domingo, 23 de dezembro de 2018

O que a Família Real britânica ensina aos brasileiros

Confesso um certo fascínio pela rainha da Inglaterra. Coroada em 1953, das monarcas britânicas é  a que enfrentou mais mudanças em seu reinado. De todos os substantivos que podem ser aplicados a um ser humano, o que melhor se encaixa em Elizabeth é sobrevivente. Sim, ela é uma sobrevivente. 

Para usar um termo que aprendi com meus alunos este ano, maratonei a série The House of Windsor, no Netflix, e aprendi mais um pouco sobre a Família Real Britânica.  Voltarei à série em outros textos, mas hoje quero falar o instinto de sobrevivência que garantiu a dinastia Windsor na coroa. 

O avô de Elizabeth, George V, decidiu dar um golpe de marketing em 1917. A Família Real tinha o sobrenome Saxe-Coburgo Gota. Um sobrenome de origem austro-germânica. No entanto, a Primeira Guerra Mundial acirrou os conflitos entre alemães e ingleses. O exército germânico bombardeou Londres. Um rei com o sobrenome do inimigo não iria ser muito bem recebido. 

George V pensou na sobrevivência e ordenou que seus conselheiros encontrassem um novo nome para a dinastia. Descartaram vários como Stuart e Tudor. Depois de uma busca que parecia não ter fim, George V aprovou o sobrenome Windsor. Era 1917, no meio do conflito mundial, nos escombros de um país  assolado pela guerra, George V garantiu sua continuidade no poder. 

Se já fora esperto ao trocar de sobrenome, o avô da rainha Elizabeth teria que usar mais uma característica inerente aos seres humanos. Traduzindo para o português: farinha pouca, meu pirão primeiro. Por causa dos casamentos arranjados entre os nobres europeus, a maioria dos monarcas era parente. Por exemplo, a família Saxe-Coburgo, a que originalmente pertencia George V, tinha laços com a Família Real Brasileira. A irmã da princesa Isabel era casada com um Saxe-Coburgo. 

Nessa história dos laços de parentesco entre os nobres, George V era primo do czar Nicolau II da Rússia. Os dois eram muito amigos, há registros de cartas de George V revelando admiração pelo primo. Olhando as fotos chega a ser assustadora a semelhança entre os dois. Sentindo que sua cabeça corria risco, Nicolau pediu asilo político a George V. Dado o grau de cumplicidade entre os primos, a primeira resposta da chancelaria britânica foi sim, mas seria necessário perguntar ao Parlamento e ao próprio monarca. 

Mesmo com toda a “amizade” entre George V e Nicolau II, o asilo não foi concedido. Durante décadas se acreditou que o veto à chegada do czar se devera ao primeiro ministro. No entanto, correspondências reveladas posteriormente mostraram que temendo que os ventos russos chegassem a Londres, o próprio George V deixou o primo entregue à sorte. O fim da história é que ano seguinte os revolucionários russos mataram Nicolau II e a família. A Rússia virou União Soviética e a Inglaterra continuou Inglaterra. 

Ao longo da história golpes de marketing e traições salvaram pescoços. Quantos políticos mudaram de partido para que a sigla não os estigmatizassem? Inúmeros. Na traição de George V a Nicolau II há duas lições. Uma delas: o primeiro ministro David Lloyd George aceitou o papel de vilão para preservar o rei. A segunda, mesmo com a amizade e a cumplicidade aparente, George V não hesitou em deixar Nicolau II para trás na hora de preservar a própria coroa. 

Hoje em dia, a cumplicidade está em fotos e cargos de confiança, não mais em cartas, mas a saga continua. Arruma-se “laranjas” para levar a culpa com o objetivo de preservar o rei, no caso o príncipe. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário