domingo, 17 de junho de 2018

A última chance que darei à seleção brasileira

Em 20 anos, essa será a primeira Copa do Mundo em que não terei envolvimento profissional direto com a competição. Trabalhei poucas vezes no Esporte, mas Copa do Mundo mobiliza toda equipe de reportagem. De 98 para cá, já fiz muito povo-fala (entrevistas com populares nas ruas) no Alzirão, em bares da orla de Copacabana, ou centros tradicionais de colônias estrangeiras na cidade. 

Lembro que acompanhei Itália e Áustria em um clube italiano que ficava em Santa Tereza. O jogo estava 1 a 1 e teve um pênalti para a Itália. Roberto Baggio se encaminhou para a cobrança. Quatro anos antes ele jogara pelos ares as chances da Azurra e premiava a seleção brasileira. 

Não olhei para a televisão. Fiquei olhando para os torcedores. Baggio bateu com tranquilidade e a Itália venceu o jogo. Obviamente, perguntei a todos se tiveram medo. Naturalmente, a resposta foi afirmativa. 

Não sei se me divorciei da seleção, como disse meu amigo André Lobão, mas com certeza não é a mesma relação de 1998. Ela se desgastou muito desde 2006. 

Em 1982, a primeira Copa que tive consciência, chorei desesperadamente. Esperava que alguma notícia restituísse a verdade. Que o juiz marcasse um pênalti retroativo, referente ao lance que o Gentile ficou com a camisa do Zico na mão. 

Na Copa de 1986, o pênalti veio. Zico é que não era o mesmo. Frio por ter entrado há pouco no jogo, perdeu um pênalti que talvez não existisse se não fosse um passe de cinema que deu para Branco. Mais lágrimas. 

Não gosto do Maradona. Reconheço sua genialidade, mas acho que ele usurpou o título de 86 que poderia ser do Zico. Delírios adolescentes. 

Em 94, vi as cobranças de pênaltis da final ajoelhado e chorando. Já 2002, a decisão foi no dia que completava um ano de casado. Não tinha como dar errado. Mais lágrimas de alegria. 

Mas aí veio 2014. Aquelas arenas anódinas, aquele canto à capela do hino nacional, aquele “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”... Tudo me causava um certo ranço. No entanto, eu torci. 

Ah, Alemanha! Confesso que no quinto gol eu já ria na redação onde acompanhava o jogo. Lembro de uma brincadeira feita no Facebook pelo meu amigo Isidoro Kutno. Ele postou no intervalo: “vou colocar no History Channel, está passando um documentário da 2ª Guerra Mundial. Lá, a Alemanha perde”. Ri muito. Vamos pular Brasil e Holanda. De 1982 até 2014, foi a primeira partida do Brasil em Copas do Mundo que eu não assisti. 

Acho que a seleção foi usurpada por ladrões da pior espécie. Ricardo Teixeira, José Maria Marin, Marco Polo Del Nero representam tudo de ruim que o futebol brasileiro pode produzir. O coronel Nunes, interino que pagou o grande mico do futebol mundial, ao “trair” a candidatura dos EUA, México e Canadá,  que no código de ética dessa turma, dar a palavra não representa absolutamente nada. 

Um rapaz mimado que joga muito , um técnico meio pastoral e carismático e um time muito forte. Essa é a seleção que entra em campo hoje. O amarelo já foi vívido em meu coração, hoje é desbotado. Mesmo assim, vou sentar em frente à televisão e torcer. Talvez seja a última chance que darei ao garoto que chorou em 1982. 




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