quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Há seis meses, um infarto

Hoje faz seis meses que tive um infarto. Sou muito atento às datas, então é mais fácil entender porque passei a ver todo dia 7 como mais um grão na ampulheta. Há seis meses o árbitro mandou levantar a placa dos acréscimos na beira do campo. A diferença é que conto com a boa vontade da equipe de arbitragem para virar o jogo. 

Nesses seis meses de novo aniversário há coisas a comemorar e outras para refletir melhor. Vamos às boas: já subi as escadas do edifício Cardeal Leme, na PUC. Isso é um marco importante para mim, pois foi depois de encará-las que passei mal. Não entrei mais no bar dos funcionários para comer o “saudável” sanduíche de linguiça com queijo prato. 

Melhorei meu nível de atividade física. Isso é ótimo. Somente por esse motivo me  foi possível subir as escadas e não perder o fôlego. Ponto para mim. Para refletir é o problema de sempre: a alimentação. Não consegui ainda me libertar de todas as armadilhas gastronômicas. Como menos do que antes, mas ainda não consegui ter a consciência alimentar necessária. Levo broncas da minha mulher e da minha filha por causa disso. 

Dei um tempo com bebidas alcoólicas. Há alguns meses, por me sentir todo pimpão, dei-me ao luxo de tomar um pileque. O triste resultado foi parar no hospital com a pressão 18x9. Foi um sustaço. Quem acompanha este escriba sabe que minha bebida preferida é Fanta Uva. Então, diminuir, ou até mesmo eliminar a cerveja, não é o maio desafio do mundo. 

Nesses seis meses ganhei um “cardlife”. É um papelzinho na carteira com as minhas informações e o contato da minha mulher. Vai que eu passe mal na rua. Alguém precisa avisar....

Sim, nesses seis meses redefini as configurações de imortalidade. Já não há ilusões a respeito dela, a certeza da inexistência da eternidade joga um balde de água fria na cara. 

Além da rotina de exercícios, ganhei uma coleção de remédios para tomar. São 5 para os mais variados problemas. Eles mantêm meu colesterol em níveis aceitáveis e minha pressão como a de um menino de 12 anos. Em compensação, a dificuldade em decorar os horários e os nomes denota a passagem do tempo. 

Além disso, tenho que guardar as caixas. Não consigo guardar os nomes. Acho que meu HD está com uma falha de memória seletiva. A verdade é que não há jeito de fazer com que os nomes entrem na minha cabeça. Apenas um ficou guardado. 

Fui à drogaria comprar minha farmacopeia. Na hora de comprar um dos remédios, tive que dar meu nome para cadastrar no laboratório e assim conseguir um desconto de 23% (amigos, remédios para não morrer estão pela hora da morte). O remédio se chama Crestor. 

A vendedora pergunta o meu nome, então comecei a soletrar C-R-E-S ... Fui interrompido: “o nome do remédio eu sei, preciso do seu”. Ri, e disse: “o remédio é Crestor, mas o meu é Creso”. A moça ficou muito sem graça, pediu desculpas e terminou o cadastro. 


Se não for para mais nada, sobreviver ao infarto me possibilitou tornar um remédio que é parecido com meu nome. Ah, ele serve para controlar meu colesterol, mas não se trata de jabá, é só informação mesmo.

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