Mauro Naves não é bandido. Mauro Naves não extorquiu
dinheiro de ninguém. Mauro Naves passou o telefone de uma fonte a uma pessoa
querendo garantir a exclusividade de uma história jornalisticamente relevante.
Com os dados que se tem até o momento, o veterano jornalista não deveria ter
sido tratado como foi pela empresa a qual durante anos prestou serviços. Naves
foi mais uma vítima nessa encrenca danada em que se meteu Neymar após as
denúncias de uma modelo de que o jogador a teria estuprado. Por uma questão de
escolha, não registrarei o nome da suposta vítima. Quem quiser saber procure
outra fonte, se bem que depois que Neymar Pai (com maiúsculo de propósito)
revelou o nome dela, dificilmente quem está lendo esse texto não saiba a
identidade.
Voltando ao repórter afastado pela TV Globo; a nota do JN
lida pelo âncora de maior credibilidade da casa se assemelhou a uma sentença
sumária de culpa. Ao jogar sobre os ombros de Mauro Naves uma conduta duvidosa,
a TV Globo abriu possibilidade para que o repórter sofra um linchamento
público. A empresa lavou roupa suja em rede nacional. A justificativa oficial é
uma satisfação à opinião pública, mas na verdade, parece uma satisfação ao
staff de Neymar. É bom lembrar que na Copa do Mundo de 2014, a emissora e a
problemática estrela tinham um contrato que garantia exclusividade em
entrevistas. Essa, sim, parece ser uma atitude eticamente questionável do ponto
de vista jornalístico.
Qual foi o grande pecado de Mauro Naves? Talvez não ter
explicado aos chefes que estava tentando uma reportagem exclusiva e explosiva.
A punição ao repórter pode ter passado por uma lei do mundo corporativo: “chefes
odeiam surpresas”. Mas a dúvida que sempre vai pairar no ar é aquela: se não
fosse Neymar o personagem principal, Naves seria afastado? E como a partícula condicional
da frase nunca será retirada, a resposta não será conhecida.
A verdade é que as aventuras sexuais de Neymar na França
produziram vários estragos. Para o jogador, para Mauro Naves e principalmente
para a modelo que diz ter sido estuprada. A mulher deu uma entrevista ao
jornalista Roberto Cabrini e de forma altiva e serena explicou que queria fazer
sexo com Neymar, que foi a Paris para isso. Em alguns momentos Cabrini parecia um advogado de acusação, no entanto, a
modelo não perdeu a calma nem quando o repórter do SBT a interpelou com o
montante de suas dívidas. A história da suposta vítima é plausível. Ela foi até
Paris e ao encontrar o jogador exaltado, violento e sem preservativo não quis
prosseguir.
Até que surja algo novo, será sempre a palavra dela
contra a palavra dele. E, honestamente, Neymar pode inclusive achar que nada
fez. Mas faz parte da chamada “cultura do estupro” a falta do direito da mulher
de se recusar a fazer sexo mesmo estando despida. Enquanto patrocinadores
estudam medidas para evitar um contato com o garoto-propaganda que se mostra
tóxico no momento, o presidente do Brasil foi ao hospital e se solidarizou com
o jogador. Depois das homenagens ao MC Reaça, que se matou após bater numa
mulher grávida, o primeiro mandatário deixa mais evidente seu lado nessas bolas
divididas.
E por falar em bola, que aliás deveria ser o principal
assunto na vida de Neymar, seu corpo acabou aprontando um jeito dele ficar fora
da Copa América e se concentrar no que é vital para sua carreira no momento:
salvar sua reputação, nem que para isso, a reputação de outras pessoas escorra ralo
abaixo.
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