sábado, 6 de abril de 2019

Crivella, o morto-vivo

A política da cidade do Rio de Janeiro exige no momento que seja feito Jornalismo. O grifo em letra maiúscula é proposital. O indescritível Marcelo Crivella vai negociar com os vereadores para permanecer no cargo, após a abertura do processo de impeachment na Câmara municipal. 

A casa legislativa do município não tem exatamente um histórico ilibado, já sendo inclusive chamada de “gaiola de ouro ” tal a gama de privilégios que os vereadores tiveram ao longo dos anos. 

O obscurantista prefeito vai ter que sair da “bolha universal” (escrito assim até parece uma contradição em termos, mas nada mais restritivo que o ambiente da Igreja Universal). Ao sentar pra negociar, o que alcaide-ausente terá para oferecer?

Acho que a primeira coisa é saber quem dá as cartas em cada subprefeitura e região administrativa. Os secretários são poucos e por isso, visados. Nessas pequenas células de poder que Crivella vai agir para salvar o pescoço. 

O pior prefeito da história do Rio teve 14 votos contrários à abertura do processo de impeachment. Vai precisar de 18 para se salvar. Teoricamente, não é das tarefas mais complicadas conseguir 4 votos. Usando a caneta e a rearrumação dos cargos no segundo e terceiro escalões tem boas chances de êxito. 

A questão é, se continuar, Crivella, o ausente, vai se tornar Crivella, o morto-vivo. Será refém do mar de concessões que fará para continuar na cadeira. Então, neste momento entra o papel do jornalista. Esse sujeito chato, que coloca luz onde os políticos querem deixar escuro. 

Que trabalhos são desenvolvidos nesses órgãos? Estão funcionando? Serviços que são eficazes correm risco de paralisação por conta do “toma lá dá cá” que vai se seguir? Em que regiões da cidade atuam os vereadores que Crivella pretende cooptar? Essas são algumas das perguntas a serem respondidas até julho, data em que o pedido de impeachment deve entrar em votação. 

A verdade é que o eleitor do Rio saiu perdendo na eleição de 2016. Votou no candidato que julgou menos ruim e purga com um prefeito que abandonou a cidade. Não cuida das ruas, todas horrivelmente esburacadas, não cuida das pessoas, um caminhar pelas ruas do Centro mostra o aumento no número de moradores de rua,  não cuida dos aparelhos culturais... A lista  de “não cuida” é interminável. 

Num mundo ideal, Marcelo Crivella pediria para sair e agradeceria à Câmara de Vereadores por ter lhe mostrado a porta da rua. Mas como mundo ideal não existe, vai se apegar ao cargo e descer ao inferno para manter-se prefeito. Há 826 dias no cargo, os cariocas esperam que o prefeito comece a governar. Se for deposto, Marcelo Crivella pode entrar para a história da cidade do Rio como uma espécie de Viúva Porcina da política, “aquele que foi sem nunca ter sido”. Pensando bem, acho que ele nem precisa ser deposto para ganhar a alcunha. Crivella nunca foi prefeito do Rio, foi no máximo o bispo de uma super congregação da Universal. O pior é que nem dá para dizer bem feito para quem votou nele e se arrependeu. Pois, se o porre para elegê-lo foi dos incautos, a ressaca da vitória respinga em todos os moradores da cidade. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário