sexta-feira, 14 de setembro de 2018

O dia em que caí do palanque

O texto desta sexta-feira fecha uma conta redonda. Desde o dia 30 de setembro de 2017 até esta data foram 300 posts do blog do Creso. No meio do caminho houve o ingresso no mestrado, criação de podcasts e um infarto. 

Guardei a história de hoje para uma efeméride. Como estamos em ano eleitoral e no meio de uma campanha encarniçada, resolvi compartilhar um “clássico” da minha “antologia”. Quem já teve aula comigo conhece a história. Mas mesmo assim, gosto de rememorá-la. 

Dia primeiro de agosto de 2002. Por volta das 12h30m, recebo um telefonema da minha querida amiga Carolina Morand, aniversariante do dia: “Creso, gostaria de saber se você poderia trocar de horário comigo amanhã. Quero tomar um chopp, só que tem comício do Garotinho na Cinelândia”. Respondi a Carol que não haveria problema algum na troca. Ela aproveitou e me chamou para a comemoração. 

Então, na sexta-feira 2 de agosto, pude acordar mais tarde. Entraria para cobrir o comício de Garotinho e Rosinha no Centro do Rio. Ele concorria à presidência. A mulher disputava o Palácio Guanabara. 

Como diz meu amigo Luciano Garrido, missa se espera na igreja. O evento estava marcado para 17h, no entanto, fui por volta das 15h para a Cinelândia. Queria sentir o clima, contar os ônibus e tentar apurar o que os militantes tinham recebido para se deslocar de cidades distantes. 

Por volta das 17h, fomos liberados para subir no palanque. Neste momento, a primeira encrenca: alguém da organização tirou o. guarda-corpo da escada que dava acesso ao tablado. A decisão quase provoca um acidente antes de começar o evento. 

É preciso entender o contexto em que aquele comício acontecia. Anthony Garotinho saíra do Palácio Guanabara com uma popularidade por volta dos 70%. Lançou a mulher candidata e no final daquela campanha a elegeu no primeiro turno. 

O palanque de Garotinho era fortíssimo no estado do Rio de Janeiro. A chapa que elegeu Rosinha trazia, por exemplo, Sérgio Cabral como candidato ao Senado. Logo, o palanque estava muito cheio. 

Eu e a repórter Simone Lamin estávamos escalados pela CBN. Eu cuidaria de Antony Garotinho, e ela, de Rosinha. Como já disse, o palanque estava super povoado. Todos querendo sair em fotos ao lado do candidato do PSB. 

Depois de ouvir varios discursos me preparava para consolidar a matéria. Garotinho tinha feito declarações fortes sobre o presidente Fernando Henrique. Honestamente, não era nada novo, mas já valeria a reportagem. 

O palanque estava lotado de cabos eleitorais, papagaios de piratas, puxa-sacos e políticos (se for possível fazer uma distinção entre essas figuras). Em determinado momento, a repórter Luciana Nunes Leal, do Estado de São Paulo, dirigiu-se a mim e falou: “Esse palanque está muito cheio, já pensou se cai”? Seu temor se transformou em realidade poucos segundos depois...

Um forte barulho, seguido pela queda típica de um daqueles brinquedos de parque de diversões. Só que no momento não foi nada divertido. Uma cena rápida, que no entanto pelo inusitado, não sai da minha cabeça 16 anos depois. 

Cai embaixo da parte não desabada do palanque. Levantei correndo e liguei para a rádio ainda das escadas do Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara de Vereadores. Esbaforido, com poucas informações entrei no ar. Lembro exatamente da hora. Eram 20h02m, pois esperei acabar A Voz do Brasil. No meio do flash, Rosinha passou desmaiada, carregada por assessores, o que só aumentava a angústia. 

Logo depois de entrar no ar, encontrei a Lamin. Ela me deu um abraço e estava assustada. Perguntei se também caíra, ela me disse que não. Antes de me encontrar, Simone ficou nervosa. Ligou para o nosso chefe Mauro Silveira preocupada. Disse que eu tinha caído e que estava com medo que eu tivesse me machucado. Ele a tranquilizou, explicando que eu já tinha até entrado no ar. 

Vítima da queda, minha querida Fernanda Galvão machucou o braço. Eu fiquei com inchaço no joelho por alguns dias. Naquela confusão, uma das reações mais inusitadas foi a do ex-prefeito Luíz Paulo Conde. Ele era candidato a vice na chapa de Rosinha. Rindo, Conde disse que aquele poderia ser o comício da virada na campanha de Garotinho à presidência   

Passado tanto tempo, o episódio serve para dar boas risadas e fazer chantagem emocional com a Carolina Morand. Serviu também para eu fazer um exame de imagem e descobrir uma lesão entre a sacra e a lombar, que eventualmente ainda me incomoda. Caí do palanque, mas a consequência mais grave para a coluna veio dois anos depois. Dei um espirro e travei por duas semanas. 

Ah, sabe quem estava do meu lado na redação quando eu travei a coluna? A Simone Lamim... . 

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