quarta-feira, 27 de junho de 2018

Pra frente, Brasil? É isso mesmo?


A chamada da TV Globo para o jogo entre Brasil e Sérvia me assustou. O texto tinha tons sensacionalistas, algo como “o jogo que vai decidir nosso destino”. Depois vinha uma frase do tipo “o time da Sérvia é mais alto do que o nosso, mas teremos que ser maiores do que eles”.  Se entrasse “Pra frente, Brasil” a viagem de terror no tempo seria completa.

A chamada da maior emissora do país soou algo anacrônica, mas perigosa também. A seleção brasileira é um time de futebol, não é o país. Gosto muito de futebol, vibro, comento, corneto e acho que sei falar de tática tanto quanto Tite e, até, quanto o Guardiola. No entanto, sei exatamente todas as caronas políticas que os governantes tentam pegar nos eventos esportivos.

Enquanto nos preocupamos com os nervos à flor da pele de Neymar, A justiça deu uma forcinha para a Samarco e a empresa deixou de correr o risco de desembolsar bilhões para a criação de um fundo de prevenção de desastres como o provocado por ela mesma. A empresa sairá impune por ter matado gente, rios, fauna e flora. Por mais que se explique que o acordo faz parte de um Termo de Ajustamento de Conduta, o que interessa é que o desastre ambiental deixou marcas indeléveis em Minas e Espírito Santo. A nós, resta na boca um gosto amargo de fel, ou melhor, de lama.

O Brasil que precisas ser maior do que a Sérvia, precisa aprender a respeitar as mulheres. A atitude de Frederico D´Ávila no programa Roda Viva entrevistando a pré-candidata do PC do B à presidência foi espelho do que pensa uma parcela, infelizmente expressiva, da nossa sociedade. O “entrevistador”, assessor do capitão candidato e ligado ao agro negócio, perguntou à Manuela d´Ávila se ela achava que a castração química era uma solução para acabar com o estupro. Ao tentar responder, Manuela foi ostensivamente interrompida pelo cidadão. O “entrevistador” não sabe conviver com a diversidade de ideias. E o programa, deveria se desculpar com Manuela. Jornalismo não deve ser contra ou a favor, mas deve ser cordial. Tudo que esse imbecil, perdão, não consigo encontrar outro termo, não foi.
Enquanto Tite decide quem será o capitão do time no próximo jogo, Bruna da Silva tenta catar estilhaços do coração. Ela sofreu a dor indizível de enterrar o filho de 14 anos, Marcos Vinicius, morto durante uma operação na Maré. O menino estava com uniforme escolar. O Brasil que precisa ser maior do que a Sérvia, jamais estará à altura da dor dessa mãe.

E por falar em crianças, o que dizer das 49 brasileiras que foram separadas dos pais, graças a mais uma medida do inacreditável Donald. Nesse meio tempo, o vice-presidente dos EUA vai a Brasília e diz ao morto-vivo que porta a faixa presidencial como deve ser o relacionamento entre Brasil e Venezuela. Ah, não faltava mais nada. Americanos vindo aqui e dizendo como devemos nos portar. Filme antigo, com trilha sonora de vitrola, imagens de TV em preto e branco com Bombril na ponta da antena para sintonizar melhor.

E lá vamos nós, caminhando para trás, querendo ser maiores do que a Sérvia, mas não conseguindo ser nem do tamanho que deveríamos. Desrespeitamos, mulheres, crianças e quem pensa diferente. Pra frente, Brasil?  


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