quinta-feira, 6 de junho de 2019

Afastamento de repórter por causa do caso Neymar parece linchamento público


Mauro Naves não é bandido. Mauro Naves não extorquiu dinheiro de ninguém. Mauro Naves passou o telefone de uma fonte a uma pessoa querendo garantir a exclusividade de uma história jornalisticamente relevante. Com os dados que se tem até o momento, o veterano jornalista não deveria ter sido tratado como foi pela empresa a qual durante anos prestou serviços. Naves foi mais uma vítima nessa encrenca danada em que se meteu Neymar após as denúncias de uma modelo de que o jogador a teria estuprado. Por uma questão de escolha, não registrarei o nome da suposta vítima. Quem quiser saber procure outra fonte, se bem que depois que Neymar Pai (com maiúsculo de propósito) revelou o nome dela, dificilmente quem está lendo esse texto não saiba a identidade.  

Voltando ao repórter afastado pela TV Globo; a nota do JN lida pelo âncora de maior credibilidade da casa se assemelhou a uma sentença sumária de culpa. Ao jogar sobre os ombros de Mauro Naves uma conduta duvidosa, a TV Globo abriu possibilidade para que o repórter sofra um linchamento público. A empresa lavou roupa suja em rede nacional. A justificativa oficial é uma satisfação à opinião pública, mas na verdade, parece uma satisfação ao staff de Neymar. É bom lembrar que na Copa do Mundo de 2014, a emissora e a problemática estrela tinham um contrato que garantia exclusividade em entrevistas. Essa, sim, parece ser uma atitude eticamente questionável do ponto de vista jornalístico.
Qual foi o grande pecado de Mauro Naves? Talvez não ter explicado aos chefes que estava tentando uma reportagem exclusiva e explosiva. A punição ao repórter pode ter passado por uma lei do mundo corporativo: “chefes odeiam surpresas”. Mas a dúvida que sempre vai pairar no ar é aquela: se não fosse Neymar o personagem principal, Naves seria afastado? E como a partícula condicional da frase nunca será retirada, a resposta não será conhecida.

A verdade é que as aventuras sexuais de Neymar na França produziram vários estragos. Para o jogador, para Mauro Naves e principalmente para a modelo que diz ter sido estuprada. A mulher deu uma entrevista ao jornalista Roberto Cabrini e de forma altiva e serena explicou que queria fazer sexo com Neymar, que foi a Paris para isso. Em alguns momentos Cabrini  parecia um advogado de acusação, no entanto, a modelo não perdeu a calma nem quando o repórter do SBT a interpelou com o montante de suas dívidas. A história da suposta vítima é plausível. Ela foi até Paris e ao encontrar o jogador exaltado, violento e sem preservativo não quis prosseguir.

Até que surja algo novo, será sempre a palavra dela contra a palavra dele. E, honestamente, Neymar pode inclusive achar que nada fez. Mas faz parte da chamada “cultura do estupro” a falta do direito da mulher de se recusar a fazer sexo mesmo estando despida. Enquanto patrocinadores estudam medidas para evitar um contato com o garoto-propaganda que se mostra tóxico no momento, o presidente do Brasil foi ao hospital e se solidarizou com o jogador. Depois das homenagens ao MC Reaça, que se matou após bater numa mulher grávida, o primeiro mandatário deixa mais evidente seu lado nessas bolas divididas.

E por falar em bola, que aliás deveria ser o principal assunto na vida de Neymar, seu corpo acabou aprontando um jeito dele ficar fora da Copa América e se concentrar no que é vital para sua carreira no momento: salvar sua reputação, nem que para isso, a reputação de outras pessoas escorra ralo abaixo.

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