terça-feira, 12 de junho de 2018

O Shopping da Bahia e a infância roubada

O algoritmo do Facebook me lembra que há 4 anos eu posava numa foto com pessoas queridas para celebrar a Copa do Mundo no Brasil. Estávamos felizes e num momento “com o brasileiro não há quem possa”.  A Alemanha nos mostrou que há sim e enfiou um 7 a 1 sonoro e significativo. Um 7 a 1 tão simbólico que a cada dia o Brasil parece levar um novo gol. 

O mais recente “gol da Alemanha” aconteceu no Shopping da Bahia. O vídeo começa com um jovem discutindo com um segurança. O motivo: ele queria pagar o almoço para um menor de rua que estava no templo do consumo. A discussão foi surrealista. O segurança dizendo que ele não pagaria o almoço e o o jovem insistindo que faria. Mais algum tempo e chegaram outros seguranças para reforção  o bloco fascista de “não pode pagar”. 

O rapaz insistiu que pagaria. O supervisor do Shopping da Bahia “autorizou” e o menino pode comer. Há um cardápio de injustiças sociais nas imagens. O menino era negro e pobre. Em vez do acolhimento, a infância roubada em forma de preconceito. A culpa de estar ali, sem condições de se alimentar não é dele, é nossa. Não nos indignamos, apenas respaldamos o modelo político-social que colocou aquele menino em situação de fragilidade. 

Tratamos nossas crianças negras e pobres muito mal. Não nos importamos quando as escolas delas são fechadas por causa de tiroteios de traficantes. Viramos o rosto para elas nos sinais de trânsito.  Ficamos com medo da aproximação. 

A ação dos seguranças, até por se passar na Bahia, me lembrou a canção “O Haiti”, de Gilberto Gil e Caetano Veloso: 

“Quando você for convidado para subir no adro da Fundação Casa de Jorge Amado pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos, dando porrada na nuca de malandros pretos, de ladrões mulatos e outros quase brancos, tratados como pretos”. 

Alimentamos uma sanha obsessiva por consumo, mas o shopping, o “templo”, dessa religião, só pode ser frequentado por alguns. O mais curioso é que muitos desses lugares permitem a entrada de cachorros. Crianças pobres não são bem-vindas. 

A música sempre pode iluminar o caminho. Essa ultima frase me lembrou Eduardo Dusek dando um tapa em nossos costumes burgueses: “Troque seu cachorro por uma criança pobre”. 

O vídeo do Shopping da Bahia nos faz pensar o quão desafinada é nossa sociedade. E como se fosse um meme em looping, uma alucinação com gols da Alemanha em profusão. Com 518 anos levando gols, não há título da seleção da CBF que possa virar esse jogo. 

Se você tiver estômago, o video está no link abaixo. Eu aconselho a ver. Ajuda a refletir se você está fazendo a sua parte. O pior é pensar que hoje, o menino, provavelmente, não sabe o que vai comer. 



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