sábado, 15 de setembro de 2018

Liberdade X Segurança - o Fla-Flu do momento no mundo


Na guerra entre a liberdade e a segurança, a  preferência pela segunda vem ganhando de goleada na sociedade. Talvez seja esse o sintoma representado pela candidatura de  Jair Bolsonaro. Esse fenômeno não é exclusividade do Brasil. Um modelo que traduz essa realidade é o da Rússia de Vladimir Putin, um governo forte, que mantém a economia ajustada e a sociedade controlada. 

Nesta sexta-feira, o Instituto de Segurança Pública divulgou os índices de criminalidade no Rio. Na comparação entre agosto de 2018 e agosto de 2017 houve quedas importantes em vários tipos de crime. O roubo de carga, por exemplo, registrou diminuição de 20%. Os roubos de carro e a transeuntes também caíram bastante. 

Em contrapartida, o número de autos de resistência aumentou 150% em agosto deste ano em relação ao mesmo mês do ano passado. Para quem não liga o nome à pessoa, auto de resistência é morte em confrontos com a polícia. 

Diante da onda conservadora que varre o mundo, o aumento no número das mortes em confrontos com a polícia será comemorado por muita gente. É a ideologia do “bandido bom é bandido morto” ganhando cada vez mais força. 

É importante ressaltar que para quem acredita nesta forma de agir, a intervenção federal do Exército na área de segurança do Rio é um sucesso, afinal, diminuir os índices de violência e aumentar o número de mortes de suspeitos é tudo que este Brasil do medo e do ódio acredita ser a equação ideal. 

A leva de refugiadas, o crescimento da desigualdade social e do abismo entre despossuídos e quem tem só aumentam  a valorização da segurança em relação ao conceito de liberdade. 

A liberdade era o ideário da população mundial após a Segunda Grande Guerra. Tanto é que no confronto que se seguiu, a Guerra Fria, os presidentes dos EUA se denominavam “lideres do mundo livre”. Nos anos 1960, a juventude  pregava o “amor livre”. 

No Brasil os opositores da ditadura queriam liberdade. Era a época do “é proibido proibir”. No entanto, meio século depois, a sociedade não dá mais o mesmo valor para este bem. Por isso, o discurso da ordem é tão sedutor, mesmo que para a obtenção desta ordem, a sociedade abdique da liberdade.  

Fazendo um recorte para o Brasil, talvez o confronto não se restrinja em direita e esquerda. Para entender o que acontece por aqui, devemos  colocar em perspectiva que a disputa é entre os que defendem a primazia da liberdade e os que acreditam que o primordial para a sociedade seja a ordem e a segurança. 

Isso explica a onda saudosista de alguns setores pela ditadura militar. Para essas pessoas, a censura aos meios de comunicação, o fim do habeas corpus e as torturas nos porões eram efeitos colaterais, pois o princípio da ordem era mantido. 

No entanto, essa ordem toda não era exatamente “ordenada”. Uma leitura nos livros de história nos mostra que Costa e Silva desferiu dois golpes. O primeiro ao emparedar Castelo Branco e praticamente obrigá-lo a interromper seu governo. O outro aconteceu ao decretar o AI-5. Mais tarde, em 1977, o ministro Silvio Frota tentou fazer com Geisel o que Costa e Silva fizera com Castelo. Não conseguiu. A bomba no Riocentro e no atentado da OAB mostram que no interior do regime havia desordem. 

Então em nome da ordem, vamos condenar o aborto e as pesquisas com células-tronco. Pela ordem vamos diminuir a maioridade penal, permitir a compra de armas e matar os bandidos, afinal “direitos humanos são para humanos direitos”. E por fim, vamos louvar a deusa meritocracia.

O discurso da ordem acima de tudo é o discurso do medo. A liberdade representa a esperança. E enquanto clamamos pela ordem, comemoramos a diminuição nos números de crime e o aumento da quantidade de mortes em confrontos com a polícia, os assassinatos de Marielle e Anderson completam seis meses sem esclarecimentos. Mas Marielle talvez representasse desordem demais. Negra, lésbica, pobre e mulher. Ainda por cima, resolveu se insurgir contra o papel que lhe fora destinado. Então, o crime contra ela não precisa de solução. Será seguro saber quem matou?


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