sábado, 22 de setembro de 2018

Anitta e #ELENÃO


Vamos pensar que Anitta é antes de tudo um produto. Ela constrói uma marca há anos. Quem pensava que ela seria uma “funkeira” de um sucesso solitário e carreira meteórica, enganou-se redondamente. Nesse tempo, Anitta já cantou na abertura dos Jogos Olímpicos, no Rock’n Rio Lisboa e participou da versão mexicana do The Voice. 

Anitta não se posicionar politicamente faz parte desta estratégica. Pode decepcionar os fãs na comunidade LGBTQ, mas ela mira públicos mais ecléticos. Um exemplo disso foi sua participação num dos episódios do The Voice Brasil. A cantora interpretou um sucesso internacional, a melosa “Take Look at Me Now”, de Phil Collins. 

Na ocasião da morte de Marielle, Anitta já havia demorado a se manifestar diante da justa comoção provocada nas redes. A exemplo do que aconteceu agora, só falou alguma coisa depois de pressionada. 

Podemos trazer para a discussão outro personagem: Roberto Carlos. Ele também não se posiciona. Em alguns momentos dá pistas de que lado está. No governo Sarney gravou uma inacreditável canção chamada “Verde Amarelo” que deixaria Don e Ravel de “Eu te amo meu Brasil” com inveja. 

Meus ídolos se manifestam. Chico Buarque e Caetano Veloso nunca deixam de se posicionar. Essa é a forma de atuação deles. Na formação de suas personalidades artísticas junto ao público, nos anos 1960, não se posicionar os teria condenado ao limbo. No entanto, naquela época, o inimigo era bem definido. 

Hoje em dia, a identidade do inimigo depende do lado que você está. Tudo é polarizado. A julgar pelas simulações de segundo turno, o Brasil tem uma linha divisória. Se para a comunidade LGBTQ, Bolsonaro é um inimigo, há quem ache que o petismo é tão ruim quanto. 

Em virtude dessas pessoas, o produto chamado Anitta, assim como o produto chamado Roberto Carlos vão evitar se pronunciar. Eles querem números e cada vez mais fãs. Roberto. Carlos no começo dos anos 1970 começou o movimento para deixar de ser o Rei do iê-iê-iê e se tornar o Rei da Música Popular. Assim conseguiu vendas expressivas e se transformou no o que é hoje no imaginário brasileiro. 

O pink money (outro nome para as receitas do mercado LGBTQ) é importante , mas para se tornar uma marca internacional e duradoura, Anitta terá  quer expandir seu público. Então, o máximo que os fãs vão conseguir é a declaração genérica “não voto em machista e homofóbico”. Mais, ela não dirá. Ao acabar a corrida eleitoral, ela vai querer  democraticamente que eleitores de Haddad, Bolsonaro, Ciro ou Guilherme Boulos continuem a clicar nos seus vídeos e a comprar ingressos para seus shows. 

Talvez esteja na hora de uma reflexão sobre se é possível diferenciar a obra do artista e sua atuação enquanto integrante da sociedade. Toda generalização é perigosa. Das diversas questões sem resposta que minha alma carrega, essa é uma delas. Tem gente que eu admiro, que vota diferente de mim e eu relevo. Há outros que eu não gosto e que o fato de ter um candidato diferente do meu só reforça a antipatia. 

Acho que Anitta tem direito de não se manifestar. Também acho que ela pagará um preço por essa atitude. Todos nós pagamos algo por nossas escolhas. Como não sou artista e nem tenho pretensões à unanimidade, me posiciono: Bolsonaro é o fim. Homofóbico e espalhador da cultura do ódio, o capitão representa uma ameaça séria demais à democracia. Seu vice é ainda mais nocivo, quando tem ideias preconceituosas a respeito de negros, índios ou mulheres, por exemplo. No entanto, se eu quiser a pena de morte para quem pensa diferente de mim, estarei me igualando a tudo de ruim que penso de bolsonaristas e que tais. Espero que o obscurantismo e os arroubos totalitários saiam derrotados das urnas, pois o voto deveria ser o instrumento de decisão, não os tanques. 



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