quinta-feira, 19 de julho de 2018

ANS ou sindicato das operadoras?

No trânsito somos todos pedestres. A frase não é minha, é de um comercial de seguro de carros. Mas resolvi dar uma adaptada. Na vida, somos todos consumidores, já diria Nestor Garcia Canclini. 

Recorri ao pensador argentino para comentar a declaração do diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar. Ao criticar a decisão da presidente do Supremo que impede os planos de saúde de fixar em até 40% para exames e consultas em planos de coparticipação e franquia, Rodrigo Aguiar afirmou que a agência não é órgão de defesa do consumidor. 

A insensibilidade do burocrata é mais uma prova que as elites  econômica e política são alheias à realidade da população. Canclini explica a nossa condição atual de consumidores e cidadãos. Vou pegar emprestado parte das teorias para explicar que ao defender o consumidor, a ANS defenderia o cidadão e a sociedade. Em nosso mundo, nossa capacidade de consumir influência na nossa cidadania. 

No entanto, deixemos a teoria de lado para falar de coisas práticas. A cara de pau do diretor da ANS é impressionante. Ao dizer que está colocando limites e não determinando que o percentual seja de até 40% ele está tirando a possibilidade de negociação do cliente. Ou em sua “ingenuidade”, ele acredita que as “bondosas” operadoras praticarão um percentual menor? Vergonha, vergonha, vergonha. 

O diretor da agência que regula o setor defende, em última instância, que as empresas pratiquem um cartel, pois todas cobrarão os 40% de participação. Para variar, o bolso do cidadão vai pagar para o andar de cima lucrar. 

Uma agência que regula um setor agindo de forma parcial em favor dos patrões perde totalmente a razão de ser. É melhor dar o verdadeiro nome a ela: sindicato patronal das operadoras de plano de saúde. 

Infelizmente, nesse país em que a saúde pública sofre cortes frequentes, a classe média recorre aos planos de saúde para tentar ter alguma dignidade no atendimento. No entanto, se a decisão da ministra Carmen Lúcia foi derrubada pelos seus colegas, planos de saúde não serão mais para a classe média, passarão a ser opção para aquele 1% que pode pagar. 

A população brasileira vai depender da sensibilidade do Supremo para que as operadores de Plano de Saúde não promovam uma extorsão em níveis históricas. Pois da ANS, não se pode esperar nada mesmo. 

Quem quiser saber um pouco mais de Nestor Garcia Canclini deve ler o livro Co sumidouros e cidadãos. Aliás, o diretor da ANS poderia dar uma olhada, para colocar alguma teoria em sua prática e não falar besteira. 


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