terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Marielle, a menina da Maré; Robert, o rapaz de Massachusetts

Há 50 anos a sociedade americana tem dúvidas sobre quem assassinou Robert Kennedy. O irmão de John Kennedy foi assassinado em junho de 1968, logo após saber que havia vencido as primárias do Partido Democrata na Califórnia. A festa da vitória acontecia num hotel. Bob fez o discurso de agradecimento e ao sair do púlpito, foi baleado. 

O episódio foi acompanhado em tempo real, apesar deste termo nem ser usado na época. As equipes de TV estavam mobilizadas para as primárias e registraram tudo. Um homem com uma arma na mão foi preso. A conclusão óbvia é que ele havia atirado em Kennedy. 

No entanto, a Polícia de Los Angeles ignorou outras evidências que poderiam abrir algumas hipóteses para a investigação. Um legista afirmou que o tiro foi disparado por alguém que estava a 3 cm do senador. O suspeito, Sihram Sihram estava a um metro de Robert Kennedy. 

Há registros de que a polícia destruiu inúmeras provas nas investigações da morte de Robert Kennedy. O irmão mais novo do presidente morto em 1963 tinha uma plataforma de defesa das minorias. Notadamente dos latinos e dos negros. 

Robert Kennedy incomodava muita gente. Apesar de pertencer a uma das famílias mais ricas dos EUA conseguiu amplo apoio das comunidades mais pobres. Bob era contra a Guerra do Vietnã, o que o afastou do Presidente Lindon Johnson, que sucedeu John Kennedy na Casa Branca. 

O suspeito foi condenado à pena de morte em 1969, mas como o estado da Califórnia aboliu a pena capital em 1972, Sihram foi condenado a ficar em prisão perpétua. 

Até hoje algumas pessoas próximas a Robert Kennedy tentam reabrir o caso, desconfiadas de que houve muita pressa da polícia de Los Angeles para encontrar um culpado. 

Curioso notar que a polícia americana quis agir rapidamente para evitar teorias da conspiração, mas mesmo assim não conseguiu. As suspeitas já duram 50 anos e, provavelmente, nunca acabarão. 

Fico pensando num paralelo das mortes de Robert Kennedy e Marielle Franco. Onde se encontram o rapaz de Massachusetts e a menina da Maré. A pauta de defesa das minorias estava presente na política dos dois. A primeira vista fica difícil fazer uma associação entre os dois crimes. Afinal, estão separados geograficamente, num intervalo de tempo de  50 anos. No entanto, RFK e Marielle tinham uma pauta que incomodava os poderosos. Ele, rico e branco. Ela, pobre e negra. Mesmo com origens tão distintas começaram uma luta por quem não tinha voz nem vez. 

A quem interessava a morte de Robert Kennedy? A quem interessava a morte de Marielle? Essa pergunta óbvia poderia fazer com que as investigações chegassem a resultados inquestionáveis mais rapidamente. Na morte de Robert Kennedy é praticamente impossível que se chegue a alguma conclusão. Mas nas mortes de Marielle e Anderson ainda há chance. Que a polícia daqui faça hoje seu trabalho de forma mais eficaz do que a polícia americana há 50 anos. 

A operação policial para prender o capitão Adriano Magalhães da Nobrega é mais um passo  para que se saiba quem matou a vereadora e seu motorista.  O problema é que tudo parece ser só o começo do desenrolar do novelo. Ainda há muitas pontas para amarrar. 



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