quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Ressaca de Natal

Algum instituto de pesquisa deveria fazer seriamente um levantamento sobre o consumo e a venda de antiácidos nesta época do ano. Aliás, a indústria farmacêutica deveria investir maciçamente nas verbas publicitárias em dezembro. Com a honrosa exceção da Bela Gil, o restante da população brasileira  está neste momento curtindo a rebordosa alimentícia. 

Meu amigo Bruno Zolotar  faz aniversário hoje. Ao cumprimentá-lo recebi como resposta uma espécies de pedido de socorro: “não aguento mais comer”. Diante do desabafo do Bruno, pensei que além dos traumas de infância em receber um presente que reunia Natal e aniversário, existe o trauma alimentar. Você não consegue  nem chutar o balde direito, porque seu estômago e seu fígado ainda precisam de uma desintoxicação. 

O Natal parece nos dar uma licença poética para a glutonaria. É quase como uma viagem ao exterior. Para evitar o aborrecimento de converter o câmbio  e calcular as despesas em reais, você prefere entrar num jogo de fantasia. Então, paga 10 dólares num souvenir, que está longe de valer 10 reais. Na ceia de Natal aciona-se o mesmo dispositivo. 

Em condições normais você comeria um prato com dois pedaços de pernil, por exemplo. No entanto, existem muitas opções de proteína.. Tem pernil, tender, peru, chester e bacalhau. Toda escolha implica numa perda, e como Natal é época de ganhar, você faz pratos com todas as proteínas. Por menores que sejam os porções, são 4 refeições! 

Falei da ceia, mas existem as preliminares. Castanha do Pará e castanha de caju. O bacalhau vem representado de algumas formas. Pode ser bolinho, ou desfiado, a famosa “punheta de bacalhau”. Mediante tantas ofertas, a única opção é comer. 

Da mesma forma que a gente “esquece” que a conta das compras da viagem chega e a fonte de renda continua a mesma, a gente esquece que o estômago não dilata do jeito necessário para evitar uma azia. Neste momento, os antiácidos são a última solução. 

O pior é que em dezembro você não come apenas no Natal. No meu prontuário foram anotados três churrascos e quatro confraternizações noturnas. Amigos, não há estômago e fígado para resistir ao último mês do ano. Aos 47 anos, ainda não aprendi como passar incólume por essa glutonaria dezembrina. 

Por conta da idade e do meu evento cardíaco de maio, resolvi não ingerir bebidas alcoólicas. Em mim os efeitos estão menos graves do que em outros anos, pois não há o ingrediente alcoólico na minha ressaca. No entanto, na ingestão das comidas natalinas, mantive uma alta performance. E estou fazendo uso dos remédios indicados para aliviar os efeitos da orgia gastronômica. 

Não consegui escrever um texto natalino que falasse sobre a importância da renovação nesta época, nem mesmo algo sobre um jeito de evitar as tretas político-partidárias nos convescotes. Gente mais preparada do que eu já tinha escrito a respeito. Que todos guardem genuinamente no peito o teor das mensagens que enviaram e das fotos que postaram nas redes sociais. E que no próximo dezembro a gente coma com mais sabedoria para dar menos dinheiro à indústria farmacêutica. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário