sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A jabo(u)ticaba e o coturno

A jaboticaba, ou jabuticaba é fruto da jaboticabeira ou jabuticabeira , árvore nativa da mata atlântica brasileira da família das miráceas. Houve uma recente mudança na nomenclatura botânica e por esse motivo há divergência se ela pertence a espécie Myrciaria clauriflora, Plinia trincoflora, ou Plinia clauriflora. 

Se não conseguirmos definir a grafia certa da fruta, nem mesmo a sua espécie como podemos definir os rumos que a nossa política vai tomar. O general Mourão chamou o décimo terceiro salário de jabo(u)ticaba, que atrapalha os empresários brasileiros.

O general canta a música das sereias para os empresários, mas como tem a sutileza de um coturno nos pés de uma bailarina, ignora que esse tipo de declaração acaba sendo um tiro no pé em época eleitoral. O capitão que não entende de economia, mas entende de voto, se apressou para tentar corrigir o erro de mira do vice para não acabar abatido antes de 7 de outubro. 

O brigadeiro Eduardo Gomes, candidato em 1945, fez um discurso dizendo que não precisava dos votos da “malta ”. Jornalista, este bicho chato, pesquisou no dicionário e descobriu que um dos significados de malta era o “conjunto de trabalhadores que percorrem ferrovias levando marmitas”. Resultado, um jornal estampou que o brigadeiro não queria voto dos marmiteiros. Gomes perdeu a eleição. 

A possibilidade de chegar ao poder parece ter deixado o general Mourão  no “ouriço” (expressão da minha adolescência para definir alguém como excitado). E na jabo(u)ticaba da política brasileira podemos ter um quadro em que um capitão vai chefiar um general. Opa! O general já avisou que um general não recebe ordens de um capitão. 

Bolsonaro se meteu numa encrenca que no mundo corporativo os gestores evitam. Determina uma regra silenciosa nas empresas: não contrate alguém que você não pode demitir. A incontinência verbal do general Mourão mostra que no caso de uma vitória bolsonarista, o Palácio do Planalto e o Palácio do Jaburu serão dois bunkers em que os ocupantes viverão em conflito. 

E como na indefinição da espécie a qual pertence a jabo(u)ticaba, temos no general Mourão uma certa indefinição. Faz uma exortação ao regime militar, mas tem uma visão privatista, algo impensável na ditadura. Mourão é também uma jabo(u)ticaba, seria um vice com arroubos ditatoriais, em que um “auto-golpe” não está descartado para combater a anarquia, mas um liberal, que quer diminuir os benefícios dos trabalhadores em favor da “mão invisível do mercado”. 


E coitada da jabo(u)ticaba. De fruta preferida de Pedrinho e Narizinho no Sitio do Pica-Pau Amarelo, foi cair na boca de um general. Em vez do sabor doce da fruta genuína virou símbolo de algo ruim. Mourão mostrou que tem pouca identificação com o que é o povo. Primeiro falou da “indolência” de índios e negros, depois da incompetência de mães e avós para levar uma família sem homens, agora ataca o décimo terceiro. Eu prefiro a jabo(u)ticaba. Espero que o senhor vá para casa, general. 

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