terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Manhã clássica no Rio de Janeiro







Demorei 1 hora para percorrer uma distância de 17 km entre a Barra e a Lagoa. Mesmo sendo de humanas, é fácil calcular que fiz uma média de 17 km/h. É dezembro, já me acostumei com o mundo de carros na cidade nesta época. Agradeci mentalmente por não fazer esse percurso diariamente e tentei me munir de resiliência. Esta, aliás, a palavra do ano para mim. 

Como estamos em “novos tempos” no país, resolvi aguçar meu olhar para a cidade que me cercava e entender o que já estava mudando. Não me restavam outras opções. Era só embreagem, primeira, freio e ponto morto, um clássico nas manhãs cariocas. 

Na Avenida Niemeyer olho para a minha esquerda e vejo um intrépido ciclista ultrapassando os carros. O homem sem camisa, montado na “magrela” laranja do banco -Ainda se chama bicicleta de magrela no século XXI? - a cena poderia ser ecologicamente correta  e tal se à minha direita não estivesse a Ciclovia Tim Maia. Pensei: o cara está errado, não pode andar na rua com a ciclovia do lado. Esse pensamento não durou nem o tempo da conclusão da frase. Lembrei que na referida ciclovia há dois trechos interditados, morreram duas pessoas por causa de um acidente inaceitável e na semana passada havia um jacaré passeando. É, com a prefeitura do Crivella, é melhor se arriscar no meio dos carros (é bom lembrar que a ciclovia e o acidente ocorreram na administração de Eduardo Paes). 

Continuei minha saga. Trânsito lento, sol escaldante e uma paisagem de tirar o fôlego.    O fluxo de veículos diminuiu. Segui pela Delfim Moreira e acessei o Jardim de Alá. Na esquina com a Visconde de Pirajá o trânsito fica novamente complicado. Um caminhão impunemente estava em cima da faixa de pedestres descarregando mercadorias para um restaurante. Não havia um guarda municipal para impedir a irregularidade. Por causa da “operação descarregamento”, fiquei preso durante dois sinais verdes sem poder andar. 

Entrei na Epitácio Pessoa. Virei à esquerda em direção ao Parque dos Patins. O trânsito no entroncamento da Mario Ribeiro com Borges de Medeiros é para fortes. No entanto, há um atalho para os sem ética. Pegar o acostamento usado para quem vai entrar no Lagoon. Pela economia de parcos 30 segundos, incontáveis motoristas se metem a “ixpertos” e cortam o caminho por ali. O resultado é mais um gargalo no trânsito entupido do Rio. Cheguei ao meu destino num misto de iritacaca e alívio. 

Antes de mergulhar na piscina, decidi despejar a quantidade de pequenas atitudes que num olhar superficial pude perceber. A julgar pelo veredicto das urnas, votamos contra tudo isso que está aí. No entanto, não olhamos nossas pequenas corrupções. Nossos pequenos atos egoistas que complicam mais a vida de todos. Queremos alguém que redima nossos pecados, mas não colocamos arrependimento e empatia na equação. Somos hipócritas. O erro está sempre lá, nunca está aqui. 

Bom, cansei das coisas chatas. Em uma semana estaremos todos empanturrados precisando de Sonrisal. Então, o negócio é não se aborrecer e praticar nossos pequenos delitos. 


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