quinta-feira, 12 de julho de 2018

O jogo pesado para salvar Crivella

Cresci com a teoria da conspiração da propaganda subliminar. Ela funcionaria assim, a marca que queria fazer a tal propaganda, projetava imagens rapidamente. Essas imagens não eram capturadas pelos olhos e iriam diretamente para o subconsciente. Na verdade a propaganda subliminar nunca foi cientificamente comprovada. Além do mais, hoje a propaganda está massivamente em tudo, agindo explicitamente, logo, a propaganda subliminar foi para o mesmo cemitério onde sepultaram as ombreiras. 

Mas pegarei emprestado o conceito da propaganda subreptícia para voltar a falar de Marcello Crivella. Estarrecedor o que o MP investiga em duas escolas da rede municipal do Rio. Matéria publicada no jornal O Globo informa. que pastores da Igreja Universal usaram as instalações do Ciep Ministro Gustavo Capanema, na Maré, e da escola Joaquim Abilio Borges, no Humaita, para fazer ações sociais, como cortar cabelo, fazer massagem e atendimento odontológico. As pessoas que prestavam os serviços usavam uniformes com o logotipo da igreja. Havia ainda um atendimento espiritual e distribuição de panfletos. 

Essa página de misturar educação pública e religião estava virada. O ex-prefeito Eduardo Paes determinou que os católicos não fizessem mais evangelização nas escolas. Paes fez cumprir uma coisa óbvia: instituições públicas são laicas. A escolha por uma educação religiosa não pode ser compulsória numa escola municipal. 

A expansão das igrejas pentecostais tem muito a ver com a capacidade de evangelização. Elas cresceram nas áreas periféricas de todo o país, num vácuo deixado pelos católicos. O conforto espiritual, antes dado exclusivamente por padres, passou a ser dado por pastores e obreiros. 

A chegada de Crivella à prefeitura pode representar o aparelhamento das escolas no sentido de ganhar novos adeptos ou reforçar adesões. A sabedoria popular já aponta a estratégia: “é de pequenino que se torce o pepino”. Não podendo ser explícito e determinar que as escolas municipais tenham ensino religioso evangélico, o prefeito permite que a igreja da qual é bispo faça proselitismo disfarçado de ação social. Ou seja, o prefeito elevou a sofisticação da “propaganda subliminar”. Clientelismo é outra palavra para definir o que Marcelo Crivella faz na Prefeitura do Rio. 

Há outra i formação preocupante nos jornais. A coluna Informe do Dia traz a notícia que a cúpula da Universal vai jogar pesado contra os vereadores que votarem a favor da abertura do processo de Impeachment do prefeito na Câmara dos Vereadores. A ordem é fazer dossiês e publicar nos órgãos de comunicação evangélicos. O nome disso é coação. A simples possibilidade de despertar a ira dos pastores vai provocar o recuo de muitos vereadores. 

Não sejamos inocentes. É claro que as matérias dos veículos do Grupo Globo contra Crivella tem como pano de fundo a disputa com a Record. No entanto, isso não invalida a gravidade do “Cataratagate”. 

Crivella é o pior prefeito do Rio desde que a população voltou a escolher os alcaides, em 1985. E olha que neste caminho já tivemos até a falência do município, menos pela incompetência do gestor e mais por um boicote político. 

Continuo a não acreditar que a Câmara aprovará o Impeachment de Crivella. Mesmo assim, espero honestamente que o combate a essa política funesta e clientelista permaneça sem tréguas e que o bispo não consiga se reeleger. 

Não há santos na política, mas alguns parecem estar mais perto do Inferno do que outros. 

  

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