quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Violência saiu das redes sociais para a vida real

Cinco de agosto de 1954. O jornalista Carlos Lacerda chegava em casa depois de uma reunião em que fora novamente incisivo nos ataques a Getúlio Vargas. Climerio Euribes, integrante da Guarda Pessoal de Getúlio, fez vários disparos e atingiu o major da Aeronáutica Rubens Vaz que, voluntariamente, fazia a segurança de Lacerda. O jornalista estava em campanha para deputado federal e recebera várias ameaças por causa da forma como se referia a Getúlio. Os tiros em Copacabana feriram de morte o governo Vargas. Getúlio se matou 19 dias depois. 

Seis de setembro de 2018. Jair Bolsonaro foi atacado durante ato de campanha em Juiz de Fora. Um homem lhe deu uma facada. O deputado chegou ao hospital com a pressão arterial a 8 por 3 e uma hemorragia interna para controlar, o que deixou sua vida em perigo. 

Os dois atentados separados por mais de 6 décadas se aproximam por uma característica: o acirramento das posições políticas no país. 

O atentado de Juiz de Fora embaralha ainda mais uma corrida presidencial que estava para lá de confusa, principalmente pela indefinição jurídica a respeito da candidatura do ex-presidente Lula. Agora, parece que o tempo parou na campanha. 

Bolsonaro foi vítima de um crime inadmissível para a democracia. Os mais ferrenhos opositores se juntaram para repudiar o atentado. Há especulações que ele só receberá alta em 8 dias. 

Ou seja, por motivos totalmente diferentes, os dois políticos mais populares da eleição estão afastados da disputa. Os dois com os movimentos cerceados. Se um lado do país vê em Lula um mártir político, Bolsonaro desponta como mártir da intolerância. 

O estado de saúde de Bolsonaro pode colocar em risco sua capacidade de correr atrás dos votos. Numa campanha curta, faltando menos de um mês pra o primeiro turno, o afastamento pode ser muito ruim. 

Como a corrida presidencial está mais emocionante do que qualquer trama televisiva, não seria absurdo que o General Mourão assumisse a cabeça da chapa e Bolsonaro, ao sair do hospital, se transformasse em seu maior cabo eleitoral. 

A semana não reservou boas notícias para o presidenciável. Descobriu que sua rejeição chegou a inviáveis 44% e que perdia no segundo turno para três dos quatro principais concorrentes e empatava com o outro. Além disso, a Procuradoria Geral da República pediu explicações ao deputado pela declaração de que iria “fuzilar a petralhada”. 

No primeiro turno das eleições de 2014, quando foi eleito o deputado mais votado do Rio, o entrevistei ao vivo na Rádio Globo. Perguntei se ele não achava que suas declarações poderiam incitar a violência contra os gays e as mulheres. Ele disse que não. 

O problema das declarações que incitam a violência é o efeito bumerangue delas. Essas ideias encontram terreno fértil em  pessoas desequilibradas como parece ser o criminoso que tentou matar Bolsonaro. E nesse mundo delirante em que “a Bíblia está acima da constituição”, existe um Deus para cada lado e ele justifica tudo. 

Parece que setembro resolveu roubar de agosto o título de mês de mau agouro. O ataque a Jair Bolsonaro em Juiz de Fora se junta ao incêndio do Museu Histórico da Quinta como os fatos que vão marcar o último quadrimestre de 2018. 


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