segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Precaução: excesso e falta

Olhei para os ocupantes do banco da frente no ônibus que eu viajava. Era um casal que não se conhecia. Ao fixar o olhar mais atentamente vi que o homem era calvo no cocuruto. E a pele da cabeça estava descascando. Percebi que o homem não usou boné ou protetor solar na cabeça. Resultado, a cabeça dele devia estar literalmente ardendo. 

Pensei sobre a necessidade de passar protetor solar na cabeça. Apesar de ser uma coisa óbvia para os calvos, não é um hábito do meu cotidiano por isso, estranhei aquele cocuruto descascando. 

A mulher que estava ao lado do homem carregava um enorme guarda-chuva preto. Vivemos dias de estio no Rio de Janeiro. Aquele guarda-chuva me chamou atenção porque não parecia ter utilidade no clima saariano da cidade neste verão. 

O guarda-chuva era a prova viva de que as intempéries do clima não surpreenderiam aquela mulher. E no meio das minhas divagações pensei que se o cidadão ao lado dela fosse precavido não estaria com a careca descascando. 

Não faço ideia do estado civil dos dois. Mas se eles olhassem para o lado descobririam-se almas complementares. Ela com um guarda-chuva num dia absolutamente ensolarado e ele com o cocuruto descascando. O guarda-chuva dela poderia proteger a careca dele. O objeto seria enfim útil e ele teria a pele protegida. 

Quantas vezes desperdiçamos oportunidades na vida por não estamos ligados para as opções que se apresentam ao nosso redor. A viagem prosseguia. O ônibus parou e a mulher se levantou, pediu licença ao homem e saltou. 

Ela andando pela rua ensolarada com aquele guarda-chuva extemporâneo e ele sentado sozinho com o cocuruto descascando prosseguiu sua viagem. 


Eu saltei pouco depois e interrompi os devaneios. Mas olhando de fora tenho a impressão de ter testemunhado um encontro desperdiçado. Uma comunhão que poderia ter dado certo. 

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