sábado, 10 de novembro de 2018

Gilberto Gil na PUC






Na terça-feira passada soube que Gilberto Gil encerraria o festival de Primavera da PUC. O evento é organizado pelos alunos desde 1999. Fiquei orgulhoso da iniciativa. Gilberto Gil é um dos maiores artistas de todos os tempos no Brasil. Ter a ideia de chamá-lo e conseguir foi um grande feito. Mostra a disposição desta galera. Daqui a alguns anos, esses jovens combatentes e militantes darão segmento às batalhas por justiça social e um Brasil melhor. E esse caminho passa inevitavelmente pela arte. 

Tal qual uma ancestralidade religiosa, Gil é da linhagem direta de Dorival Caymmi. O co-fundador da Tropicália usa de sua baianidade para tornar-se universal. O som dos acordes de uma canção “gilbertogiliana” ensina que a resistência não precisa ser estridente e nem a arte precisa ser hermética para ganhar este rótulo. 

A simplicidade, a sabedoria e a arte se encontram numa expressão: “aquele abraço”. Em duas palavras misturam-se empatia, ironia e protesto. Gilberto Gil está no Olimpo dos músicos brasileiros. 

São muitos os exemplos de artistas que o Olimpo não retira a humanidade, Gil é um deles. Subiu ao palco empunhando sua guitarra. Estava sozinho, o que não impediu a intensidade do encontro com a plateia, pelo contrário, até aumentou. O cantor vestia roupa branca, o que suscitou o comentário de um rapaz ao meu lado: “viu, nós da macumba estamos de branco”. É isso, Gil é tolerância e religiosidade. 

Confesso que vi o show com os olhos embaçados pelas lágrimas. Chorei da primeira à última música. Foi comovente vê-lo tocar para um público que em sua esmagadora maioria era composto por pessoas com idade de serem netos dele. 

Gil, uma guitarra e centenas de palmas para ritmar as canções. O eterno baiano colocou os meninos para cantar, dançar e  encher o ginásio da universidade de alegria. 

Minhas lágrimas não foram apenas pela música de Gil. Chorei pelo conjunto do que assisti. Jovens desfilando o guarda-roupa, a sexualidade e a atitude política. Irmanados por um profundo sentimento de respeito a um artista que antes deles trilhou um caminho de lutas pela liberdade de poder se expressar. 

Gil, um bisavô, de 76 anos, enchendo de juventude os jovens. Inspirando pelo exemplo e deixando claro sua receita. No intervalo de uma das canções, o menestrel nagô revelou um desejo: “Que a vida continue a estimular o menino que há em mim”. 

Que o menino que há  em mim continue a estimular a procurar exemplos como o de Gil. Envelhecer apenas por fora, posto que é inevitável, mas manter a mente jovem, libertária e sonhadora. Não inventaram um jeito melhor de viver a vida do que inventar a vida, compondo a melodia que siga o compasso do coração. 

Obrigado Gilberto Gil, por me fazer cantar, por me fazer chorar e por me perceber menino. 


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