segunda-feira, 1 de abril de 2019

Em defesa da formação acadêmica do jornalista

Estava numa palestra e ouvi de uma pessoa que trabalha na área que não é necessário ser jornalista para fazer jornalismo. A despeito de reconhecer a importância do trabalho que ela desenvolve, acho que esse tipo de afirmação é danosa não só para a profissão de jornalista, o que a primeira vista pode parecer corporativismo, mas para a sociedade como um todo. 

A grande praga de nossa época são as notícias falsas. Elas elegem presidentes, acabam com amizades e deixam os laços familiares comprometidos. E nesse desprezo pela formação acadêmica do jornalista reside a força que essa erva daninha tem nos nossos dias. 

Num resumo bem básico seguem algumas explicações. Por fatores econômicos, os veículos de comunicação tradicional começaram a terceirizar a produção de conteúdo. Foram surgindo seções como “Eu-Repórter”, “Você faz a pauta” e que tais. Para suprir a mão de obra dispensada em seguidas demissões em massa, o conteúdo do ouvinte/leitor/telespectador foi ganhando cada vez mais relevância. 

Num determinado momento, esses novos produtores de conteúdo foram ganhando o poder de formar e informar suas próprias redes. Com o tempo, dispensaram a intermediação dos veículos tradicionais. O monstro estava criado. Gestado no ventre das próprias empresas de comunicação. 

As mega-corporações de tecnologia da informação foram tomando conta das verbas publicitárias e possibilitando que cada célula produtora de conteúdo fosse minando a relevância dos veículos tradicionais.   

E tudo temperado no raciocínio de que “o seu trabalho é muito fácil e por isso eu posso fazer”. E assim as redes sociais tem”sociólogos”, “juristas”, “jornalistas” e muitas outras “profissões”. Os historiadores de Facebook acreditam num “nazismo de esquerda”, na “mamadeira de piroca” “, no “kit gay” e coisas assim. 

Esse pensamento sai da vida virtual e se materializa nas pessoas despreparadas que se acham capazes de preencher com silicone glúteos, seios e maçãs do rosto sem passar por uma preparação técnica para tais procedimentos. 

A prática jornalística é para profissionais formados em faculdades. Pessoas que passam pelos bancos das universidades e aprendem a parte prática do que é lead, sub-lead, manchetes, suítes e outros detalhes técnicos. No entanto, para não serem meros “apertadores de botão” existe o curso superior em jornalismo. 

Como todo respeito aos cursos técnicos, até porque sou oriundo do Cefet, mas a universidade forma pensadores em comunicação que vão dar massa crítica ao jornalismo. Então, acho uma declaração infeliz dizer que não é necessário fazer a faculdade de jornalismo para ser jornalista. 

Para finalizar vou recorrer a uma história que vi num filme infantil. O Síndrome, vilão do desenho “Os Incríveis” tinha o plano maquiavélico de fabricar armas que simulassem os poderes dos super-heróis. Ele dizia que “quando todo mundo tiver os poderes dos super-heróis, não haverá mais super-heróis”. Quando se tenta esvaziar a imporatnacia da formação universitária do jornalista é exatamente o movimento de nivelar por baixo a profissão e desta forma acabar com o que poderia ser o salto de qualidade do próprio jornalismo. 

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