quarta-feira, 5 de junho de 2019

Pela “desNeymarização” do mundo

Ouvi uma frase de uma pessoa por quem tenho profundo respeito. O craque Zinho afirmou que o que interessa ao Brasil é o que Neymar produz em campo. A pergunta que se impõe é: no mundo de hoje é possível separar o que Neymar faz em campo das encrencas fora das quatro linhas?

Neymar é uma persona que extrapolou o campo de jogo. A inundação de campanhas publicitárias com o rosto do camisa 10 da seleção é a prova incontestável de que as fronteiras entre o jogador e o digital influencer já estão borradas há muito tempo. Logo, não interessa apenas o que Neymar faz dentro de campo. 

O jogador é ídolo de milhões de pessoas no Brasil e no mundo, ou seja, é uma estrela global. As hashtags presentes nas suas redes sociais impulsionam a indústria  do consumo e dos costumes da Ásia aos lugares remotos da Amazônia. Lembrando Ben Parker, tio do ícone pop Homem Aranha, grandes poderes requerem grandes responsabilidades. E a fama de Neymar é um grande poder. 

Nas infindáveis mesas redondas que tratam o assunto da grave acusação de estupro que pesa sobre Neymar, um jornalista se referiu a ele como “o moleque”. Neymar é um homem biliardário, de 27 anos, com um filho. O “menino Ney” só tem um efeito nocivo para o cidadão. Chega de infantilizar o camisa 10. Mimá-lo só faz mal a ele e ao time da CBF. 

Não há pré-julgamento algum no que vou escrever. Há uma acusação seríssima a respeito de um crime de estupro, além dessa, Neymar confessadamente cometeu um crime ao vazar imagens íntimas da mulher que o acusou. O mínimo que a CBF deveria fazer era afastar o jogador. 

Todos são inocentes até que se prove o contrário, mas ao reagir a acusação comentendo um crime cibernético, o jogador já agiu de forma suficientemente canalha e merecia ser afastado. Mas é impossível esperar uma atitude dessa de uma entidade comprometida até a raiz em tenebrosas transações. 

A imprensa esportiva está cheia de dedos para tratar o tema. Afinal, Neymar representa muitos pontos de audiência, cliques nos sites e engajamento nas plataformas digitais. Em suma, Neymar vale muito dinheiro. 

Da mesma forma que estão “esperando” a apuração para emitir opiniões, os defensores de Neymar não podem culpar a moça que o acusa. A sociedade repete a velha prática de desacreditar a mulher no papel mais frágil. Os que defendem o jogador em seu crime cibernético atualizam uma ideia lançada há mais de 40 anos, quando ocorreu a morte da socialite Angela Diniz. Neymar vazou as imagens em “legítima defesa da honra”. 

Neymar não matou a mulher como fez Doca Street na década de 1970, mas ao vazar as imagens incitou seu exército de fãs a persegui-la. Ele pode com a atitude ter colocado a vida da acusadora em risco. 

Como diz meu dileto amigo Bruno Pacheco, precisamos de uma campanha pela “”desNeymarização” do mundo. Ele errou demais no episódio. Neymar é a prova do que um mundo com caprichos e tapetes vermelhos estendidos pode provocar no ser humano. Neymar até joga bem, mas fora de campo está muito longe de ser um craque. 

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