segunda-feira, 24 de junho de 2019

Um churrasco de memórias



Um dia saí pela porta da Escola Municipal Joaquim Nabuco e fui estudar no Colégio-Curso Tamandaré. Saí do ambiente em que me criara da primeira à sétima série. Fui traçar outros destinos. 

Ainda mantive contato com alguns dos amigos da época por um tempo, mas depois nossos caminhos seguiram por várias direções. Eu fui pro Tamandaré,  Cefet e faculdade, enfim, perdi o contato. 

Esporadicamente ainda via um ou outro acidentalmente. Mas eles pareciam rostos na memória. Pessoas muito presentes numa parte importante da minha vida, de quem não tive mais notícias. 

A vida é assim, quando você se distrai deixa a rotina lhe afastar dos amigos. No entanto, a tecnologia, elemento que tenho muitas restrições, permite as reaproximações. O WhatsApp, que separou famílias e que é responsável por espalhar mentiras, tem seu lado bom. Então, pude ao menos saber por onde andavam os meus velhos amigos. 

E aí foi marcado um churrasco. Claro, as 300 mil obrigações eram motivos suficientes para não confirmar presença. Mas dessa vez eu joguei a agenda para cima. Adiei correção de trabalhos e elaboração de artigo acadêmico. Ia encontrar a galera da antiga, os veteranos do Nabuco. 

Quando os deixei nas esquinas da vida, mal tinha barba. Voltei casado, pai de dois filhos e com um stent no peito. Em mais de 30 anos, todos envelheceram. No entanto, os cientistas deveriam encontrar a resposta para a eternidade do brilho no olhar. Os olhares e sorrisos continuam os mesmos. Reconheceria-os em qualquer lugar. 

E foi um mergulho no túnel do tempo. Começamos a lembrar das zoações, travessuras e encrencas. A memória dos apelidos, das passagens constrangedoras  e até daqueles que não chegaram aos nossos dias. 

Pezão, Cadinho, Dudu e Batatinha formavam um time de respeito na década de 1980.  Agora estavam no esquadrão da cerveja e da carne. 

E de vez em quando passava uma criança correndo, a filha do Bisa, por exemplo, é um pouco mais velha do que a idade que nós tínhamos quando nos conhecemos. O mascote era o Bento, filho do Carlos Augusto, que ainda não tem um ano, mas já estava na farra. Susto eu tomei ao conhecer o neto do Giovane. E o Gustavo também já tem neto. Ou seja, os “garotos” já eram avós. 

E como disse o vovô Gustavo, tinha gente que não se encontrava há mais de 20 anos, mas as risadas e a cumplicidade foram tantas, que o tempo parece ter ficado congelado. E a gente concluiu que o tempo afetivo é diferente do tempo cronológico. E o que no calendário marcava anos, em nossos corações foi coisa de dias. 

Mas como o tempo cronológico insiste em se fazer presente, a partir de um determinado momento quem assumiu a churrasqueira foi o filho do Giovane, que serviu carne aos coroas que por uma tarde se faziam crianças. No intervalo da viagem ao passado, cada um lembrava de suas preocupações  que são artrose, pressão alta, calvície e vista cansada. 

Obrigado amigos. 

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