Ao escrever sobre os problemas crônicos de ocupação desordenada do solo no Rio de Janeiro, escrevi sobre uma velha máxima da política, aquela de que não há espaços vazios e que por isso as milícias ocuparam na Muzema as lacunas deixadas pelo Estado.
Enquanto escrevia sobre isso, equipes de jornalistas que acompanhavam o resgate dos corpos que estão embaixo dos escombros foram intimidados por homens suspeitos. Eles fotografaram os jornalistas e chegaram a seguir uma das equipes.
Logo depois da morte do jornalista Tim Lopes, em 2002, as redações do Rio de Janeiro deram a ordem de que os repórteres deveriam evitar entrar nas comunidades para que eles não corressem risco. Em 2008, tenta do fazer seu trabalho para tirar do julgo de bandidos a comunidade do Batan, uma equipe do Jornal O Dia foi espancado e torturada por milicianos.
Depois desses casos, a ilusão que representou a era das UPPs deu a falsa impressão que o estado tinha recuperado o controle dessas áreas. Tudo não passou de uma quimera.
O que mostra o episódio da Muzema é que o estado voltou a ter zonas de exclusão. E nelas impera o estado paralelo. Infelizmente, os repórteres correm um sério risco se continuarem cobrindo o resgate dos corpos na favela.
E o discurso do “prendo e arrebento” que alavancou a vitória de Wilson Witzel já está se mostrando ineficaz. A política de segurança da nova ordem produziu um músico morto com 80 tiros quando ia para um chá de bebê. E agora, a intimidação dos jornalistas.
As comunidades são os mais prejudicados se os repórteres não puderem mais entrar nessas zonas de exclusão. Pois passarão a ser reféns dos bandidos e dos abusos da polícia sem a fiscalização jornalística.
Minha solidariedade aos colegas que passaram momentos de terror ao serem intimidados sem garantias para exercer seu trabalho em segurança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário