segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Os dias chuvosos

A chuva atribui certa melancolia aos dias numa cidade que vive ensolarada. O súbito alívio, que faz o suor diminuir, cobra como pedágio reflexão. Ao barulho do trânsito, soma-se a trilha sonora dos pingos. Eles caem inevitavelmente na rua e deixam as vias escorregadias para os motoristas. A água empoçada é mais um desafio: carros e ônibus passam e o pedestre desavisado pode ficar ainda mais ensopado. 

A vegetação que cobre os morros parece absorver a água como um homem sedento na aridez do deserto mais severo e então, aproveita o refrigério. As árvores, a sua maneira, agradecem pela chuva e pelo fato dela não ser suficientemente forte para despregar-lhes as raizes do chão e provocar deslizamentos morro abaixo. 

E a chuva vem do céu a distribuir melancolia aos habitantes de uma cidade quase sempre ensolarada. E nessa chuva acontecem despedidas. Há aqueles que partem em dias chuvosos, não necessariamente por causa da chuva. É nessas horas que quase dramaticamente, chuva e lágrimas se confundem nas mais reles das metáforas. 

Lágrimas podem ser alívio, emoções incontidas que se materializam em forma de água. Chuva é água, é precipitação que se forma no choque de massas quentes e frias. Nesse conflito de diferentes expectativas chora/chove o desencanto. Depois de chover deve haver um recomeço. Depois do chorar há de acontecer um recomeço. 


Mas tudo pode ser apenas um dia chuvoso que distribui melancolia aos habitantes de uma cidade que costuma ser ensolarada. Sentimentos escorregadios, quase úmidos que escorrem pelas faces da rua e do papel. 

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