segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Michel Temer é culpado, mas não é o único

Jânio Quadros, João Goulart, Castello Branco, Costa e Silva, Medici, Geisel, Figueiredo, Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula, Dilma e Michael Temer. Esses cidadãos de uma forma ou de outra têm participação na tragédia que transformou em cinzas a história do Brasil. 

O maior museu do Brasil e 5º maior do mundo recebeu um presidente da República há mais de 50 anos, quando o presidente Juscelino Kubitscheck pisou em seus salões. 

Este abandono mostra como os governantes tratam nossa história. O Museu Nacional representava quatro coisas que são fundamentais para um país, mas que dão poucos votos: memória, cultura, educação e pesquisa. 

Uma nação que trata mal o seu passado jamais terá futuro. Quando não entendemos nossa origem, não conseguimos planejar onde queremos chegar. Esse desgoverno que usurpou o poder, usurpa agora a memória do Brasil. 

Mas é preciso fazer um mea culpa geral. Nós todos temos participação nesta tragédia. Quando não nos importamos enquanto algo poderia ser feito. Agora, chora-se. No entanto, não houve cobranças anteriores. Uma vaquinha organizado há pouco angariou 30 mil reais. É irrisório. 

Mas sejamos justos, o início deste texto é para lembrar que o atual governo é culpado, mas não pode ser apontado como o único. Tratar mal a cultura, ironicamente, faz parte da cultura de nossos governantes. 

Como um amante da história do Brasil, o fogo no Museu da Quinta arde na minha alma. Pensar que meus netos não vão conhecer os tesouros que ficavam guardados lá é desolador.

Minha filha de 12 anos ficou arrasada pela perda da Luzia, o fóssil humano mais antigo do Brasil. É tão evidente a causa do fogo, que mesmo tendo pouca idade ela cravou: isso tudo é culpa da corrupção. Roubaram tanto que não sobrou dinheiro para o Museu. Infelizmente, não tenho como contradizê-la. 

A entrevista do vice-diretor do Museu, Luiz Fernando Duarte, à Globonews foi assustadora. A instituição pedia há anos verbas para, entre outras coisas, fazer um sistema de prevenção de incêndios. Não havia dinheiro para isso pelos motivos que minha filha destacou, provavelmente. 

O fato cristalino que até uma criança de 12 anos percebe foi mostrado por uma reportagem da Globonews. Exibida em primeiro de maio, a matéria  denunciava que o estado de preservação do palácio era precário e que a destruição ocorrida no domingo era uma tragédia anunciada. 

O que se perde é incalculável. Não são apenas 200 anos de historia, ao pensar no acervo das múmias egípcias, por exemplo, a conta atinge milhares de anos. O compromisso com a cultura do país é abandonado governo após governo. 

O incêndio na Quinta é um triste símbolo de um período tenebroso da história deste país. Infelizmente, nada garante que este será o último. No meio de tudo, descobre-se que o último alvará dos bombeiros para o Museu tem mais de 10 anos. Durante anos, os visitantes estiveram expostos ao risco de estar numa visita e repentinamente começar um incêndio. 

Além dos presidentes citados no início deste texto, ministros da Educação e da Cultura nos últimos 60 anos deveriam ter os nomes escritos na lápide do que sobrou do Museu Nacional. 


Completando a tragédia, os bombeiros ficaram sem água durante um tempo para combater o incêndio. É um pesadelo que parece não ter fim. 

4 comentários:

  1. ótimo texto Creso como sempre, mas essa verdadeira catastrofe do incêndio do museu, como todas as outras não tem uma única causa, mas um conjunto de fatores. O jornal O Globo tem uma matéria ontem, expondo os números financeiros da UFRJ. Acho que o reitor e os demais dirigentes dessa Universidade deveriam vir a público, além de só reclamar de mais verbas, dizer o que é feito com o orçamento anual de 3,1 BILHÕES de reais. Qual a produção cientifica? Como está no ranking nacional e internacional das demais universidades? Os professores e funcionários cumprem a carga horária? Dos alunos que iniciam os cursos, quantos se formam?

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