domingo, 23 de junho de 2019

Os gays mal resolvidos das tramas de Walcyr Carrasco

Walcyr Carrasco vai novamente colocar a homossexualidade como um problema em suas novelas. Desta vez, a orientação sexual do personagem Agno, de Malvino Salvador, pode ser usada contra ele num tribunal. 

O personagem vai se separar de Lyris, interpretada por Déborah Evelyn. E para se munir em um processo litigioso, a mulher contrata um advogado que descobre que Agno sai com garotos de programa. 

Agno leva uma vida dupla e quer dar um golpe na mulher. É o terceiro personagem gay que o autor constrói para que tenha uma função pérfida em suas tramas. Foi assim com Félix, em Amor à Vida, Samuel, em O Outro Lado do Paraíso e agora Agno. Além de pérfidos, os três têm a homossexualidade como questão mal resolvida. 

A Félix e Samuel, o autor ofereceu a redenção por meio do humor. As frases irônicas do personagem de Matheus Solano viraram memes na internet. Eriberto Leão também será conhecido como o tigrão que virou tigresa. 

Agno é um empresário inescrupuloso, que quer armar pra tirar o dinheiro da mulher e vai se aliar à vilã da trama, mas a questão principal será a moralista, o fato de que ele sai com garotos de programa. 

Num momento, digamos, esquisito do país, judicializar a orientação sexual gay de um personagem no programa de maior audiência da TV aberta pode reforçar preconceitos e mandar recados errados. 

Sair ou não com garotos de programa, ser ou não gay é uma questão privada. Deve ser resolvida pelo casal. Óbvio que não serei inocente de dizer que a trama de Agno e Lyris é irreal, obviamente, há casais iguais fora das telas. No entanto, há uma pedagogia social que uma obra como a novela tem que levar em conta. 

João Emanuel Carneiro foi pedagógico aos mostrar a ascensão da classe C em Avenida Brasil. Quando criou Monalisa, de Heloísa Perissé, fez uma empresária forte, que saiu de baixo. Existem pessoas com a mesma origem da personagem que para vencer na vida sonegaram impostos e deram pequenos golpe? Claro, mas para que ressaltar essas características? 

Em A Força do Querer, Gloria Perez construiu para Paola Oliveira a policial e lutadora de MMA Geiza. A autora colocou nela as características sempre reservadas a um personagem masculino. O  objetivo foi mostrar que as mulheres podem exercer esse papel. Esses dois exemplos explicam o que chamei de pedagogia social da novela. 

Quando num dia, cada vez mais distante, a pessoa não for julgada pelo fato de ser heterossexual, homossexual, bissexual, transexual e toda a plêiade de orientações possíveis, não haverá problema em elaborar uma trama como a de Agno. Nos tempos atuais, Walcyr Carrasco está novamente prestando um desserviço social ao associar vilania e orientação sexual. 


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