domingo, 14 de abril de 2019

O dial sem a Rádio Globo?

O que mais se comenta na minha bolha são os textos do Anderson Cheni, no blog Cheni em Campo, e do Robson Aldir, no site SRZD, sobre o suposto fim da Rádio Globo e a também suposta mudança de nome da CBN. Segundo os jornalistas, o dial 98,1 viraria Rádio Multishow e a CBN se transformaria em Rádio Globonews. 

Se essas informações forem verdadeiras, gostaria de tratar as supostas mudanças da Globo primeiro. O que motivou a mudança da programação da emissora foi a falta de resultados financeiros. Nunca foi o número de ouvintes, mas sim o que o mercado publicitário chama de “qualificação” desse ouvinte. Em números de 2016, mais de 70% dos ouvintes da Globo tinham acima de 50 anos. Por mais que o “mercado” queira se dizer inclusivo e os tempos sejam mais democráticos, pense nas propagandas que aparecem na TV. Conte quantas pessoas acima de 50 anos aparecem. Me veio à cabeça o anúncio da cerveja Itaipava. Fora Lulu Santos, um jovial sexagenário, procure mais pessoas dessa faixa etária na propaganda. Esse pequeno exemplo pode explicar o problema de ter um público mais velho. 

As manhãs da Rádio Globo até dezembro de 2016 eram campeãs de audiência. Das 6h ao meio-dia a trinca Antônio Carlos-Padre Marcelo - Canazio dava à emissora a liderança da praça Rio de Janeiro. A grande queixa do departamento comercial é que a partir de meio-dia a audiência caia muito e eles não conseguiam vender nesses horários. E a reclamação sempre foi: “o público da Globo é grande, mas pouco atraente para o mercado publicitário”. 

Não adianta o que a massa de admiradores de rádio possa pensar. O mercado publicitário é o convidado de honra dessa festa. Um amigo congolês me ensinou um ditado de sua terra que adoro repetir: “a mão que paga é a mão que governa”. E nos anos 1930 o Brasil poderia ter escolhido outra mão “para pagar”. Roquette-Pinto, o pai do rádio brasileiro, defendia um modelo de financiamento público. Ou seja, as pessoas pagariam uma taxa para manter o serviço de radiodifusão. Seria uma forma parecida com a da BBC britânica. Desse jeito, o público poderia ter mais ingerência no conteúdo das rádios. No entanto, Roquette-Pinto perdeu essa batalha. O modelo de financiamento pela publicidade foi adotado e desde então o “deus-mercado” determina as cartas. 

Apesar das altas audiências, as manhãs da Globo não foram suficientes para financiar a emissora. O envelhecimento da audiência e a queda nas receitas levaram os gestores à decisão de reformular totalmente a programação. A orientação de quem chegou era essa. 

O mundo corporativo tem dessas coisas: “vamos pensar fora da caixa” talvez seja o mantra da vez. Investiu-se no marketing, que proporcionalmente, chegou a ter mais gente do que a produção. O conteúdo que ia ao ar começou a ser pensado por pessoas que nunca tinham trabalhado no veículo. 

No entanto, tantas pessoas do marketing deveriam ter pensado numa coisa. São mais de 70 anos de uma marca presente no cotidiano das pessoas. Rádio é hábito, logo, o nome Rádio Globo tem quase um peso sagrado. O melhor caminho para mudança tão radical seria mudar o nome da emissora logo. O que entrou no ar é completamente diferente do que era antes. Mudar o nome da Rádio Globo agora seria a admissão do fracasso do projeto Nova Rádio Globo, mas pode ser a solução para salvar a empresa. É a história de deixar irem os anéis para preservar os dedos. A Rádio Globo já tinha acabado, só não houve coragem para enterrá-la. Para que a mudança dê certo, tem que combinar com o público e com o mercado publicitário. 

Se a CBN virar Rádio Globonews atende perfeitamente à lógica de sinergia necessária às empresas diante da nova realidade. Faz sentido corporativamente falando. Talvez seja, inclusive, a correção de um erro de origem na fundação do Grupo Globo: Empresas independentes que pouco conversam. 


As notas não falam dos canais de áudio. Esses poderiam ser transferidos para a Som Livre. Diante do encolhimento após seguidos cortes, parece fazer pouco sentido manter o Sistema Globo de Rádio como empresa independente. 

Um comentário:

  1. Quem entende minimamente de rádio e mercado sabia que o que fizeram foi de um desconhecimento de causa gritante.

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