segunda-feira, 8 de julho de 2019

A pálida lembrança do que já foi o Brasil

Creso Soares Júnior &!Alexandre Caroli

A foto de Jair Bolsonaro agarrando a taça da Copa América provocou uma coisa positiva neste blog. Pela primeira vez será escrito um texto a quatro mãos. É a união de um rubro-negro e de um vascaíno falando de um futebol que está nos rastros da memória. E que só poderá ser resgatado por um texto, já que máquina do tempo só existe em ficção. 

Setenta mil almas estavam no Maracanã na final da Copa América. No entanto, havia muitos “grã-finos com nariz de defunto”, parafraseando Nelson Rodrigues, e nenhum “geraldino”. Afinal, o futebol S.A. expulsou os geraldinos, os chinelos velhos e camisas puídas. O Maracanã de hoje é da “modinha”. As arquibancadas são a grande pré de uma night em que depois jogadores e muitos dos frequentadores  vão se encontrar. Os ídolos passam por uma dessacralização. As redes sociais os expuseram demais, mas isso é outra discussão. 

O preço dos ingressos tirou uma das imagens mais características do futebol carioca: a porta do trem abrindo e o povo partindo em desabalada carreira na direção do Maior do Mundo. Hoje se chega ao Maracanã de Uber, taxi e Metrô. Sem querer fazer um tratado de sociologia, pois nos falta o saber acadêmico para tal, mas um dos efeitos práticos foi a reação da plateia aos 35 do segundo tempo. O time brasileiro com um a menos em campo, o Peru tentando uma reação e o repórter da TV Globo constatou  que a torcida estava em silêncio. 

Agora não tem nem Maior do Mundo, não tem geraldino, mas tem um presidente papagaio de pirata, que se mete na competição esportiva. A cena desperta em quem tem memória um certo ar de “Pra sempre Brasil”.  A lembrança provocou arrepios de um passado que não deixa saudades nos autores deste texto. 

O futebol que está nos rastros da memória começa dentro do campo. Apesar de ter ocorrido uma evolução desde a estreia até o final da Copa América, o desempenho da seleção brasileira está muito longe do que se espera. Com ou sem crise de geração, o fato é que nossos melhores jogadores atuam em grandes times da Europa, mas, quando se reúnem, não conseguem formar um time que apresente um futebol com mais qualidade. O "x" da questão é a filosofia. Tite levou para a seleção uma forma de jogar que era boa para o Corinthians, mas não para um time com os melhores atletas brasileiros: excesso de cautela; muita bola parada; falta de imaginação; time estático e sem troca de posições; etc etc etc. O Brasil conseguiu flertar com o perigo jogando contra uma seleção peruana fraquíssima. A vitória só se confirmou em um pênalti maluco inventado pelo árbitro - que já havia errado no pênalti a favor do Peru. É pouco. Para a seleção brasileira, é muito pouco.

Porém, a falta de empatia com a seleção vai muito além das quatro linhas. O último jogo no Maracanã antes da final contra o Peru foi a vitória contra a Espanha na decisão da Copa das Confederações em 2013. Seis anos. É claro que Olimpíada não conta. Uma Copa do Mundo foi disputada no país sem um jogo do Brasil no Maracanã. E não há traço regionalista neste texto. É uma constatação: durante o apogeu do escrete canarinho Brasil E Maracanã eram indissociáveis. O peso do estádio era tamanho que o Santos de Pelé, um time paulista,  decidiu Mundial no estádio. . 

Também é impossível ignorar que a CBF é uma entidade marcada pela corrupção. Rica, nada faz para de fato melhorar a estrutura do futebol brasileiro. Se preocupa apenas em "vender" a seleção pelo mundo. O resto que se dane, como, por exemplo, o futebol feminino. Além disso, é difícil ter paciência com a postura de alguns jogadores. Depois do choro do capitão Thiago Silva (um cracaço) em 2014, e do choro e do cai-cai de Neymar em 2018, na final contra o Peru houve o chilique de Gabriel Jesus. Mesmo expulso injustamente, não dá para sair de campo esperneando daquele jeito. Pelo menos pediu desculpas.

O geraldino faz falta porque faz falta o Maior do Mundo. O empate em 2 a 2 entre Vasco e Fluminense pelo Brasileiro de 2010, com mais de 80 mil pessoas, foi o último jogo do Maracanã em sua essência: as duas torcidas em peso, faixas, bandeiras, bandeirões, alma. https://www.youtube.com/watch?v=DJEei8F0EJk  Depois, vieram a destruição e a construção desta insuportável arena padrão FIFA. Um espaço proibido para os geraldinos e não apenas na Copa América. Por fim, diante da cena patética do presidente vaiado agarrado à taça da Copa América - uma tentativa de apropriação para deixar com inveja os generais da ditadura - impossível não lamentar a inexistência de alguém com a camisa amarela com a coragem de uma Megan Rapinoe, para dissipar o irrespirável ar de Pra Frente Brasil.

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