sexta-feira, 1 de junho de 2018

Aprender é um ato de desprendimento

Se você tem um blog e se propõe a escrever nele todos os dias, tem que ter seus artifícios para preencher a folha em branco. O meu é caminhar pelas ruas. 

Eu sei, não é novo. Baudelaire já fazia isso por Paris. Então é assim. Sou um copiador que se inspira em Baudelaire. 

Claro que muito mudou entre a nobre pena do “flaneur” e o vulgar bloco de notas do pretenso escriba, que deita à lauta digital algumas palavras.

No entanto, mais que Baudelaire, eu queria ter herdado a precisão do olhar de Machado de Assis. Mas como o dom de bruxo não veio configurado em meus arquivos, fico só na pretensão. Na verdade, o parágrafo anterior tentou homenagear o escritor por meio do estilo. 

Ok, preciso voltar ao texto, ao objeto ao qual me propus escrever. Então, pus-me a caminhar às margens da Lagoa Rodirgo de Freitas. Todos aproveitando a beleza do dia de outono no Rio de Janeiro. 

Não domino a arte da fotografia. Mas meus muitos amigos que podem se orgulhar com a honraria de mestres no assunto sempre destacam que a luz outonal na paisagem carioca deixa os dias de outono deslumbrantes. 

Além de aproveitar a beleza, alguns se dedicavam ao sagrado exercício de se manter em movimento e bombear o coração. Caminhava eu, num misto de procura por inspiração e tentativa de bombear o coração, quando me chamou atenção uma cena. 

Uma moça, de não mais do que 25 anos, usava um skate. Ela colocava no chão, dava uns três impulsos, se equilibrava um pouco e depois perdia o equilíbrio. 

Ao retomar a manobra, se preocupava em não atrapalhar quem vinha em marcha atlética pela Lagoa. 

Pensei que aprender representa antes de tudo um ato de desprendimento. Significa sair da posição de conforto para descobrir algo novo em sua rotina. 

Aquela moça não se importava com o fato de que a maioria das pessoas que andam de skate aprenderam em idades muito anteriores às dela. Mesmo assim, ela foi para a Lagoa, um lugar particularmente inóspito em feriados, devido à superlotação de gente. Ela persistia na saga para se equilibrar em cima de quatro rodinhas. Ao cair, ela colocava o skate na pista, conferia se não atrapalharia ninguém e continuava a jornada. 

Quantas vezes a gente desiste pelo medo de cair, nem sobe no skate e já se julga incapaz de aprender. A queda precede o levantar. Ah, existe ainda a vantagem que de skate a locomoção ganha agilidade. Louvo a moça. Não tive a mesma disposição de aprender que ela demonstra. Até tentei andar de patins, mas acabei um esporádico ciclista. 


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