz Flavio, mais conhecido como Pena. Quase perdi, pois comemorei antes, mas cheguei na frente. Naqueles jogos ganhei ainda a medalha do salto em altura. Ganhei pulando 1,20m. Aos 12 anos, pulando no estilo “tesoura” e caindo no chão de terra batida, aquela marca era um recorde mundial. 

Depois veio o Cefet. Aos 16 anos eu corria na categoria de cima, com os mais velhos. Lembro que a fera era o Edilson, mas eu conseguia correr no nível dele e achava isso o máximo. Nunca investi seriamente nessas competições, depois veio uma torção no joelho e minha vida atlética virou lembrança. 

Eu era rápido correndo, associo isso ao fato de ser ansioso. Acho que por querer chegar logo, me apressava. Então, a conclusão barata é que todo velocista é meio ansioso. No entanto, a vida faz diminuir a marcha. 

As contusões nos meus joelhos me obrigaram a andar mais devagar. Ainda tenho os reflexos de tentar correr ou reagir, mas o danado do corpo quase cinquentenário não obedece. 

Alguns velocistas ao envelhecer se tornam fundistas para continuar correndo. Esse certamente é o meu caso. No entanto, uma vez velocista, você terá lampejos dessa explosão. 

Um exemplo é a voracidade com que ataco um prato de comida. Invariavelmente sou o primeiro a terminar a refeição. Qual o problema, permaneço na mesa, mas por estar ali, acompanhando as deglutições mais lentas de meus comensais, acabo comendo mais um pouco. E aí, mais um caso de velocidade que se alia à ansiedade. 

O mesmo se deu no meu mestrado. Primeiro me inscrevi em varias disciplinas no meu primeiro semestre. Academicamente foi bom, fora um infartozinho no meio do caminho, teria escapado ileso do exagero. Minha mulher e alguns amigos me impediram de pegar o mesmo número de matérias no segundo semestre. E por caminhos mais lentos, acabei por atingir meu objetivo. 

Há duas semanas a alma do velocista me pregou outra peça. No prazo imposto por mim mesmo de entregar minha dissertação antes das férias de fim de ano, corri como nos velhos tempos. Num dia, fui dormir às 5h da manhã e acordei às 7h. A alma é de velocista, mas o corpo é de um quase cinquentenário, como escrevi acima. A rebordosa veio na madrugada seguinte, quando passei mal e fui parar no hospital.

O velocista ansioso está nesse momento a contemplar a linha de chegada do próximo objetivo. No dia 12 vou defender minha dissertação de mestrado. Teria até abril para defender, mas isso é para abnegados fundistas. Os invejo, com toda sinceridade, mas a minha natureza é veloz, para o bem e para o mal. 

2 comentários:

  1. Creso, querido! Me lembrei agora de uma pedalada que fizemos e você saiu disparando na frente, rsrsrsrs! E depois, conversando com você, você me disse que eu seria fundista! Concordo! Vá com calma, querido, porque agora, como nós flamenguistas, estamos ficando mal acostumados, é só correr pro abraço! Parabéns desde já! Beijos!

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