domingo, 2 de dezembro de 2018

Infiltrado na Klan, você precisa ver

O Nascimento de Uma Nação é um filme mudo americano dirigido por D.W. Griffith, em 1915. O filme é um libelo racista, que criminaliza negros e retrata a Ku Klux Klan como uma resistência branca à invasão de uma raça inferior aos Estados Unidos. No filme, um infiltrado na Klan, de Spike Lee, é reconstituída uma cerimônia de iniciação de membros da organização. Nela, ao final, os integrantes assistem ao filme de Griffith e urram quando as forças confederadas matam os negros, representados no filme por atores brancos pintados de negros. 

Muitos estudiosos exaltam o cineasta americano por ter criado uma narrativa de início meio e fim para os filmes, com a sua montagem. Em que pese a colaboração técnica de Griffith, o fato é que seu filme foi usado por fanáticos para defender o indefensável. 

Mais de mil pessoas foram mortas este ano na intervenção militar no Rio de Janeiro. São os chamados autos de resistência, quando as mortes ocorrem em confrontos com a polícia. A Guerra de Secessão ocorreu há mais de 150 anos, mesmo assim os métodos dos Confederados parecem atuais. 

Demorei a encontrar uma metáfora, mas a cena do deputado eleito Rodrigo Amorim quebrando a placa da vereadora Marielle Franco lembrou-me as cruzes queimadas da Ku Klux Klan. E os sorrisos cúmplices e de regozijo do então candidato Wilson Witzel e dos correligionários causou-me arrepios de medo. 

Aliás, Infiltrado na Klan é imperdível. Mas um conselho. Não veja de noite. Você pode demorar a dormir. Se você se tocar que na quinta-feira, dia 13, o AI-5 completa 50 anos, o mal estar fica pior. 

O Nascimento de uma Nação foi lançado 50 anos após a vitória das tropas do Norte sobre os confederados. E a obra de Griffith atacava o maior legado de Lincoln, o fim da escravidão nos EUA. 

Ainda neste périplo cinematográfico, vale falar mais um pouco do filme de Spike Lee. A essa altura você já sabe que a obra é baseado no livro de Ron Stallworth, um policial negro que liderou uma investigação sobre as atividades da Ku Klux Klan, na cidade de Colorado Springs. 

Há piadas no filme, mas as risadas são mais provocadas por uma reação nervosa, não são gargalhadas de prazer. Spike Lee avisa logo no começo que o filme é baseado “numas paradas que aconteceram mesmo”. Ao longo do filme você percebe que o diretor errou de propósito o tempo verbal. Baseado em “paradas que acontecem mesmo”. 

Ambientado na década de 1970, é possível ver cartazes da campanha de reeleição do republicano Richard Nixon colados nas paredes dos locais onde a KKK se reunia. Os discursos e saudações eram assim: “América em Primeiro Lugar”, “América, ame-a, ou deixe-a”, “temos que salvar a América branca e protestante”, “Temos que preservar os valores da família”. Troque o nome do país, pense nos 50 anos do AI-5 e depois sinta aumentar o bolo no estômago. O filme de Lee mostra o discurso insano da Klan, mas mostra que na América de Trump, as palavras ganham ressonância assustadora. 

Ao dizer que não vai demarcar terras indígenas e que os índios precisam “evoluir para se igualar a nós”, o presidente eleito do Brasil incorpora o discurso de D. W. Griffith, que o branco civilizado precisa entrar naquele terreno hostil para resgatar as terras da nação daquele bando de seres inferiores. 


O terreno já está preparado. Grileiros e jagunços ouviram como música a declaração sobre os índios. No entanto, enquanto houver Netflix, sofrência, litrão e futebol, ninguém vai se importar. A sociedade não se importa, na verdade. Lembra do massacre do Carandiru que teve 111 mortos? A sentença que condenava os 74 PMs foi anulada. Eles serão submetidos a novo júri popular. Enquanto isso, seguem impunes. E os mortos, como diz Caetano Veloso, são quase todos pretos. E em algum lugar se encontram D. W. Griffith, Spike Lee e Caetano Veloso. 

2 comentários:

  1. Eu já fiquei com bolo no estômago só de ler os jornais.
    A esperança acabou.

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  2. Interessante, você gostou do filme? É excelente, sinto que história é boa, mas o que realmente faz a diferença é a participação do ator Adam Driver neste filme. O elenco deste filme é ótimo, eu amo tudo onde Adam Driver aparece, o ultimo que eu vi foi em um filme bom de comedia chamado Lucky Logan Roubo em Família, adorei esse filme! De todos os filmes que estrearam, este foi o meu preferido, eu recomendo, é uma historia boa que nos mantêm presos no sofá. É espetacular. Pessoalmente eu acho que é um filme que nos prende, tenho certeza que vai gostar, é uma boa história. Definitivamente recomendado.

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