terça-feira, 16 de abril de 2019

Rádios que mudam de nome

O ano de 2019 vai marcar uma efeméride que pouca gente ou ninguém vai comemorar. Em 1979, ou seja, há 40 anos, entrava no ar a Rádio Globo São Paulo*. Depois de uma transição de nomes, os 1100 AM ganharam o nome definitivo. 

Para contar essa história recorri à privilegiadíssima memória do radialista, professor e fundador da ONG Unnir, Marcus Aurélio de Carvalho. Ex-gerente da Globo SP, Marcus conta um pouco da saga: “Em 1º de Maio de 1952, o empresário Victor Costa fundou a Rádio Nacional de São Paulo. Ela tinha algumas ligações com a Rádio Nacional do Rio, mas era uma emissora independente fundada pela OVC, Organizações Victor Costa. Essa rádio recebeu muito investimento e lançou gente como Silvio Santos”. 

A década de 1960 marcou a forte expansão do grupo empresarial de Roberto Marinho. Em 1965, ano da inauguração da TV Globo, Marinho comprou a Rádio Nacional da OVC. O empresário carioca queria expandir seus negócios para a maior cidade do país. Em 1966, por exemplo,  ele adquiriu a TV Paulista, que só em 1968 passou a se chamar TV Globo. 

Marcus Aurélio continua a explicar: “Em 1967, mantendo o nome Nacional, pois era uma marca forte em São Paulo, a emissora atingiu a liderança da audiência na cidade. Em 1977 começou um processo de transição do nome da rádio. Primeiramente se chamou Rádio Nacional Globo. Em 1978, Rádio Globo Nacional e, em 1979, Rádio Globo, ou seja, para que o ouvinte soubesse que aquela Globo que estava surgindo era sequência da forte marca que era a Rádio Nacional de São Paulo”. 

Conto essa história para voltar ao tema que sacudiu o fim de semana de quem acompanha os bastidores radiofônicos, uma suposta mudança nos nomes da CBN e da Rádio Globo. Se os atuais gestores quiserem olhar para trás na hora de fazer alguma mudança, há esse exemplo dentro de casa. 

Se eles quisessem mudar o nome da CBN para Globonews, poderiam repetir o exemplo. Primeiramente a Rádio poderia se chamar CBN-Globonews, depois Globonews-CBN e por fim, Globonews. A junção das duas marcas não seria absurdo, pelo contrário, daria unidade. CBN e Globonews parecem duas irmãs filhas dos mesmos país com sobrenomes diferentes. Eu, como ouvinte, não veria problema desde que as características da CBN fossem conservadas. 

Rádio e Televisão são veículos diferentes, com tempo e modo de fazer distintos. Apenas um olhar superficial poderia supor que são o mesmo veículo. Vou dar um exemplo mínimo para explicar o que estou querendo dizer. Na locução de futebol pela TV há espaço para silêncios, na do rádio, não. A velocidade de quem narra na TV e no Rádio também é completamente diferente. 

A direção do SGR negou peremptoriamente o fim da CBN, mas no comunicado enviado aos funcionários, o diretor-geral do SGR deixa aberta a possibilidade de mudança na Rádio Globo:

“(...) não é novidade ou surpresa para ninguém que a Rádio Globo não tem atingido os resultados que esperávamos. Com isso, é natural que haja um questionamento nosso sobre o formato, o escopo e o conteúdo mais adequados. Portanto, nesse caso não posso dizer que não haverá mudanças mas é cedo para afirmar com clareza que mudanças podem ser essas que nos ajudem a virar o jogo(...)”. 

Como jornalistas, esses seres chatos, têm mania de interpretar textos, o comunicado nega o fim da CBN, mas não nega a mudança de nome, nem o deslocamento no organograma do Grupo Globo. 

Se ao fim desse processo, a fumaça virar fogo, os gestores do SGR poderão olhar o exemplo interno para mudar os nomes das emissoras. Uma coisa que escrevi domingo, reafirmo ao fim desse texto. O que vai ao ar nos 98,1 FM do Rio não é o que a população do Rio se acostumou a chamar por mais de 70 anos de Rádio Globo. Mudar o nome desse produto teria um peso muito mais simbólico do que pratico. Aquela Rádio Globo morreu, por uma escolha da direção, que aliás, tinha todo o direito de fazer a escolha. É nisso, eles foram bem sucedidos. Manter a marca com o conteúdo que vai ao ar é quase profanação. 

  • Há quem conteste esses 40 anos, por considerar que devem ser contados os 27 anos em que a rádio se chamou-a Nacional e dai seriam 67 e não 40 anos. O registro dessa discordância é dever do ofício. 


Um comentário:

  1. Só li verdades... concordo. É difícil explicar para os "saudosistas" que o rádio mudou. Digo isso no sentido de comunicar; formato. Na essência vai continuar sendo rádio, e isso tanto faz se é nos anos 70 ou 2000.

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