quinta-feira, 18 de abril de 2019

As zonas de exclusão jornalística voltaram

Ao escrever sobre os problemas crônicos de ocupação desordenada do solo no Rio de Janeiro, escrevi sobre uma velha máxima da política, aquela de que não há espaços vazios e que por isso as milícias ocuparam na Muzema as lacunas deixadas pelo Estado. 

Enquanto escrevia sobre isso, equipes de jornalistas que acompanhavam o resgate dos corpos que estão embaixo dos escombros foram intimidados por homens suspeitos. Eles fotografaram os jornalistas e chegaram a seguir uma das equipes. 

Logo depois da morte do jornalista Tim Lopes, em 2002, as redações do Rio de Janeiro deram a ordem de que os repórteres deveriam evitar entrar nas comunidades para que eles não corressem risco. Em 2008, tenta do fazer seu trabalho para tirar do julgo de bandidos a comunidade do Batan, uma equipe do Jornal O Dia foi espancado e torturada  por milicianos. 

Depois desses casos, a ilusão que representou a era das UPPs deu a falsa impressão que o estado tinha recuperado o controle dessas áreas. Tudo não passou de uma quimera. 

O que mostra o episódio da Muzema é que o estado voltou a ter zonas de exclusão. E nelas impera o estado paralelo. Infelizmente, os repórteres correm um sério risco se continuarem cobrindo o resgate dos corpos na favela. 

E o discurso do “prendo e arrebento” que alavancou a vitória de Wilson Witzel já está se mostrando ineficaz. A política de segurança da nova ordem produziu um músico morto com 80 tiros quando ia para um chá de bebê. E agora, a intimidação dos jornalistas. 

As comunidades são os mais prejudicados se os repórteres não puderem mais entrar nessas zonas de exclusão. Pois passarão a ser reféns dos bandidos e dos abusos da polícia sem a fiscalização jornalística. 

Minha solidariedade aos colegas que passaram momentos de terror ao serem intimidados sem garantias para exercer seu trabalho em segurança. 


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